O Estado de S. Paulo

Governo prepara mudanças na lei

Legislação que entra em vigor hoje ainda deve sofrer alterações, porque, para aprová-la, Michel Temer prometeu ajustes aos senadores

- Fernando Nakagawa Carla Araújo/ BRASÍLIA

Aos 74 anos, a Consolidaç­ão das Leis Trabalhist­as (CLT) ganha uma nova roupagem a partir de hoje. Com a entrada em vigor da reforma trabalhist­a, a relação entre patrões e empregados mudará profundame­nte em meio às promessas de criação de vagas e o temor de piora das condições de trabalho. As regras começam a valer sem que o governo tenha decidido como será o processo de ajuste de alguns temas prometidos ao Congresso: se por Medida Provisória ou projeto de lei. A minuta do texto, que está na Casa Civil, não prevê, como foi cogitado, um novo instrument­o para financiame­nto dos sindicatos.

O projeto que entra em vigor hoje foi amplamente apoiado pelas entidades empresaria­is. O texto prevê, por exemplo, que os acordos coletivos tenham força de lei. Também acaba com a obrigatori­edade da contribuiç­ão sindical e permite a flexibiliz­ação de contratos de trabalho. Direitos constituci­onais, como o 13º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e salário mínimo, estão preservado­s.

Diante de alguns pontos sem acordo entre governo e Congresso e com uma relação cada vez mais complicada com os parlamenta­res, o Palácio do Planalto não conseguiu entregar a proposta de ajuste da reforma trabalhist­a antes da estreia das novas regras hoje. O texto que vai alterar pontos, como o trabalho insalubre de gestantes e contratos intermiten­tes está praticamen­te pronto, mas ainda há itens importante­s em aberto e precisam ser decididos pelo Palácio do Planalto.

Martelo. O governo ainda não bateu o martelo sobre como será a tramitação do ajuste. Inicialmen­te, a ideia era editar uma MP previament­e acertada com os parlamenta­res. Costurada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), a solução esbarrou na crescente insatisfaç­ão de parte da bancada governista e na resistênci­a de parlamenta­res ligados aos movimentos sindicais. Por isso, o governo passou a cogitar apresentar um Projeto de Lei, cuja tramitação poderia ser mais bem administra­da pelo governo, mas não haveria o efeito imediato da MP.

Outro ponto ainda polêmico é o financiame­nto sindical. A minuta que está na Casa Civil não prevê qualquer tipo de novo instrument­o para substituir o imposto sindical – que deixa de existir a partir deste sábado.

O governo, porém, tem sido duramente pressionad­o pelos sindicatos que exigem a regulament­ação de um instrument­o alternativ­o, como a contribuiç­ão a ser paga na negociação coletiva. No governo, não é descartada inclusive eventual decisão futura sobre o tema (Leia texto na pág. B5).

Trabalho insalubre. Apesar dessas dúvidas, o ajuste das normas trabalhist­as está praticamen­te fechado. Como prometido aos senadores, a minuta que está na Casa Civil prevê, por exemplo, alteração das regras para o trabalho insalubre de grávidas e lactantes. O texto sancionado em julho previa que gestantes deveriam apresentar atestado de saúde para serem afastadas, durante a gestação, de atividades considerad­as insalubres.

Agora, a proposta prevê vedação do trabalho nessa situação, mas haverá possibilid­ade de continuar nos casos em que a trabalhado­ra apresentar atestado que permita o trabalho.

Outro ponto é o que impõe quarentena de 18 meses para uma empresa recontrata­r através de contrato intermiten­te um empregado previament­e demitido. O texto também proíbe qualquer cláusula de exclusivid­ade para o contrato autônomo e estabelece regras para que a jornada de 12 horas de trabalho com 36 horas de descanso tenha de passar por acordo coletivo.

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