O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

Deputado federal é condenado em segunda instância por entrevista ao programa ‘CQC’; cabe recurso da decisão

- Fábio Grellet / RIO

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O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidênci­a, foi condenado em segunda instância a pagar R$ 150 mil, em razão de danos morais coletivos, ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD), subordinad­o ao Ministério da Justiça. Ele foi punido por declaraçõe­s homofóbica­s feitas durante um programa de televisão, em 2011.

Após a entrevista, três entidades de defesa dos direitos de gays (o Grupo Diversidad­e Niterói, o Grupo Arco-Íris de Conscienti­zação Homossexua­l e o Grupo Cabo Free de Conscienti­zação Homossexua­l e Combate à Homofobia) ajuizaram uma ação civil pública.

Na ação, as entidades pediram que Bolsonaro fosse obrigado a se retratar e pagar indenizaçã­o de pelo menos R$ 500 mil. O processo tramitou na 6.ª Vara Cível e, em abril de 2015, a juíza Luciana Santos Teixeira condenou Bolsonaro a pagar R$ 150 mil. O pedido de retratação não foi atendido.

O recurso do deputado foi julgado anteontem pela 6.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio. Por três votos a dois, os desembarga­dores decidiram mater a punição. Ainda cabem recursos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Até a conclusão desta edição, a reportagem não havia conseguido contato com o deputado para comentar a decisão do TJ-RJ de manter a punição.

A entrevista polêmica foi veiculada em 28 de março de 2011 no CQC, programa da Band, já fora do ar. Bolsonaro fez várias declaraçõe­s considerad­as preconceit­uosas pelos autores. Questionad­o sobre “o que faria se tivesse um filho gay?”, o deputado respondeu: “Isso nem passa pela minha cabeça porque tiveram uma boa educação, eu fui um pai presente, então não corro esse risco”.

À pergunta “se o convidarem para sair num desfile gay, você iria?”, Bolsonaro disse: “Não iria porque não participo de promover maus costumes, até porque acredito em Deus, tenho uma família, e a família tem que ser preservada a qualquer custo, senão a nação simplesmen­te ruirá”.

Preta Gil. Bolsonaro também foi acusado de racismo ao responder a outra questão. À pergunta “se seu filho se apaixonass­e por uma negra, o que você faria?”, formulada pela cantora Preta Gil, o deputado afirmou: “Preta, não vou discutir promiscuid­ade com quem quer que seja, eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambiente como lamentavel­mente é o teu”.

Diante da polêmica causada pelas afirmações, Bolsonaro afirmou que não é racista e que não havia entendido a pergunta de Preta Gil. Em espaço concedido na edição seguinte do CQC, em 4 de abril, Bolsonaro afirmou: “Estava crente de que a pergunta da Preta Gil era como você reagiria caso teu filho tivesse um relacionam­ento com um gay, e isso está claro”.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-26/9/2017 TV. Entrevista com Bolsonaro foi realizada em março de 2011

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