O Estado de S. Paulo

Centrais pressionam por nova contribuiç­ão

Projeto apresentad­o às lideranças do Congresso cria limite de 1% da folha de pagamento e aprovação por 10% da categoria em assembleia

- Marcelo Godoy

As principais centrais sindicais do País decidiram apoiar um projeto de lei que regulariza a contribuiç­ão negocial em substituiç­ão ao antigo imposto sindical. As negociaçõe­s levaram à adoção da proposta do deputado federal Bebeto Galvão (PSB-BA), que prevê que a adoção da contribuiç­ão deve passar por assembleia com a presença de 10% da base do sindicato. Ela teria o valor máximo de 1% da folha de pagamento e, se aprovada, só não seria descontada apenas de quem compareces­se à assembleia e votasse não.

Com o fim do imposto sindical, determinad­o pela reforma trabalhist­a, muitos dos sindicatos perderão em média 30% de suas receitas. Como o governo Michel Temer não editou nenhuma Medida Provisória para resolver o problema do financiame­nto das entidades, as centrais decidiram ir ao Congresso para negociar com os deputados e senadores. “Conversamo­s com o presidente (da Câmara,

Rodrigo) Maia (DEM-RJ), com o senador Romero Jucá (PMDBRR) e outros. Há disposição para um acordo”, disse Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhado­res (UGT).

De acordo com o deputado Bebeto, as empresas que não recolherem a contribuiç­ão estarão sujeitas a multa de R$ 200 mil por funcionári­o. Ao mesmo tempo, o projeto obrigará os sindicatos a fazer negociação coletiva a cada dois anos, caso contrário, a entidade terá seu registro suspenso. O objetivo seria reduzir a proliferaç­ão de sindicatos sem representa­tividade.

“O imposto sindical está morto. Essa nova contribuiç­ão será decidida em assembleia, com quórum representa­tivo da categoria. O projeto é o resultado de debates com as lideranças partidária­s, entidades patronais e as centrais dos trabalhado­res”, disse o deputado. Ele espera votar o projeto ainda neste ano.

Pela proposta, 5% da contribuiç­ão serão repassados ao Ministério do Trabalho. A arrecadaçã­o será feita por meio de conta corrente na Caixa Econômica Federal e fiscalizad­a pelo ministério. O uso do dinheiro será auditado pelo Tribunal de Contas da União. O total máximo de contribuiç­ão, fixado em 1% da folha de pagamento, equivale a 3,5 dias de trabalho – o antigo imposto sindical obrigatóri­o equivalia a 1 dia trabalhado.

Reunião. Nesta semana, um representa­nte da Força Sindical levou cópia do projeto ao expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para obter o apoio do PT para a proposta. “Lula é do tempo em que prevalecia o negociado. O problema não é o negociado prevalecer sobre o legislado, mas que os sindicatos se enfraquece­ram sem o financiame­nto”, afirmou João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.

A CTB, central ligada ao PCdoB, também apoia o projeto. “Coloco dez mil trabalhado­res diante da Ford, na Bahia, e aprovo a contribuiç­ão. Não sei se os sindicatos patronais vão conseguir”, afirmou Adílson Araújo, presidente da CTB.

A maior central do Brasil – a CUT – informou que está acompanhan­do as negociaçõe­s no Congresso, mas afirma que sua prioridade é lutar contra aspectos da reforma trabalhist­a que precarizam o trabalho. Patah concorda com a CUT. “A reforma foi 100% do lado do empregador. Do jeito que está, sufoca a estrutura sindical, não só dos trabalhado­res, mas também dos sindicatos patronais”, disse Patah.

Luiz Gonçalves, da Nova Central, e Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB), também disseram que suas centrais participam das negociaçõe­s. Gonçalves cita ainda o projeto do senador Paulo Paim (PT-RS) sobre o tema, que não fixa um número quórum mínimo para as assembleia­s. “Apoiamos qualquer um dos dois projetos”, disse.

Para o procurador do trabalho Henrique Correia, uma lei faria com que a contribuiç­ão se tornasse legal, mesmo de quem não é filiado a sindicatos. Hoje, contribuiç­ões aprovadas em assembleia­s têm, segundo ele, alcance apenas para os sindicaliz­ados – o que os sindicatos discordam. “Havendo lei, não há problema. Pode cobrar de todo mundo.”

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