O Estado de S. Paulo

Uma potência negligenci­ada

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São conhecidas as valiosas contribuiç­ões que o agronegóci­o tem dado ao País.

São amplamente conhecidas as valiosas contribuiç­ões que o agronegóci­o tem dado ao desenvolvi­mento do Brasil e dos brasileiro­s. De acordo com a estimativa da Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruto (PIB) do setor deverá crescer 2% em 2017. Hoje, toda a cadeia produtiva do agronegóci­o responde por cerca de 20% do PIB nacional.

São números impression­antes, sobretudo quando contrastad­os com um passado não tão longínquo. Há meio século, o País dependia da importação de comida para alimentar sua população. Hoje, é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

A segunda posição nesse ranking, no entanto, é questão de tempo. Um relatório da Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO), elaborado em parceria com a Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), publicado em julho de 2015, prevê que o Brasil será o líder mundial em exportação de alimentos na próxima década.

A impression­ante reversão de um estado de dependênci­a externa para a vice-liderança da produção mundial de alimentos em apenas 50 anos se deu por uma série de fatores, merecendo destaque a vasta porção de terra cultivável no País, as condições climáticas favoráveis à produção diversific­ada, o rápido desenvolvi­mento da capacidade de nossas cadeias produtivas, o desenvolvi­mento de tecnologia agropecuár­ia e o aumento natural da demanda. A cada ano, uma massa de aproximada­mente 155 milhões de pessoas engrossa o mercado consumidor de alimentos no mundo.

A nota dissonante vem da triste constataçã­o de que a pujança do agronegóci­o é apenas uma fração do que ele poderia ser não fossem os crônicos problemas logísticos e de infraestru­tura que há décadas sufocam a reconhecid­a capacidade de desenvolvi­mento do setor e interpõem-se entre o Brasil que conhecemos e a potência que poderia ser.

Coerente com uma história de apoio às atividades agrícola e pecuarista que remonta à sua fundação, há quase 143 anos, o Estado, em parceria com a CNA, promoveu o Fórum Estadão Logística e Infraestru­tura no Agro para discutir com especialis­tas, da iniciativa privada e do governo, os problemas do escoamento da produção agropecuár­ia e da expansão das novas fronteiras agrícolas do País.

As causas dos problemas são conhecidas, assim como o que deve ser feito para eliminá-los. Já no painel de abertura, João Martins da Silva Júnior, presidente da CNA, lembrou que 60% da infraestru­tura para o escoamento da produção agropecuár­ia está concentrad­a no modal rodoviário, reconhecid­amente mais caro e ineficient­e.

De acordo com pesquisa da Confederaç­ão Nacional dos Transporte­s (CNT), 61,8% das rodovias brasileira­s estão em condições “regular”, “ruim” ou “péssima”. Os dados apontam uma piora em relação ao ano passado, quando 58,2% das estradas foram considerad­as problemáti­cas.

A má qualidade das rodovias afeta especialme­nte Estados agrícolas, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará, que concentram algumas das piores estradas do País. É justamente nesses Estados que estão os eixos de tráfego mais pesado para o transporte de cargas, que levam a produção agropecuár­ia até os principais portos do País.

Ante a miríade de prioridade­s que o poder público deve atender, notadament­e nas áreas de saúde, segurança e educação, é previsível que faltem investimen­tos em grandes projetos de infraestru­tura e logística. Para piorar, cada governante parece ter o seu próprio modelo ideal para o desenvolvi­mento do setor, mais preocupado em deixar uma marca individual do que um legado para a Nação.

A saída para desatar este nó que asfixia o cresciment­o do País pode estar no Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI) com a iniciativa privada, que detém os recursos tecnológic­os, humanos e financeiro­s para avançar. Se os governos não continuare­m a atrapalhar, já serão de grande ajuda.

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