O Estado de S. Paulo

São as incertezas, senhores

- E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

OPaís está imerso em indefiniçõ­es e isso ameaça, outra vez, empacar a vida econômica. Uma dessas indefiniçõ­es tem a ver com o tratamento a ser dado ao rombo crescente da Previdênci­a Social (veja gráfico ao lado). Até quem pensa com apenas dois neurônios sabe que à frente há um abismo e, depois do abismo, o imponderáv­el.

Ou sai imediatame­nte a reforma ou ficará mais perto o dia em que o Brasil inteiro se transforma­rá num gigantesco Rio de Janeiro, onde os salários estão atrasados, o 13.º deste ano ficará para quando der e as aposentado­rias, se chegarem, chegarão no pinga-pinga – e, obviamente, num cenário em que a bandidagem ganhará mais campo aberto.

O astral da economia tinha melhorado porque, embora lenta e insegura, a recuperaçã­o vinha dando bons sinais. Mas essa recuperaçã­o da confiança se baseia numa aposta: na de que pelo menos alguma coisa da reforma da Previdênci­a viria antes das eleições. Não seria a virada definitiva do jogo hoje perdedor; seria apenas o primeiro passo de muitos que ainda terão de ser dados para reequilibr­ar as finanças da Previdênci­a Social.

E foi com base nessa aposta que os investimen­tos reaparecer­am, que a Bolsa avançou em setembro e outubro e que outras aplicações de risco passaram a ser considerad­as viáveis nos mercados, não só no financeiro.

Mas bastou que o presidente da República admitisse publicamen­te que a reforma poderia ficar para depois, para que fosse colocado em dúvida o sucesso da aposta sobre a qual se apoiou boa parte da retomada da confiança e para que o azedume se reinstalas­se em todos os setores da economia.

Ainda há aqueles que não acreditam na aritmética. São os que se aferram a pretensos direitos adquiridos, aqueles para os quais pagamento de aposentado­ria é cláusula pétrea. Não é, senhoras e senhores. Não há mais milagres da multiplica­ção dos pães e dos peixes. É a receita que define a despesa, e não o contrário. Nas condições atuais, não há pagamento futuro garantido de aposentado­rias e pensões.

Quanto ao projeto de reforma da Previdênci­a propriamen­te dita, estamos diante de duas hipóteses. Ou se aprova uma parcela das propostas em discussão, talvez apenas a imposição de idade mínima para aposentado­ria; ou não se aprova nada. No primeiro caso, será um passo insuficien­te para devolver a confiança no futuro das contas públicas, mas, pelo menos, será um passo na direção correta.

Se a reforma for rejeitada ou se o projeto continuar indefinida­mente encalhado em Brasília, o risco de novo desastre será muito alto. O País ficará sujeito a aumento de impostos ou, simplesmen­te, ao calote da dívida pública, algo que, antes mesmo das agências de classifica­ção de risco, o mercado financeiro se encarregar­á de prever.

Para quem tem um dinheiro aplicado no mercado financeiro, este cenário confuso imporá novas incertezas. A derrubada da inflação e dos juros empurra o aplicador para as opções de risco e, no entanto, diante desse céu exposto a turbulênci­as, como se conformar com retorno cada vez mais baixo das aplicações financeira­s?

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