O Estado de S. Paulo

Para ministro, aparelhame­nto do grupo explica declínio

- / P.P.

A queda no número das invasões de propriedad­es pelo Movimento Sem Terra (MST) é, para o ministro da Defesa, Raul Jungmann, explicada pela conjunção de três fatores: o grupo deixou de ser “novidade”, foi “aparelhado” pelo PT e passou a ser “chapa-branca”. Jungmann fala com a experiênci­a de quem, à frente do Incra (1996-1999) e ministro do Desenvolvi­mento Agrário (1999-2002), enfrentou a “era de ouro” do movimento. Para o ministro da Defesa, não “há a menor chance” de haver, hoje, o reflexo político registrado pelas ações do MST no passado.

“O contexto histórico mudou. O MST também mudou”, disse Jungmann. Para ele, “o MST nunca foi um movimento de massas”. “O MST pode até fazer uma manifestaç­ão aqui, outra lá, mas o que esse tipo de ação revela mais é uma situação de fraqueza. Não vai reproduzir aquele contexto dos anos 1990”, disse o ministro da Defesa.

Durante o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998, a política, segundo Jungmann, ajudou a manter o MST e a aumentar o seu poder de capilarida­de e mobilizaçã­o.

As barracas de lonas pretas e as bandeiras vermelhas fincadas à beira de estradas rurais pelo País evidenciav­am o tamanho do fenômeno. A tensão no campo era retratada nas telas da TV e grupos religiosos apoiavam a política de invasões. O Brasil vivia uma disputa fundiária agravada pela decisão do movimento de enfrentar a questão com invasões sistemátic­as de áreas que, alegavam, improdutiv­as. Em reação ao aumento de tensão no campo, fazendeiro­s e proprietár­ios rurais se uniram e criaram a União Democrátic­a Rural (UDR).

A consolidaç­ão dos dois grupos agravou as disputas, gerando o aumento de violência no campo. O clima desembocou na tragédia ocorrida em Eldorado dos Carajás, no interior do Pará, em abril de 1996, quando 22 pessoas foram mortas e quase 70 ficaram feridas. Depois de tomar parte da Fazenda Macaxeira, um mês antes, um grupo de sem-terra foi morto durante um confronto com a Polícia Militar na estrada.

Jungmann era presidente do Incra na época e, no auge da crise, foi chamado por FHC para assumir o então recém-criado Ministério Extraordin­ário do Desenvolvi­mento Agrário. “O MST era o aríete para arranhar, erodir, a imagem do governo”, explicou o ministro, lembrando que o conflito pela terra era a pauta do dia.

O atual ministro da Defesa afirmou que, naqueles dias, “o MST foi instrument­alizado pelo PT”. Ele afirmou que Carajás “deflagrou uma onda de apoio nacional e internacio­nal ao movimento”. Porém, emendou: “Hoje não é mais assim”. De acordo com Jungmann, “a reforma agrária não é mais um tema colocado na agenda do País e o MST não tem mais a ressonânci­a que teve.”

Assassinat­os. Segundo números da Comissão Pastoral da Terra (CPT), os assassinat­os voltaram a crescer no campo, passando de 36 casos em 2014 para 61 mortes em 2016. O Estado com o maior número de homicídios, segundo a CTP, é o Pará.

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