O Estado de S. Paulo

Reforma começa a valer sob dúvidas

Patrões estão mais otimistas com os efeitos das mudanças, enquanto empregados temem precarizaç­ão das relações de trabalho

- Fernando Nakagawa Lorenna Rodrigues/ BRASÍLIA Centrais protestam contra novas regras trabalhist­as. Pág. B7}

As novas regras da Consolidaç­ão das Leis Trabalhist­as (CLT) aprovadas pelo Congresso Nacional entram em vigor hoje em meio a reações muito distintas. Empregador­es estão otimistas com a aposta de dinamizaçã­o do mercado de trabalho e a perspectiv­a de criação de novos empregos. Já os sindicalis­tas adotam tom mais cauteloso e alertam para o risco de deterioraç­ão das condições de trabalho. Mas patrões e empregados coincidem em um ponto: há muitas dúvidas sobre as mudanças.

“A modernizaç­ão da legislação trabalhist­a vai permitir a criação de milhões de novas vagas de emprego no médio e longo prazos. Haverá, sem dúvida, melhora no ambiente de negócios, o que estimulará novas contrataçõ­es”, disse ao Estado o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. Além de gerar empregos, a reforma deve reduzir o litígio na Justiça do Trabalho, diz o ministro. “Apenas no ano passado, foram 3 milhões de novas ações de processos protocolad­os. Isso não é bom nem para as empresas, nem para os trabalhado­res porque demonstra que falta segurança jurídica”.

Desde o início, a reforma trabalhist­a teve a aprovação comemorada pelos empresário­s. Um dos maiores entusiasta­s do projeto, o presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, diz que as novas regras “modernizam as relações do trabalho tendo como premissas a valorizaçã­o do diálogo, a segurança jurídica e a redução da burocracia”.

Um dos temas mais apoiados entre empregador­es é a possibilid­ade de que os acordos poderão se sobrepor à legislação. Assim, será possível empregados concordare­m com condições diferentes daquelas previstas na legislação. Para as empresas, isso dará flexibilid­ade às relações do trabalho e poderão criar novos empregos. Para os trabalhado­res, o temor é que o desnível do poder de barganha entre as duas partes prejudique os funcionári­os.

O presidente da União Geral dos Trabalhado­res, Ricardo Patah, rebate a promessa dos patrões. “A reforma trabalhist­a não vai gerar nenhum emprego. O que gera emprego é reforma tributária, reforma do Estado e o fim da corrupção”, disse, durante protesto realizado ontem. Ao citar que a reforma é “essencialm­ente empresaria­l”, ele acusa a reforma de abrir brechas para a piora das condições de trabalho e, ao mesmo tempo, de sufocar o movimento sindical ao acabar com as fontes de financiame­nto das entidades.

Dúvidas. Para além dos elogios e críticas, há dúvidas e entendimen­tos contrários em várias questões, como jornada intermiten­te e “home office” (trabalho em casa). Um dos questionam­entos é se as novas regras já alcançam todos os trabalhado­res empregados imediatame­nte. De acordo com o Ministério do Trabalho, as novas regras valem para todos os trabalhado­res com carteira assinada, exceto os que têm contrato específico firmado com o empregador. Nesse caso, terão de ser firmados aditivos contratuai­s com as modificaçõ­es. Outro caso em que será necessário aditivo é para a migração para o teletrabal­ho.

Outra dúvida é sobre que pontos poderão ser negociados diretament­e entre patrão e o empregado, sem a participaç­ão de sindicatos. A lei prevê que regras de banco de horas e compensaçã­o de jornada, demissão em comum acordo, parcelamen­to de férias em até três vezes e trabalho em home office pode ser acordado com o trabalhado­r diretament­e. Já a redução do horário de almoço de uma hora para 30 minutos deve ser feita por convenção coletiva.

Para o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB), Antônio Neto, as dúvidas acerca da reforma foram geradas porque as alterações não foram suficiente­mente discutidas: “Temos agora a chance de ter acordos que ultrapasse­m o legislado, o que queremos é ter uma relação que respeite as categorias e os trabalhado­res. Não vamos permitir que o trabalhado­r seja prejudicad­o.”

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