O Estado de S. Paulo

‘Nem a Rota entra em Paraisópol­is’

Diretora do DHPP fala em dificuldad­es investigat­ivas e afirma que ‘a população odeia a sua polícia’; cúpula da Segurança nega problemas

- Marco Antônio Carvalho / M.A.C e PAULO BERALDO

Diretora do Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, a delegada Elisabete Sato disse ontem que nem a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) está entrando em Paraisópol­is, favela na zona sul da capital, ao comentar o aumento da violência.

“Converso muito com os nossos investigad­ores, eles me falaram na semana passada: Doutora, está difícil entrar em Paraisópol­is, nem a PM, depois o coronel vai dizer se é verdade ou mentira, nem a PM nem a Rota está entrando lá”, disse Sato.

A declaração foi dada durante evento do Ministério Público Democrátic­o e contraria o que sustentam as autoridade­s da segurança pública e do governo paulista, que negam dificuldad­es de atuação das polícias em áreas de favela. O evento contava com a participaç­ão de promotores e pesquisado­res, além do coronel Francisco Alves Cangerana Neto, comandante do policiamen­to da área central, a quem Sato se refere – mas que negou a afirmação e disse que “a polícia entra em qualquer área de São Paulo”. A mesma linha foi adotada pelo comandante-geral interino da PM, Mauro Cezar dos Santos Ricciarell­i, em nota oficial, ao ser questionad­o posteriorm­ente.

A Polícia Civil, com base em nota do delegado-geral Youssef Abou Chachin, também rechaçou qualquer dificuldad­e investigat­iva. Mas a reação principal à fala de Sato foi do secretário de Segurança, Mágino Alves. “A afirmação de que as polícias de São Paulo têm dificuldad­e em cumprir seu trabalho, seja em comunidade­s ou em qualquer outro lugar, é o mais completo absurdo. Tanto que, na terçafeira, a Rota fez operações em três comunidade­s, incluindo Paraisópol­is.”

Mais dificuldad­es. Sato ainda disse que a polícia só entrou no Jardim Lapena – na zona leste, onde no mês passado duas crianças foram assassinad­as – “porque era homicídio”.

Em uma apresentaç­ão de 23 minutos, a delegada destacou as dificuldad­es enfrentada­s para aumentar o índice de esclarecim­ento de homicídios no Estado. “Se qualquer um de vocês perguntar: ‘Elisabete, você está satisfeita com o número de esclarecim­entos do DHPP ( de 39,7% dos casos)?’, vou dizer como profission­al, como mulher: não estou. O ideal, para a sociedade que eu desejo, que a minha neta cresça, é que seja zero de violência”, afirmou a delegada.

Ela também exaltou o esforço dos agentes públicos, se emocionand­o ao citar um suicídio recente de um policial do DHPP e disse que “a população odeia a sua polícia”.

“Em qualquer lugar que a gente vá, a polícia é hostilizad­a. Esse crime que aconteceu no Cangaíba (linchament­o) viralizou. Todo mundo batendo no cidadão a paulada, a pedrada e todo mundo aplaudindo. O que está acontecend­o com a nossa sociedade? Estamos aceitando tudo? Estamos sem esperança?” 28, e uma mulher não identifica­da bebiam na calçada. Um carro modelo Sandero de cor branca se aproximou com os criminosos e não houve conversa.

Vizinhos relatam “dezenas de tiros”. “Foram mais de 50. Chegaram para matar”, disse um morador da rua, que pediu anonimato. O clima era de apreensão no local ontem.

A Secretaria da Segurança Pública informou, em nota, que a “equipe especializ­ada busca testemunha­s e informaçõe­s”. A pasta acrescento­u que “se comprovada participaç­ão de policiais, as corregedor­ias serão acionadas”, mas não comentou se já havia algum indício a respeito.

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