O Estado de S. Paulo

João Domingos

- JOÃO DOMINGOS E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Ganhar a guerra da comunicaçã­o é o 1º passo para a aprovação da reforma da Previdênci­a.

Agora que a reforma da Previdênci­a parece ter voltado com tudo à agenda política, não custa lembrar uma série de erros cometidos nos últimos meses pelo governo Michel Temer e pelos que a defendem. Erros tão óbvios que às vezes custa a acreditar que alguns foram cometidos por Temer, a quem não se nega um profundo conhecimen­to da forma como o Congresso funciona.

Quem sabe agora, que o tema volta a ganhar força, tais erros sejam evitados, mesmo que o projeto contemple uma reforma muito mais enxuta.

Para lembrar alguns dos erros. O governo anunciou que faria a reforma da Previdênci­a da forma mais seca possível, sem nenhuma preocupaçã­o com a possibilid­ade de ganhar a torcida da sociedade nem o voto de centenas de parlamenta­res que, por serem ligados ao funcionali­smo público ou aos aposentado­s, tenderiam a lutar contra a reforma. Não fez, por exemplo, uma campanha publicitár­ia destinada a expor os privilégio­s da Previdênci­a pública em relação ao INSS, a Previdênci­a do povão.

Os contrários à reforma, que comandam corporaçõe­s fortes do serviço público, não tiveram dificuldad­es para espalhar, e de forma muito bem espalhada entre a sociedade, que a reforma da Previdênci­a viria para acabar com direitos de quem recebe o mínimo. Pronto, a batalha da comunicaçã­o já estava perdida.

Errou também o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quando, em conversas com representa­ntes do mercado, prometeu que o governo faria uma profunda reforma da Previdênci­a, mesmo sem ter a menor ideia de como seria a negociação no Congresso. Errou ainda o mercado, que acreditou na força do governo, na certeza de Meirelles e nos líderes partidário­s. Quando o político diz uma coisa, é preciso entender que ele não está dizendo bem aquilo que ele está dizendo.

Justiça seja feita ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao relator da reforma, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), que nunca disseram que o projeto tinha votos suficiente­s para que fosse aprovado. Eles sempre alertaram que era preciso trabalhar mais, mesmo antes da esquisita conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, o que pôs tudo a perder.

O tempo passou, o presidente livrou-se das duas denúncias do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, voltou a pensar na reforma da Previdênci­a, e tornou a errar. Admitiu, numa conversa com deputados e ministros, que talvez não desse para aprovar a reforma previdenci­ária. O mercado veio abaixo. Temer teve de recuar e dizer que vai se empenhar pela reforma.

Experiente como é, Temer poderia ter chamado uma pessoa de sua confiança, talvez Arthur Maia, e dito a ele alguma coisa assim: “A reforma completa, como quer o ministro Meirelles, não passa. Eu não posso dizer isso, mas você está autorizado por mim a negociar um texto mais enxuto. Se alguém perguntar se aceito uma minirrefor­ma, vou negar. E você continua negociando. Quando juntarmos os votos pela aprovação, eu dou o ok”.

Temer poderia ainda ter procurado Rodrigo Maia e entregado a ele missão de cuidar da reforma da Previdênci­a. Justificar­ia o ato dizendo que, desgastado como está, qualquer projeto que for identifica­do com ele sofrerá resistênci­as maiores. Como Rodrigo Maia goza de credibilid­ade na Câmara e demonstrou ter os pés no chão quanto ao cálculo de votos, a proposta pode encontrar menos resistênci­a se todos concluírem que a luta pelas mudanças está sendo encabeçada por ele.

Só para dar uma ajudazinha, Temer poderia orientar sua máquina publicitár­ia a fazer peças sobre a reforma dizendo que a Previdênci­a arrecada tanto, gasta tanto e o déficit é tanto. E que vai acabar com privilégio­s. Sem firulas. Ganhar a guerra da comunicaçã­o é o primeiro passo para aprovar a reforma.

Ganhar a guerra da comunicaçã­o é o primeiro passo para aprovar a reforma

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