‘Nem a Rota entra em Paraisópolis’
Diretora do DHPP fala em dificuldades investigativas e afirma que ‘a população odeia a sua polícia’; cúpula da Segurança nega problemas
Diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, a delegada Elisabete Sato disse ontem que nem a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) está entrando em Paraisópolis, favela na zona sul da capital, ao comentar o aumento da violência.
“Converso muito com os nossos investigadores, eles me falaram na semana passada: Doutora, está difícil entrar em Paraisópolis, nem a PM, depois o coronel vai dizer se é verdade ou mentira, nem a PM nem a Rota está entrando lá”, disse Sato.
A declaração foi dada durante evento do Ministério Público Democrático e contraria o que sustentam as autoridades da segurança pública e do governo paulista, que negam dificuldades de atuação das polícias em áreas de favela. O evento contava com a participação de promotores e pesquisadores, além do coronel Francisco Alves Cangerana Neto, comandante do policiamento da área central, a quem Sato se refere – mas que negou a afirmação e disse que “a polícia entra em qualquer área de São Paulo”. A mesma linha foi adotada pelo comandante-geral interino da PM, Mauro Cezar dos Santos Ricciarelli, em nota oficial, ao ser questionado posteriormente.
A Polícia Civil, com base em nota do delegado-geral Youssef Abou Chachin, também rechaçou qualquer dificuldade investigativa. Mas a reação principal à fala de Sato foi do secretário de Segurança, Mágino Alves. “A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldade em cumprir seu trabalho, seja em comunidades ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo. Tanto que, na terçafeira, a Rota fez operações em três comunidades, incluindo Paraisópolis.”
Mais dificuldades. Sato ainda disse que a polícia só entrou no Jardim Lapena – na zona leste, onde no mês passado duas crianças foram assassinadas – “porque era homicídio”.
Em uma apresentação de 23 minutos, a delegada destacou as dificuldades enfrentadas para aumentar o índice de esclarecimento de homicídios no Estado. “Se qualquer um de vocês perguntar: ‘Elisabete, você está satisfeita com o número de esclarecimentos do DHPP ( de 39,7% dos casos)?’, vou dizer como profissional, como mulher: não estou. O ideal, para a sociedade que eu desejo, que a minha neta cresça, é que seja zero de violência”, afirmou a delegada.
Ela também exaltou o esforço dos agentes públicos, se emocionando ao citar um suicídio recente de um policial do DHPP e disse que “a população odeia a sua polícia”.
“Em qualquer lugar que a gente vá, a polícia é hostilizada. Esse crime que aconteceu no Cangaíba (linchamento) viralizou. Todo mundo batendo no cidadão a paulada, a pedrada e todo mundo aplaudindo. O que está acontecendo com a nossa sociedade? Estamos aceitando tudo? Estamos sem esperança?” 28, e uma mulher não identificada bebiam na calçada. Um carro modelo Sandero de cor branca se aproximou com os criminosos e não houve conversa.
Vizinhos relatam “dezenas de tiros”. “Foram mais de 50. Chegaram para matar”, disse um morador da rua, que pediu anonimato. O clima era de apreensão no local ontem.
A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que a “equipe especializada busca testemunhas e informações”. A pasta acrescentou que “se comprovada participação de policiais, as corregedorias serão acionadas”, mas não comentou se já havia algum indício a respeito.