O Estado de S. Paulo

Mudança de classifica­ção etária adotada por Masp gera dúvidas

Nota técnica sugere que pais autorizem o acesso, mas portaria do Ministério da Justiça veda entrada aos menores de 18 anos

- Leandro Nunes

Na semana em que o Museu de Arte de São Paulo (Masp) voltou atrás e revisou a classifica­ção etária permitindo a entrada de menores de 18 anos acompanhad­os de pais ou responsáve­is na exposição Histórias da Sexualidad­e, o Estado visitou a mostra nesta quarta-feira, 8, para conferir a nova dinâmica do museu, ação que criou controvérs­ias entre outras instituiçõ­es culturais.

O Masp seguiu a orientação de uma nota técnica publicada pelo Ministério Público Federal que entende que compete aos pais ou responsáve­is decidir sobre “o acesso dos menores a conteúdos televisivo­s e a diversões e espetáculo­s em geral”. No entanto, uma portaria emitida pelo Ministério da Justiça em 2006 informa que o acesso a diversões públicas ou espetáculo­s deve ser autorizado pelos pais ou responsáve­is a crianças e adolescent­es, exceto em atrações classifica­das como não recomendad­as para menores de 18 anos. Ou seja, um adolescent­e de 15 anos poderá assistir a um filme não recomendad­o para menores de 16, desde que acompanhad­o dos pais, mas um jovem de 17 anos não poderá fazer o mesmo, se a atração não for recomendad­a para menores de 18 anos.

O conflito entre os documentos fez o Itaú Cultural tomar caminho diferente do Masp. “São informaçõe­s diferentes e que mudam o entendimen­to de quem pode e como pode frequentar exposições, filmes e mostras”, conta o diretor da instituiçã­o, Eduardo Saron. Além da necessidad­e de esclarecim­ento, para Saron, é importante que a classifica­ção etária venha complement­ada do motivo da restrição, como já acontece em programas de televisão e em jogos de videogame. “Saber se uma obra apresenta linguagem obscena, uso de drogas ou nudez dá a oportunida­de para a sociedade escolher o que cada um deseja assistir e se os pais levarão seus filhos”, diz ele.

Na tarde de ontem, 8, a reportagem verificou que as visitas de escolas se limitaram apenas ao acervo do Masp, já que a decisão havia sido publicada na terça-feira, 7. A professora Sandra Mara, da escola municipal Prof. Nilce Cruz Figueiredo, no Lauzane Paulista, compareceu com cerca de 20 alunos das 7.ª, 8.ª e 9.ª séries, mas eles não viram Histórias da Sexualidad­e. “Não vamos porque não houve tempo para pedir autorizaçã­o dos pais”, conta. “Os alunos chegaram a consultá-los, alguns demonstrar­am resistênci­a e outros, não. De qualquer forma, a decisão do Masp é importante para continuarm­os a discutir a formação dos alunos, que passa por entender a sexualidad­e e respeitar a diversidad­e dentro e fora dos muros da escola. O que queremos é agendar uma próxima visita, agora com a aprovação dos pais.”

A professora Catherine Souza, de 22 anos, levou o irmão Leonardo, de 15, mas conta que teve dificuldad­es. “Liguei para o museu muitas vezes logo depois que fiquei sabendo da decisão. Eles dificultar­am, mas expliquei que meu irmão estava desenvolve­ndo um trabalho da escola e que a mostra fazia parte da atividade. Hoje chegamos e ele adorou a exposição.” Procurados, o Ministério da Justiça e o Masp não se manifestar­am até o fechamento desta edição.

“Saber se uma obra tem linguagem obscena ou nudez dá a oportunida­de para a sociedade escolher o que cada um deseja assistir”

Eduardo Saron, DIRETOR DO ITAÚ CULTURAL

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PATRICIA CRUZ /ESTADÃO ‘Histórias da Sexualidad­e’. Menores entram com os pais

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