O Estado de S. Paulo

Escolha do diretor da PF enfraquece ministro

Empresário confirma em depoimento a Sérgio Moro o pagamento de R$ 3 mi ao ex-presidente do banco e da Petrobrás

- / L.V.

A ida de Fernando Segóvia para o comando da Polícia Federal enfraquece­u o ministro da Justiça, Torquato Jardim, que queria emplacar Rogério Galloro no cargo. Ele acabou ficando com a Secretaria Nacional de Justiça. Nos bastidores, o PMDB fez pressão para que o sucessor de Leandro Daiello fosse ligado ao partido.

O empresário Marcelo Odebrecht disse ontem, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, que foi vítima de “achaque” do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine. Marcelo havia afirmado, em delação, ter repassado R$ 3 milhões a Bendine. Na audiência de ontem, em ação penal na qual é acusado de corrupção ativa, confirmou o pagamento.

Bendine é réu acusado de cobrar R$ 17 milhões em propina da Odebrecht em 2014, quando ainda era presidente do BB. Ontem, Marcelo confirmou o pedido. Segundo a investigaç­ão, Bendine acabou recebendo R$ 3 milhões, em três parcelas, entre junho e julho de 2015, quando já ocupava o comando da Petrobrás.

“Se fosse uma consultori­a técnica (prestada pelo operador de Aldemir Bendine), legítima, não seria paga via equipe de Operações Estruturad­as

(como era chamado o ‘departamen­to de propinas’ da empreiteir­a).”

Marcelo Odebrecht EX-PRESIDENTE DA ODEBRECHT

Em troca, teria atuado em favor da empreiteir­a. Bendine está preso desde julho, alvo da 42.ª fase da Lava Jato.

A Moro, Marcelo afirmou que as primeiras solicitaçõ­es de propina de Bendine ocorreram por meio do “operador” André Gustavo Vieira da Silva. “O André procurou o Fernando (Reis, exexecutiv­o da Odebrecht) e disse: ‘O presidente do Banco do Brasil tá pedindo 1% dessa reestrutur­ação’”, afirmou. À época, a Odebrecht tinha pendência com o BB relativa a uma dívida da empreiteir­a. “Eu não dei muita bola para esse achaque.”

Segundo ele, no entanto, quando Bendine assumiu a Petrobrás, “a coisa mudou de figura”. “Porque ele tinha uma posição que de fato poderia atrapalhar a gente. Tínhamos vários temas críticos na Petrobrás no momento e eu procurei me cercar de evidências irrefutáve­is para ter certeza de que havia esse pedido, esse achaque.”

De acordo com o empreiteir­o, o pagamento dos R$ 3 milhões foi então acertado. “Eu saí (de uma reunião) falando: ‘Eu não acho que vamos precisar dar os R$ 17 milhões, mas vamos começar a pagar alguma coisa. Isso aconteceu. Três pagamentos de R$ 1 milhão cada.”

O criminalis­ta Alberto Zacharias Toron, advogado de Bendine, afirmou que o depoimento de Marcelo Odebrecht “não passa de ilação”. A defesa de André Gustavo Vieira da Silva não foi localizada pelo Estado.

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