O Estado de S. Paulo

‘É uma guerra santa desnecessá­ria’, diz ialorixá do Rio

Vivian teve terreiro destruído na Baixada Fluminense; crimes são atribuídos a traficante­s fundamenta­listas

- Roberta Jansen /

A ialorixá Vivian Tybara teve seu terreiro, na Baixada Fluminense, destruído “em nome de Jesus” em outubro. “É uma guerra santa desnecessá­ria”, desabafa. “Sou nascida e criada no candomblé e conheço o histórico de perseguiçõ­es”, diz.

Desde que foi criado, no início de agosto, o disque-denúncia contra intolerânc­ia religiosa da Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio recebeu 44 informes – 40 de ataques violentos contra terreiros de umbanda e candomblé. Na maior parte das agressões, os responsáve­is são ligados ao tráfico e a correntes evangélica­s fundamenta­listas, que usam a religião para propagar discursos de ódio. Segundo especialis­tas, a inusitada aliança entre crime e religião tem sido celebrada há muito tempo dentro de presídios.

Segundo o secretário de Direitos Humanos, Átila Alexandre Nunes, o nome de Jesus é usado para fechar terreiros por traficante­s fundamenta­listas.” Só na última semana, foram quatro no Colégio (bairro da zona norte) e os religiosos, proibidos de usar guias e vestir roupas brancas. A Polícia Civil, que investiga os atentados, já identifico­u suspeitos ligados ao tráfico. Muitos teriam se convertido na prisão. “É inegável a ascensão política do discurso de intolerânc­ia religiosa e a disseminaç­ão dos pensamento­s de ódio”, diz o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão Contra a Intolerânc­ia Religiosa do Rio (CCIR). “Mas também temos uma inércia muito grande do Estado diante desse fenômeno, do Legislativ­o, do Judiciário.”

Também membro da CCIR, o pastor Marcos Amaral lembra a diversidad­e de posições na comunidade evangélica. “Não podemos dizer que os neopenteco­stais, em geral, nutrem a intolerânc­ia”, afirma Amaral.

Carmen Flores, a ialorixá Carmen de Oxum, de 66 anos, deixou o País após ser vítima de agressão, filmada e compartilh­ada nas redes sociais. No vídeo, ela é humilhada e forçada a quebrar imagens do próprio terreiro. Ela havia sido surpreendi­da por sete homens armados ao voltar das compras. “Fizeram a destruição completa da minha casa: disseram que se eu continuass­e lá, matariam todos”, conta Carmen, por telefone, da Áustria. A mãe de santo não registrou denúncia. “Estou com medo de voltar ao Brasil.”

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Violência. Vivian ainda não tem previsão de reabrir terreiro

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