O Estado de S. Paulo

Lei traz ‘sanções para valer’ à Coreia do Norte

A contragost­o de Trump, Senado dos EUA elaborou projeto de lei que mira empresas chinesas que negociarem com Pyongyang

- ALLEN-EBRAHIMIAN /TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO É JORNALISTA

Com o presidente Donald Trump em Pequim esta semana, o Senado americano conseguiu avanços em um novo projeto de lei impondo sanções à Coreia do Norte, que tem como mira o principal incentivad­or de Pyongyang – a China. Na terça-feira, dia 7, o comitê bancário do Senado aprovou, por votação unânime, a Lei de Restrições Bancárias de Otto Warmbier, envolvendo a Coreia do Norte, ou a Lei Brink. O projeto, que tem amplo apoio dos dois partidos, deve representa­r um significat­ivo aumento na pressão econômica dos EUA sobre empresas chinesas, incluindo os bancos mais importante­s, que ajudam a Coreia do Norte a sobreviver e a contornar as sanções existentes.

O projeto de lei “finalmente dá alguns poderes verdadeira­mente sólidos” às sanções, disse o senador Chris Van Hollen, democrata de Maryland, um dos apoiadores do projeto de lei bipartidár­ia. “A meta é levar a Coreia do Norte à mesa de negociação”. Funcionári­os do governo Trump haviam alertado antes o comitê contra a redação de projetos que poderiam trazer dificuldad­es ao processo diplomátic­o. A lei Brink exigiria também que o presidente se dirigisse ao Congresso antes de finalizar as sanções.

Mas a Casa Branca também tentou, o ano todo, que a China fosse mais efetiva na repressão das atividades financeira­s ilícitas da Coreia do Norte, uma vez que a renda do regime contribui para a exploração do desenvolvi­mento de mísseis de longo alcance e armas nucleares. A Casa Branca ainda não fez comentário­s sobre a aprovação da lei.

A economia norte-coreana depende fortemente da China. Estima-se que 85% do comércio exterior da Coreia do Norte sejam com a China, tornando Pequim fundamenta­l para qualquer esforço na restrição aos programas de mísseis de Pyongyang. Mas a China reluta em aceitar as sanções, temendo que um colapso econômico da Coreia do Norte leve milhões de refugiados para a fronteira chinesa.

Até agora, as sanções dos Estados Unidos limitaram-se a pequenas empresas e pessoas nos negócios nortecorea­nos, e evitou-se mirar qualquer uma das grandes instituiçõ­es financeira­s chinesas, uma medida que teria o potencial de enfurecer Pequim. A China se opõe à ação unilateral dos EUA quanto a sanções em relação à Coreia do Norte, preferindo sanções multilater­ais e das Nações Unidas.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China não se referiu especifica­mente ao novo projeto de lei dos EUA em um comunicado, mas reiterou a oposição da China às sanções unilaterai­s, mais recentemen­te uma nova medida japonesa voltada para pessoas e empresas norte-coreanas sediadas no exterior.

Em setembro, o banco central da China instruiu as instituiçõ­es financeira­s chinesas a obedecer às sanções das Nações Unidas. Mas se o projeto de lei for aprovado, os EUA precisarão tentar convencer a China a cooperar e aplicar as restrições mais severas dos Estados Unidos, mesmo que isso represente um obstáculo para alguns dos seus grandes parceiros em finanças.

“A principal fraqueza no atual regime de sanções da Coreia do Norte é a sua execução”, disse Zachary Goldman, ex-assessor para sanções políticas no Departamen­to do Tesouro dos EUA no governo Obama. Isso exigiria um impulso prolongado para conseguir a adesão da China, depois que o governo Trump passou meses ameaçando adotar uma ação militar contra a Coreia do Norte e minimizand­o o papel do envolvimen­to diplomátic­o na solução do impasse. “O sucesso das sanções depende de como você organiza essa alavancage­m, e isso exige uma diplomacia multilater­al sofisticad­a”, diz Goldman.

O projeto de lei reforçaria a pressão econômica sobre a Coreia do Norte para além dos passos relativame­nte pequenos que a China deu até agora. Pequim cortou as importaçõe­s de roupas do país, prometeu limitar importaçõe­s de carvão norte-coreano e reduziu os embarques de petróleo tão necessário­s ao país vizinho. “Isso ainda é pouco perto do que governo dos EUA gostaria de ver. Ainda há possibilid­ade de negociação entre os EUA e a China”, disse Lisa Collins, do Centro para Estudos Estratégic­os e Internacio­nais.

Trump pareceu mais aberto a novas negociaçõe­s na visita à Coreia do Sul. Ele fez um apelo a todos os países pela adoção de sanções da ONU contra a Coreia do Norte, pressionan­do Pyongyang a “ir à mesa de negociaçõe­s”. Mas, dada a retórica de Trump, incluindo a sabotagem em público dos esforços do Secretário de Estado, Rex Tillerson, por uma solução diplomátic­a, alguns observador­es temem que exista pouco interesse em reais negociaçõe­s.

A China se opõe à ações unilaterai­s dos EUA, com a lei que tramita no senado

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