O Estado de S. Paulo

Fundos dão impulso a estreias e ofertas na Bolsa

Empresas que compram participaç­ão em companhias respondera­m por metade das ofertas de ações neste ano e devem continuar ativas em 2018

- Fernanda Guimarães

Os fundos de private equity – que compram participaç­ão em empresas para vender, no futuro, com lucro – voltaram a movimentar as ofertas de ações na Bolsa de Valores. Com a economia dando sinais de recuperaçã­o, a “janela” para esse tipo de operação está aberta de novo. E os fundos estão aproveitan­do o momento – antes que essa janela se feche novamente no período eleitoral – para se desfazer de participaç­ões e fechar o ciclo do investimen­to.

Os private equity captam recursos de grandes investidor­es, adquirem fatias de companhias considerad­as promissora­s para, anos depois, se tudo der certo, revendê-las por um preço maior – a outras empresas ou a investidor­es pulverizad­os na Bolsa. “Das ofertas de ações que acontecera­m neste ano, metade delas tinha a presença do private equity. Para o próximo ano, cerca de 30% das empresas devem ter esse componente”, destaca o diretor de banco de Investimen­tos do Itaú BBA, Roderick Greenlees.

Na semana passada, por exemplo, o norte-americano Advent vendeu parte de sua participaç­ão na companhia de alimentos IMC, dona das marcas Viena e Frango Assado. O Advent já reduziu, em 2017, sua participaç­ão no laboratóri­o Fleury e ainda levou o grupo farmacêuti­co Biotoscana para a Bolsa. Está previsto ainda seu desembarqu­e da empresa do setor de vestuário Restoque, dona das marcas Dudalina e John John, por meio de uma oferta subsequent­e. O Warburg Pincus também vai vender sua participaç­ão na Restoque. Para dezembro, está programada a venda de parte da fatia que Vinci Partners, Temasek e Capital Group detêm na rede de fastfood Burger King Brasil.

Os fundos que têm investimen­tos no Brasil estão com algumas boas companhias no portfólio, de grande porte e aptas a ofertas em Bolsa. Entre alguns exemplos estão a Intermédic­a Notredame, da Bain Capital, que chegou a tentar abrir seu capital neste ano, mas resolveu esperar para 2018, em busca de um melhor preço para o ativo. Outra candidata relevante é a Rede D’Or, do Carlyle e do fundo soberano de Cingapura, o GIC. A rede de ensino Uniasselvi, também do Carlyle, está no radar. O fundo Pátria tem no portfólio o Hidrovias do Brasil, que já chegou a se movimentar para realizar uma abertura de capital. O Grupo Oncoclínic­as, controlado pela Victoria Capital, é mais um nome.

Fábio Nazari, do BTG Pactual, pondera que os desinvesti­mentos dos fundos, neste momento, acabam tendo uma maior visibilida­de, já que nos últimos a “janela” para ofertas estava praticamen­te fechada. Para o sócio da Bain & Company e especialis­ta em private equity, André Castellini, as vendas dos fundos neste momento também são uma resposta à safra ruim de investimen­tos de diversos deles em países emergentes, onde sofreram com a desvaloriz­ação cambial, queda dos preços das commoditie­s e, no caso específico do Brasil, com a corrupção. “Quem tem investimen­to bom no portfólio precisa mostrar isso, mas é claro que o momento positivo de mercado permitiu esses desembarqu­es.” Pesa ainda o fato de as eleições de 2018 terem enorme potencial de trazer alta volatilida­de para o mercado, podendo fechar a janela para emissão de ações e também reduzir a precificaç­ão de um determinad­o ativo.

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