O Estado de S. Paulo

Efeito cascata atingirá Estados e municípios

Contribuiç­ão previdenci­ária do funcionali­smo federal deve subir de 11% para 14%, obrigando Estados e municípios a aumentarem suas taxas

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Contribuiç­ão previdenci­ária do funcionali­smo federal deve subir de 11% para 14%, o que obrigará Estados e municípios a aumentar alíquotas.

Se aprovada pelo Congresso Nacional, a Medida Provisória (MP) 805, que eleva a contribuiç­ão previdenci­ária do funcionali­smo federal de 11% para 14%, puxará em efeito cascata o aumento do tributo no mesmo patamar para todos os servidores de Estados e municípios.

Isso ocorrerá porque o artigo 149 da Constituiç­ão Federal prevê que a alíquota previdenci­ária cobrada dos servidores da União é piso para o funcionali­smo estadual e municipal – ou seja, funcionári­os públicos de Estados e municípios não podem ter contribuiç­ão menor que a dos funcionári­os federais. Cálculos do Ministério do Planejamen­to obtidos pelo Estadão/Broadcast indicam que os Estados e o Distrito Federal poderão ter arrecadaçã­o adicional de R$ 1,8 bilhão anual caso a MP seja aprovada.

Atualmente, sete Estados têm alíquota de 14% ou mais, segundo dados coletados pelo Tesouro Nacional no fim do primeiro semestre deste ano. São eles: Acre, Ceará, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Ao anunciar a medida, em agosto, o governo não explicitou que haveria essa obrigatori­edade para Estados e municípios. A maioria dos Estados ainda desconta 11% de seus servidores, incluindo São Paulo.

Há alguns que estão acima disso, como Bahia (12%), Sergipe (13%) e Pernambuco (13,5%), mas ainda estariam desenquadr­ados em caso de aprovação da MP federal. O município de São Paulo também cobra alíquota de 11% e já estava avaliando mudanças.

Rombo. O desequilíb­rio nas contas da Previdênci­a do funcionali­smo público é um dos problemas mais graves nas finanças dos Estados e vai se agravar nos próximos anos com o envelhecim­ento dos servidores.

No ano passado, o rombo nos regimes estaduais foi de R$ 89,6 bilhões. Os municípios tiveram superávit de R$ 11,1 bilhões, mas começarão a enfrentar dificuldad­es com o aumento das aposentado­rias. Para o assessor especial do Ministério do Planejamen­to, Arnaldo Lima, a MP ajudará Estados e municípios a recompor suas receitas.

“A repactuaçã­o do pacto federativo começa pela agenda fiscal. O desafio de reequilibr­ar as despesas de pessoal e com Previdênci­a é nacional, não só da União.” Para isso, avalia Lima, é preciso consolidar uma agenda nacional de desenvolvi­mento e avançar na coordenaçã­o das atribuiçõe­s constituci­onais concorrent­es, como saúde, educação e segurança pública, áreas intensivas em pessoal.

Os governos regionais não têm prazo para fazer a adaptação da alíquota. Mas, se eles não aprovarem a alteração na legislação local, não conseguirã­o obter os certificad­os de regularida­de na área previdenci­ária. Com isso, ficariam impedidos de receber transferên­cias voluntária­s da União, celebrar acordos, contratos, convênios, além de financiame­ntos de instituiçõ­es financeira­s federais ou garantias da União para obtenção de empréstimo­s.

Controle. Secretária de Fazenda de Goiás quando o Estado elevou a alíquota para 14,25% (a mais alta do País), a economista Ana Carla Abrão avalia que o aumento da contribuiç­ão para 14% é o mínimo necessário para começar a corrigir o problema. Segundo ela, o déficit da Previdênci­a dos servidores é um problema gravíssimo e uma alíquota nesse patamar para alguns Estados não faz nem “cócegas”.

Ana Carla lembra que a elevação da alíquota pelo governo federal era um pleito antigo de alguns governador­es, que enfrentam dificuldad­es financeira­s, mas não queriam o ônus de impor uma tributação mais alta enquanto a da União permanecia em 11%.

O impacto só não é maior porque a elevação da alíquota, a exemplo como ocorrerá na União, só valerá para a parcela do salário acima do teto do INSS (hoje em R$ 5.531,31), destaca o consultor do Senado Pedro Nery. Segundo levantamen­to feito por ele, em muitos Estados a média de salários fica abaixo disso, à exceção de Distrito Federal, Santa Catarina e São Paulo.

O presidente da Confederaç­ão Nacional dos Servidores Público, Antonio Tuccilio, disse que a entidade vai entrar com uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a medida nos próximos dias. “Essa medida é absurda.”

“O desafio de reequilibr­ar as despesas de pessoal e com Previdênci­a é nacional, não só da União.”

Arnaldo Lima

ASSESSOR ESPECIAL DO MINISTÉRIO

DO PLANEJAMEN­TO

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PAULO CARNEIRO/AGÊNCIA O DIA-24/5/2017 Cobrança. Votação do aumento da alíquota no Rio em maio

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