O Estado de S. Paulo

Com nova regra, Eletrobrás terá de cortar R$ 2 bi

Levantamen­to da Aneel mostra problemas também nas transmisso­ras de energia; estatal terá de seguir outros parâmetros de eficiência a partir de 2018

- Anne Warth / BRASÍLIA

A revisão tarifária periódica das transmisso­ras de energia vai expor uma situação desconfort­ável para a Eletrobrás. Cálculos realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deixarão claro que a ineficiênc­ia da estatal, até então atribuída apenas às distribuid­oras, também atinge as transmisso­ras.

Para se adequar aos novos parâmetros que serão exigidos pela Aneel a partir de 2018, a Eletrobrás terá de fazer um corte de custos de R$ 2 bilhões. Como esse valor não pode ser repassado para as tarifas, se a empresa não for privatizad­a, ela exigirá mais aportes dos acionistas. A União detém, direta e indiretame­nte, 63% das ações da Eletrobras.

De acordo com levantamen­to da Aneel, entre as nove transmisso­ras que passarão pela revisão, Eletronort­e, Chesf e Eletrosul têm os piores níveis de eficiência: 34,61%, 42,14% e 44,14%, respectiva­mente. A Copel-GT terá 53,02%, e Furnas, 58,37%. As melhores nessa lista são Cemig-GT, com 92,30%, e CTEEP, com 89,46%.

O índice a ser atingido pela Eletrobrás foi definido em 90% do alcançado pelas melhores empresas, algo que o governo considera possível caso a empresa seja privatizad­a. A Aneel estima que as tarifas de transmissã­o devem cair 0,71% com a revisão periódica e poderiam ser reduzidas em mais 0,11% se Eletrobrás for vendida. O efeito somado seria de -0,82%.

Ao pedir que a Aneel fizesse o estudo, o Ministério de Minas e Energia (MME) queria mostrar as perdas que a Eletrobrás causa por ser uma estatal. O resultado não causou surpresas no governo, já que as subsidiári­as da empresa são líderes no número de obras atrasadas do setor.

Indenizaçõ­es. O governo vai propor uma mudança na forma de cálculo das indenizaçõ­es para as transmisso­ras de energia elétrica. A proposta fará parte do projeto de lei sobre a privatizaç­ão da Eletrobrás, que deve ser fechado ainda nesta semana. O plano é propor às transmisso­ras que têm direito a indenizaçõ­es que aceitem receber os valores em 25 anos, e não em 8, como estabelece a regra atual.

O dinheiro será pago por meio das tarifas e será corrigido pelo custo ponderado médio de capital (WACC) do setor de transmissã­o, indicador que deve reduzir os ganhos das empresas em R$ 3 bilhões, de R$ 34,5 bilhões para R$ 31,5 bilhões.

A vantagem, para quem aceitar a proposta, é a segurança jurídica, pois o acordo será firmado por meio de lei. A regulament­ação anterior, que permitia correção mais alta, veio por uma portaria publicada pelo ex-ministro de Minas e Energia e senador Eduardo Braga (PMDB-AM), durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

O uso desse instrument­o foi questionad­o na Justiça por associaçõe­s de indústrias como Abrace, Abividro e Abiclor e, até agora, a Justiça deu ganho de causa para essas entidades.

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