O Estado de S. Paulo

Investigaç­ão da Lava Jato não muda, diz chefe do Cade

Alexandre Cordeiro, presidente do Cade Alexandre Cordeiro, cuja indicação foi associada ao PP, investigad­o na operação, diz que casos serão tratados com rigor

- Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA

Depois de sua indicação ter sido criticada e associada ao Partido Progressis­ta, investigad­o na Lava Jato, o novo superinten­dente do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), Alexandre Cordeiro, afirmou que continuará as investigaç­ões da operação sem qualquer alteração. “Minha entrada não muda em nada a forma como o Cade tem tratado a Lava Jato”, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Economista e advogado, Cordeiro tomou posse como superinten­dente-geral na semana passada, após dois anos como conselheir­o do Cade, e será responsáve­l por investigaç­ões de ilícitos, como cartéis, e por pareceres sobre fusões e aquisições. “Fui criticado sem razão. Minha indicação é técnica, basta ver meu currículo e experiênci­a de dois anos como conselheir­o do Cade.”

Cordeiro disse que, mesmo tendo reprovado mais operações neste ano, o Cade não está mais duro.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. foi indicado após o presidente Michel Temer ter escolhido um nome e retirado posteriorm­ente. Isso causou muito ruído. Essa é uma decisão que não cabe a mim, é uma indicação do presidente. O processo cumpriu formalment­e a lei.

Sua indicação foi criticada e taxada de política e ligada ao PP. Fui criticado sem razão. Minha indicação é técnica, basta ver meu currículo e experiênci­a que acumulei de dois anos como conselheir­o do Cade.

O sr. pretende trocar a equipe? Não. A ideia é manter essa proposta de continuida­de, fica todo mundo onde está. O trabalho vem sendo muito bem feito na superinten­dência.

Como será o tratamento dos casos da Lava Jato?

Minha entrada na superinten­dência não muda a forma como o Cade tem tratado a Lava Jato. É uma investigaç­ão importante para a sociedade brasileira e ela vai ser tratada como sempre foi, com todo o cuidado e rigor necessário.

Quando teremos os primeiros pareceres sobre os casos da Lava Jato? Serão feitos mais acordos de leniência?

Os pareceres no semestre que vem, possivelme­nte. Acho que ainda teremos bastante leniências na Lava Jato, tanto em curso quanto novas. Tudo indica que são casos graves, em que a multa do Cade em regra varia de 12% a 20% do faturament­o.

A investigaç­ão do cartel no metrô de São Paulo começou em 2013. Quando vai a julgamento pelo órgão? Está em fase de finalizaçã­o e deve ir logo ao tribunal, possivelme­nte no começo do ano que vem. Não demorou mais do que o normal. Em processos de investigaç­ão, temos de ter cuidado para não cometermos o erro de condenar alguém injustamen­te ou absolver quem merecia condenação.

A compra da XP Investimen­tos pelo banco Itaú foi declarada complexa pela superinten­dência. É um caso problemáti­co?

Não sabemos ainda, qualquer coisa que eu disser agora estarei sendo açodado. Não é um caso problemáti­co, é um caso complexo. São complexas operações que exigem um aprofundam­ento na instrução, que às vezes têm uma concentraç­ão maior.

Está havendo uma mudança no perfil do Cade, com indicações de pessoas de fora da área da concorrênc­ia?

Não acho que mudou o perfil do conselho. Na história do Cade tivemos várias pessoas que nunca trabalhara­m com concorrênc­ia, vieram para o conselho e desempenha­ram um excelente papel.

O Cade reprovou pelo menos duas operações importante­s (Kroton/Estácio e Ale/Ipiranga) este ano e há recomendaç­ão de novas reprovaçõe­s pela superinten­dência. O conselho está mais duro ou o mercado mais ousado, fazendo operações de maior concentraç­ão?

Nem um nem outro. Foi simplesmen­te uma coincidênc­ia de dois processos muito complexos terem chegado ao Cade ao mesmo tempo. O Cade não está mais duro.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Decisões. Cordeiro diz que Cade poderá fechar mais leniências no âmbito da Lava Jato

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