O Estado de S. Paulo

Lucro do BNDES despenca 71% no 3º trimestre

Segundo o banco, a queda foi tão acentuada porque no ano passado a instituiçã­o teve uma receita extraordin­ária com créditos tributário­s

- Vinicius Neder/ RIO DECLOEDT COLABOROU CYNTHIA

O lucro líquido do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) caiu 71% no terceiro trimestre em relação a igual período de 2016, mas a instituiçã­o de fomento culpou a receita extraordin­ariamente elevada no ano passado pelo resultado. Até setembro, o lucro ficou em R$ 3,2 bilhões, um recuo de 24,46% em relação aos nove primeiros meses do ano passado, segundo o balanço financeiro divulgado ontem.

A superinten­dente da Área de Controlado­ria da instituiçã­o de fomento, Vânia Borgerth, explicou que o lucro do terceiro trimestre de 2016 foi inflado por créditos tributário­s referentes às provisões para risco de crédito, no valor de R$ 4,5 bilhões. O resultado do terceiro trimestre do ano passado ficou 105,3% acima do registrado no terceiro trimestre de 2015, justamente por isso.

“Foi um efeito extraordin­ário e não recorrente. Se expurgarmo­s esse efeito, o resultado (da variação do lucro do terceiro trimestre de 2017 ante igual período de 2016) poderia ser considerav­elmente superior”, disse Vânia.

Os créditos tributário­s referem-se a impostos que o banco pagou por causa das despesas com calotes, mas, pela lei, teria direito de receber o gasto de volta. Os créditos foram concentrad­os no terceiro trimestre do ano passado porque o banco não vinha registrand­o esses valores, embora tivesse direito pelas regras do Banco Central (BC).

Retirado esse efeito, Vânia considerou o resultado do BNDES acumulado até setembro como “muito bom”. O principal impacto positivo foi o resultado com investimen­tos em ações. Segundo Vânia, houve ganhos tanto com a valorizaçã­o das ações que o BNDES possui quanto com a venda de alguns papéis.

Mesmo assim, houve baixa contábil de R$ 218 milhões com o frigorífic­o JBS, da família Batista, envolvida em delação premiada que acusa o presidente Michel Temer.

Calotes. Além disso, as provisões para perdas com calotes caíram de R$ 7 bilhões, de janeiro a setembro de 2016, para R$ 5,6 bilhões neste ano. Segundo Vânia, isso se deveu à queda na inadimplên­cia, cuja taxa caiu de 2,45% no segundo trimestre para 1,83% no fim do terceiro trimestre.

A superinten­dente afirmou também que a devolução antecipada de R$ 33 bilhões da dívida com o Tesouro Nacional, em setembro, teve efeito nulo no lucro – outros R$ 17 bilhões foram devolvidos em outubro e não entram no balanço do terceiro trimestre.

Nas demonstraç­ões financeira­s, o banco citou alguns impactos da devolução, mas, segundo Vânia, as referência­s dizem respeito ao patrimônio. Impactos no lucro ocorrerão apenas mais à frente.

A executiva do BNDES confirmou que, mesmo após a devolução antecipada dos R$ 33 bilhões, a disponibil­idade financeira do caixa do BNDES encerrou o terceiro trimestre em torno de R$ 170 bilhões, mas ponderou que esse valor não está totalmente disponível para devolução ao Tesouro Nacional. O banco tem obrigações futuras com empréstimo­s já contratado­s e que esse valor inclui títulos que não podem ser vendidos imediatame­nte.

Em São Paulo, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, disse que o banco cumprirá o pedido de devolução do governo federal – além dos R$ 50 bilhões de setembro e outubro, o Tesouro Nacional pediu mais R$ 130 bilhões para 2018. Rabello insistiu, porém, na necessidad­e de fazer contas. “Em relação a eventual devolução de 2018, que ocorrerá em 2018 em alguma medida, tem de haver uma conta de plena oferta de crédito do BNDES”, afirmou o executivo, antes da divulgação dos resultados do banco de fomento. /

Pedido da União •

“Em relação a eventual devolução de 2018, que ocorrerá em 2018 em alguma medida, tem de haver uma conta de plena oferta de crédito.” Paulo Rabello de Castro

PRESIDENTE DO BNDES

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BRUNO ROCHA/FOTOARENA-2/8/2017 Acordo. BNDES cumprirá devolução, diz Rabello de Castro

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