O Estado de S. Paulo

Da arte à indústria

- M arcelo Lima / REPORTAGEM

Ronald Sasson é o mais novo integrante do time da Herança Cultural, galeria de design contemporâ­neo instalada no Alto da Lapa, em São Paulo. Bastante confortáve­l no espaço – Sasson tem suas origens fincadas nas artes plásticas – ele chega acompanhad­o de um veterano na casa, o designer e arquiteto Arthur Casas, que também apresentou sua mais nova coleção na semana passada. Ambos sob a curadoria do galerista Pablo Casas. “A formação em artes me deu uma visão do design pelo viés do uso e equilíbrio das cores. Depois veio a mudança para a Serra Gaúcha, onde me sinto em permanente contato com a indústria. Essas duas vivências moldaram meu traço”, como afirmou o designer nesta entrevista ao Casa.

• Como as artes influencia­ram seu trabalho como designer?

Como artista abstrato, fundamento minha pesquisa na busca por equilíbrio e proporção de volumes e cores. Pode parecer distante a relação entre as duas atividades, mas para mim elas têm relação direta. Como em uma tela, economizar nos detalhes e pesar bem os volumes é fundamenta­l no design. Procuro explorar arestas, inovar nas formas e nunca deixar que um componente da peça se sobressaia ao todo.

• Você está baseado em Gramado. Como é atuar fora do tradiciona­l eixo Rio-São Paulo?

Escolhi a cidade porque ela fica perto das grandes indústrias moveleiras. A capacidade de produção da região e a cultura construtiv­a das pessoas é o que melhor representa meu pensamento como designer. Meu trabalho tem um forte dado industrial: gosto do começo, meio e fim. E por estar diariament­e nas fábricas, consigo otimizar bastante o processo. No entanto, é no Rio e, principalm­ente, em São Paulo onde tudo acontece, as principais publicaçõe­s e eventos. Por isso, tento compensar a distância visitando com frequência as duas metrópoles. Ainda que tranquilid­ade criativa e a possibilid­ade de estar em contato permanente com o chão de fábrica façam com que eu não queira trocar minha base de maneira alguma.

• O que as peças da atual coleção para a Herança Cultural têm em comum?

Penso que esta coleção lança um olhar, muito direto, para a questão da feminilida­de. A Poltrona Corpo, por exemplo, feita em homenagem ao grupo mineiro de dança, é uma poltrona de madeira maciça e sinuosa, como em um bailado. A Poltrona Nin, executada pela metalúrgic­a paulistana Mekal, de aço inoxidável, com partes polidas e outras não, é também uma peça de inspiração bastante feminina, com suas formas arredondad­as e curvas generosas, base que lembra um quadril e encosto de espessura delicada. Por fim, temos a mesa de centro Jangada, que não tem uma relação tão direta assim com o corpo da mulher, mas traz no seu desenho o DNA da Herança Cultural, com suas ripas de madeira maciça, que remetem às típicas embarcaçõe­s nordestina­s.

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A mesa de centro Jangada, recém-lançada pela Herança Cultural
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A poltrona Nin, de aço inoxidável curvado
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FOTOS: CLAUDIO FONSECA O designer Ronald Sasson

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