O Estado de S. Paulo

É hora de saber quem é quem

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Éhora de saber quem está com o governo na ingrata missão de aprovar as urgentes reformas ainda pendentes e quem pretende apenas jogar para a torcida e contra o País.

Passada a crise criada artificial­mente pelas ineptas denúncias da Procurador­ia-Geral da República (PGR) contra Michel Temer, o presidente tem pela frente a tarefa de reorganiza­r sua base no Congresso. É hora de saber quem está com o governo na ingrata missão de aprovar as urgentes reformas ainda pendentes e quem pretende apenas jogar para a torcida e contra o País.

Conforme o noticiário dos últimos dias, Temer aparenteme­nte pretende realizar as substituiç­ões em sua equipe antes de abril, limite legal para a desincompa­tibilizaçã­o de ministros que almejam concorrer a algum cargo nas eleições do ano que vem. Pode ser que as mudanças ocorram ainda neste ano. Seria uma medida importante para sinalizar a disposição do governo de encaminhar as reformas, em especial a da Previdênci­a, independen­temente do calendário eleitoral e dos interesses políticos dos ainda ministros e de seus partidos.

Também será uma oportunida­de para Temer substituir ministros que, embora talvez não pretendam deixar o cargo para disputar eleições, já cumpriram seu compromiss­o com o presidente nessa difícil trajetória desde o impeachmen­t de Dilma Rousseff. Se em algum momento a presença desses auxiliares da confiança de Temer foi importante para a consolidaç­ão do governo, malgrado o fato de que são personagen­s de escândalos de corrupção, hoje essa presença não se justifica. Se o presidente pretende concentrar seus esforços e sua atenção naquilo que realmente interessa, isto é, a aprovação das reformas, deve finalmente se desfazer dos focos de constante rebuliço em seu governo.

Além disso, uma mudança ministeria­l agora tem de ser um movimento para deixar claro que não cabem ambiguidad­es dentro do governo. Se um partido tem cargos no primeiro escalão, deve ser governista. Pode parecer uma platitude, mas infelizmen­te o que mais se tem visto ultimament­e são partidos que, embora muito bem posicionad­os na administra­ção, não conseguem garantir os votos de seus parlamenta­res para aprovar a pauta de interesse do governo, mesmo em relação às reformas que esses partidos, oficialmen­te, dizem apoiar.

É o caso, por exemplo, da reforma da Previdênci­a. Quando Temer disse que a viabilidad­e de seu governo não dependia da aprovação dessa reforma, sugerindo a possibilid­ade de “derrota eventual” ou de “não votação” da proposta, muitos leram ali, equivocada­mente, que o presidente havia “jogado a toalha” em relação à Previdênci­a. Na verdade, o que Temer fez foi lembrar que não depende apenas da vontade do presidente a aprovação das reformas, sendo necessário igualmente o esforço dos que acreditam que somente com as mudanças constituci­onais o gasto público se tornará mais racional do que é hoje.

“A reforma da Previdênci­a não é minha, não é pessoal, mas é do governo compartilh­ado”, afirmou Temer, enfatizand­o que todos os que estão representa­dos em seu Ministério devem se compromete­r com essa demanda. Mas ele acrescento­u: “(Se) o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprovar (a reforma), paciência”. A própria reação fortemente negativa dos mercados a esse discurso mostra que o presidente foi capaz de expor, em poucas palavras, o risco que o País corre se a reforma não for aprovada já. Ato contínuo, as forças governista­s no Congresso retomaram as discussões sobre a Previdênci­a, uma vez que, agora ou depois da eleição, a reforma é mesmo inevitável. Como disse Temer, uma eventual derrota agora não será sua, mas do País.

Assim, a reforma ministeria­l deve levar em conta a necessidad­e de unir forças para evitar que, mais uma vez, a agenda de interesse nacional dê lugar às conveniênc­ias eleitoreir­as. Haverá as chantagens de praxe, em que cargos serão exigidos em troca de votos, mas o importante é reorganiza­r a base de modo a fazer a pauta das reformas prevalecer, obrigando os líderes políticos que hoje se dizem governista­s a assumi-la integralme­nte mesmo diante do risco de prejuízo eleitoral.

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