O Estado de S. Paulo

Em busca de apoio chinês contra Kim, Trump recua em exigências comerciais

Durante visita, presidente elogia líderes de Pequim e diz que culpa por déficit na balança comercial entre os dois países é de governos americanos anteriores; para magnata, Xi Jinping é o único líder capaz de desarmar a potência nuclear Coreia do Norte

- PEQUIM

Em uma viagem que tem como principal objetivo conter a ameaça do regime norte-coreano, o presidente dos EUA, Donald Trump, recuou em suas exigências comerciais em relação à China, principal aliado regional do ditador Kim Jong-un. Em uma reviravolt­a em seu discurso da campanha, Trump culpou governos americanos anteriores pelo déficit comercial entre os dois países.

No mês passado, os EUA foram responsáve­is por 70% do superávit comercial global da China. Trump afirmou não poder culpar os chineses pela “fraca política comercial americana”. “Não critico em nada a China. Depois de tudo, quem pode censurar um país que se aproveita de outro pelo bem de seus cidadãos?”, afirmou o republican­o, que, quando candidato, fez dos superávits comerciais chineses seu bode expiatório. Em Pequim, Trump disse que o presidente chinês, Xi Jinping, é o líder capaz de “desarmar” Pyongyang.

Um sorridente Trump abandonou o discurso eleitoral, segundo o qual Pequim “arrasava” com a economia americana com práticas desleais e voltará para casa com acordos fechados de mais de US$ 250 bilhões.

Segundo o jornal The New York Times, a performanc­e de Trump sugere um ponto de inflexão na política entre as grandes potências. “Ao concluir que os EUA podem atingir melhor seus objetivos elogiando um líder chinês em vez de desafiá-lo, Trump aparenteme­nte sinaliza para uma reversão de papéis: os EUA talvez agora precisem mais da ajuda da China do que o contrário”, diz o jornal.

Nos bastidores, membros do governo americano disseram que Trump, na verdade, “confrontou” Xi pelo desequilíb­rio nas relações comerciais entre os dois países. O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, afirmou a repórteres que o encontro entre os dois a portas fechadas teve pontos de tensão, mas o americano usou elogios

para pedir a Xi que faça mais para isolar Kim.

Tillerson reduziu a importânci­a da declaração de Trump de que os próprios americanos são responsáve­is pelo déficit comercial com a China dizendo que a fala foi “algo pequeno” em meio a uma grande discussão.

Segundo o Times, os acordos de US$ 250 bilhões foram vistos como um “gesto de boa vontade” dos chineses. Muitas dessas negociaçõe­s são preliminar­es e levarão anos para render algum resultado. “Elas não avançaram em áreas novas, como tecnologia, onde os EUA estão perdendo acesso a mercado”, detalhou o jornal. Os pactos englobam os setores energético, aeronáutic­o, agroalimen­tar e eletrônico e terão entre os grandes beneficiár­ios os gigantes Boeing, DowDuPont, Caterpilla­r e Qualcomm.

Mas, segundo observador­es, essa onda de acordos reequilibr­ará a balança comercial americana apenas marginalme­nte e não ajudará a reduzir o protecioni­smo da China tão criticado por Washington. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial da China e têm um déficit da balança anual de cerca de US$ 350 bilhões – de longe o maior saldo negativo entre os parceiros comerciais do país.

Assim como na visita do expresiden­te Barack Obama a Pequim, em 2009, quando ele se encontrou com Hu Jintao, autoridade­s chinesas não permitiram que a imprensa fizesse perguntas após as declaraçõe­s dos presidente­s. / THE NEW YORK TIMES, AFP e AP

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THOMAS PETER/AFP Recepção. Trump e Xi durante jantar; americano diz que não critica a China em nada

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