O Estado de S. Paulo

Comissão dá aval à PEC que proíbe aborto

Em sessão tumultuada, vence proposta que pode restringir até interrupçõ­es legais da gravidez

- Lígia Formenti Daiene Cardoso / BRASÍLIA

A Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou ontem um texto que, na prática, pode levar à proibição de todas as formas de aborto no País, incluindo as hipóteses que atualmente são autorizada­s na legislação e livres de punição.

Em uma sessão tumultuada, venceu a proposta de alterar a Constituiç­ão para que o princípio da dignidade da pessoa humana e a garantia de inviolabil­idade do direito à vida passem a se respeitado­s desde a concepção e não, como é hoje, após o nascimento. A PEC havia sido apresentad­a originalme­nte para se discutir a ampliação da licença-maternidad­e em caso de bebês prematuros de 120 para 240 dias. O relator da proposta, Jorge Tadeu Mudalem (DEMSP), no entanto, sob influência da bancada evangélica, alterou o texto para incluir também as mudanças relacionad­as à interrupçã­o da gravidez.

STF. A mudança foi uma resposta à 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal que, em 2016, havia decidido não considerar crime a prática do aborto durante o primeiro trimestre de gestação, independen­temente da motivação da mulher.

A comissão foi instalada em dezembro. Entre os 35 membros titulares do colegiado, só seis são mulheres. Dos parlamenta­res integrante­s, quase um terço tem iniciativa­s para restringir o direito ao aborto legal.

O presidente da comissão especial, deputado Evandro Gussi (PV-SP), negou que o texto aprovado ontem coloque em risco as garantias hoje existentes. Atualmente, o aborto não é punido nos casos em que a gravidez é resultante do estupro ou quando represente ameaça à vida da gestante. “Hoje essas duas formas não são punidas e assim vai permanecer. O maior impacto do texto é impedir que o aborto seja descrimina­lizado”, disse Gussi.

A deputada Érika Kokay (PTDF), no entanto, tem avaliação diferente. “Impede a discussão da interrupçã­o da gravidez e traz, no mínimo, inseguranç­a jurídica para os casos já permitidos no Código Penal”, afirmou.

Foi aprovado apenas o texto principal. Na próxima semana, será a vez de a comissão especial votar os destaques. Dentre as propostas que deverão ser avaliadas está a de suprimir justamente o trecho que determina o respeito à vida desde a concepção. Uma vez avaliados os destaques, o texto fica disponível para o plenário da Casa, onde precisará de 308 votos para ser aprovado, em dois turnos.

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LUIS MACEDO/CAMARA DOS DEPUTADOS Sessão. Mudança foi resposta à decisão do STF em 2016

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