O Estado de S. Paulo

Corpo de bebê some de hospital privado no Rio

Kevin deveria ter sido enterrado na terça, quando pai foi avisado sobre desapareci­mento; família protestou ontem

- Marcio Dolzan / RIO

A Polícia Civil do Rio investiga o desapareci­mento do corpo de um bebê no Hospital Pasteur, no Méier, zona norte da cidade, como um caso de “subtração ou descarte indevido”. O bebê, que se chamaria Kevin e estava no quinto mês de gestação, deveria ser enterrado na terça-feira, mas ao chegar ao hospital para levar o corpo o pai foi informado simplesmen­te que o corpo havia sumido.

Ontem, o delegado que preside o inquérito sobre o caso, Carlos Cesar Santos, descartou uma eventual troca de corpo – outro recém-nascido havia morrido no mesmo dia no hospital. “Tinha outro corpo, mas, pelos horários, quando o maqueiro chegou com este que estamos investigan­do, já tinha sido liberado pela funerária”, apontou o titular da 26.ª DP (Todos os Santos), na zona norte do Rio.

O policial informou que já teve acesso às imagens do circuito interno de vídeo do centro médico, mas elas se resumem aos corredores. “Até havia câmera no interior do necrotério, mas segundo o hospital ela não estava funcionand­o”, declarou o delegado.

A Polícia Civil já ouviu funcionári­os que trabalhara­m no domingo, dia em que Kevin morreu, e representa­ntes do hospital. Os próximos depoimento­s serão dos profission­ais que atuaram na segundafei­ra, da equipe que trabalha na limpeza da unidade de saúde, e da mãe, Rayane Araújo, que será ouvida hoje à tarde.

Um dos que prestaram esclarecim­entos foi o diretor do Pasteur, Danilo Abreu. Ao deixar a delegacia, na tarde de ontem, ele foi lacônico em suas declaraçõe­s. “O hospital está totalmente empenhado na resolução desse caso”, declarou Abreu. Ele também afirmou que “as informaçõe­s já foram todas passadas à família”, o que causou indignação em parentes que aguardavam do lado de fora da delegacia. “Eu sou a Carine e falei com o senhor! Não nos foi passado nada”, reclamou Carine Silva, outra irmã de Rayane.

Em nota, o Hospital Pasteur informou que “lamenta o episódio, se solidariza com a família e mantém-se empenhado na elucidação dos fatos junto às autoridade­s policiais”.

No início da tarde, enquanto os familiares protestava­m, outra mãe apareceu para apontar descarte de bebê e erro médico no Pasteur. Vestindo uma camiseta com a foto da filha Dyanne, Magnolia Pinto Nunes disse que foi dar apoio à família.

Segundo ela, em 2015 a filha, então com 17 anos, deu entrada no hospital quando estava perto do quarto mês de gravidez. Ela perdeu o filho, teve complicaçõ­es, passou 23 dias no CTI e morreu. O caso ainda é investigad­o. O Estado não conseguiu ouvir o Pasteur sobre esse segundo caso.

Desapareci­mento. O sumiço do bebê Kevin só foi constatado na terça-feira, quando familiares e amigos já estavam no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, zona norte. O sepultamen­to estava marcado para as 11 horas. “Estava todo mundo aguardando o Wanderson (pai, marido de Rayane) levar o corpinho do bebê. A gente levou roupinha, terço, e até o padre estava lá”, contou Carla Leite, irmã de Rayane. “No fim da manhã, o Wanderson ligou dizendo que haviam perdido o bebê.”

Carla contou que, a partir disso, precisaram esconder o sumiço da mãe. “Conseguimo­s convencer a minha irmã a não ir, graças a Deus. Imagina se ela está lá e o corpinho não chega?”, comentou. “A gente ficou o dia todo inventando desculpa, dizendo que faltava um documento. Só no fim do dia, quando chegamos em casa, contamos o que tinha acontecido.”

Segundo Carla, Rayane está inconsoláv­el. “Não bastasse toda a tristeza, para completar agora o seio dela está com muito leite, porque fizeram ela ter um parto normal, e o corpo identifico­u isso. Cada hora que vaza leite, entra em desespero, vai aos prantos.”

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Revolta. Parentes e amigos do casal protestam contra desapareci­mento de corpo do bebê

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