Indecisão hamletiana e foro privilegiado
Até onde um partido pode ir para se desmoralizar publicamente? A julgar pelo PSDB, não há limite. Afastado do comando da sigla em virtude das graves acusações que pesam contra ele, denunciado pelo Ministério Público Federal e mantido no exercício do mandato por seus pares após uma queda de braço com o STF, Aécio Neves se recusou a renunciar definitivamente à presidência do PSDB.
Alegou que já estava afastado e a convenção que escolheria o sucessor definitivo estava próxima e não havia por que antecipar a saída. Agora, vê-se que não era bem assim: Aécio manteve o posto para influir nos rumos do partido. E o faz, reassumindo o cargo para destituir Tasso Jereissati do comando.
Aécio atende a apelos dos ministros de Michel Temer, que vinham se sentindo pressionados depois que artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pregou o imediato desembarque do governo, posição partilhada por Tasso.
Ao buscarem o denunciado Aécio para ser seu procurador, os ministros tucanos automaticamente se alinham a ele. E mostram ser seus comandados e integrantes de sua cota no governo.
A justificativa oficial para a troca de Tasso por Alberto Goldman, também vice, é a de que, como candidato à presidência do PSDB em dezembro, o senador influiria no pleito. Como se Aécio não tivesse comandado o partido em sua reeleição e, depois, na decisão da Executiva que prorrogou seu mandato por mais uma vez.
As pesquisas mostram que, hoje, o PSDB é um partido mais desgastado do que o PT. Isso porque perdeu o aval que tinha e não conserva algo que o PT detém: o apoio resiliente de uma massa de fanáticos.
Sem se preocupar em apresentar uma agenda ao País, envolto em sua eterna indecisão hamletiana de ser ou não ser governo e usado como bunker por um presidente preocupado em manter o foro privilegiado, o PSDB pode deixar de ser, em 2018, uma alternativa de poder. Mesmo tendo, hoje, os dois nomes mais aceitos pelo “establishment” para a sucessão de Temer.
E toda essa pororoca de infortúnios, diferentemente das do PT e do PMDB, foi autoimposta. Os tucanos agem como adoradores de Jim Jones.