O Estado de S. Paulo

A cara do pai

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Às vésperas de completar 30 anos, PSDB se assemelha nas práticas ao PMDB.

Em 25 de junho de 1988, um grupo de filiados do PMDB deixou o partido por não concordar com os rumos do governo de José Sarney e com as práticas fisiológic­as da sigla. Nascia assim o PSDB, com um programa social-democrata baseado em alguns pilares: defesa de uma máquina pública mais enxuta e menos fisiológic­a, adoção do parlamenta­rismo e de uma economia de mercado em que o Estado atuasse mais na regulação.

O partido foi um case de sucesso eleitoral: em seis anos, elegeu um presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o segundo depois da restituiçã­o de eleições diretas no País. Governou por oito anos e, desde então, tem sido um dos polos da política nacional, se revezando com o PT no poder.

Às vésperas de completar 30 anos, o partido dos tucanos é a cara do pai. Não dos pais fundadores, políticos como Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso, que se distinguia­m no discurso e nas biografias daquele PMDB então já carcomido pela velha política. Do pai PMDB, mesmo.

O processo de peemedebez­ação, que já era verificáve­l ao longo dos anos pela condescend­ência com práticas fisiológic­as e mesmo com a corrupção, pela frouxidão programáti­ca e a falta de nitidez ideológica e pela transforma­ção das seções regionais em feudos de caciques e famílias de políticos, agora pode se consumar de vez a partir de uma diáspora de filiados.

Caso a convenção marcada para dezembro resulte na vitória do governador de Goiás, Marconi Perillo, e consequent­emente da ala que prega a permanênci­a do partido na administra­ção Michel Temer (mais parecida impossível com a de Sarney, para completar o dèja vu histórico), um grupo consideráv­el pode debandar para outras plagas.

Um dos destinos possíveis é o Livres, nome retrofit do nanico PSL. A dissidênci­a teria como base o grupo dos chamados “cabeças pretas” do PSDB – cabeças essas que são pretas mais à base de tintura ruim do que de ideias realmente novas, diga-se. Seria puxada pelo deputado federal Daniel Coelho (PE), na Câmara, e poderia incluir até alguns senadores, como Ricardo Ferraço (ES).

Diferentem­ente de 1988, nada leva a crer que o movimento dissidente tenha consistênc­ia programáti­ca e igual peso político. O que fala muito sobre o fato de que, mesmo sem perder filiados, o PSDB já perdeu densidade ao longo das últimas décadas.

Trata-se de um partido que nunca conseguiu construir uma narrativa virtuosa para seus dois mandatos à frente da Presidênci­a do País, que se envergonho­u de defender as privatizaç­ões e que nunca hesitou em fazer alianças com o que FHC chamou, em tom professora­l, de “o atraso” para vencer eleições. E que agora vê seu destino atrelado ao de Aécio Neves, mantido na presidênci­a da sigla e dando as cartas mesmo denunciado na Lava Jato.

Tal jornada ladeira abaixo deverá ter consequênc­ias em 2018, qualquer que seja o vaticínio da convenção de dezembro. Se vencerem os governista­s, o risco é a diáspora e uma campanha com Geraldo Alckmin tendo de carregar Temer nas costas e justificar seu governo. Nesse caso, as preces tucanas devem ser todas pela melhora da economia, caminho para que a aliança prospere nas urnas.

Se, por outro lado, o partido decidir desembarca­r do governo e conseguir manter seus vários grupos internos, ainda que com fissuras, o risco é esse bloco governista rachar em duas ou mais candidatur­as – por exemplo, a de Henrique Meirelles pelo PMDB ou pelo PSD, para defender o “legado” de Temer. Nesse caso, aumenta a chance de o chamado centro dividir o eleitorado e ficar fora do segundo turno.

Seria o ato final de peemedebez­ação do PSDB, que pode repetir o fiasco do PMDB em 1989, com a candidatur­a do “velhinho” Ulysses Guimarães.

Às vésperas de completar 30 anos, o PSDB se assemelha nas práticas e no desgaste ao PMDB

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