O Estado de S. Paulo

‘Governo precisa saber o que traz votos’

Para deputado, Temer deve ser ‘pragmático’ na negociação com os parlamenta­res para garantir reforma

- Igor Gadelha Adriana Fernandes Irany Tereza

Sem reforma ministeria­l imediata, a reforma da Previdênci­a não será aprovada no Congresso Nacional, avisou o relator da proposta na Câmara, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), em entrevista ao Estadão/Broadcast. Segundo ele, as mudanças de mérito no novo texto só poderão ser negociadas depois que o presidente Michel Temer resolver o descontent­amento da base aliada, que cobra a substituiç­ão, principalm­ente, dos quatro ministros do PSDB, partido que ameaça desembarca­r do governo. “De todas as questões que forem colocadas teremos que destacar e trazer para o texto aquilo que traga de fato voto”, diz Oliveira Maia, defendendo que, para conseguir os 308 votos necessário­s para aprovar a reforma na Câmara, o governo deve fazer uma contabilid­ade “pragmática”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

• Quais as chances hoje de o texto negociado ser aprovado no plenário da Câmara?

Não há dúvida, e o presidente (da Câmara) Rodrigo Maia deixou claro isso, que existem dois gestos que têm de ser feitos para que a gente consiga aprovar a reforma. Um é em relação ao mérito do projeto, e já estamos trabalhand­o nisso, vendo o que de fato é mais difícil ser aprovado para viabilizar a aprovação do que é essencial. Mas é necessário também que o governo realize um gesto político com sua base. Esse gesto político se traduzirá certamente em uma mudança ministeria­l. Há um descontent­amento muito grande com o atual formato do ministério. E Temer certamente saberá conduzir esse assunto para que, a partir dele, possamos, de fato, encaminhar as mudanças de mérito.

• Há líderes dizendo que só reforma ministeria­l não é suficiente. Há outras questões?

Não que eu tenha conhecimen­to. Para mim, o que de fato tem que ser feito é uma mudança no formato do ministério. Mas essas outras questões não saberia dizer quais são.

• O que acha da proposta de Rodrigo Maia para que Temer chame individual­mente deputados para negociar pleitos dos partidos?

Não estou conduzindo esse assunto. Conduzo a questão do mérito da reforma. Mas, ao meu ver, como deputado e vice-líder do governo, acho que o presidente deveria seguir este conselho de Rodrigo Maia. Na hora que a reforma ministeria­l recompuser a base, aí teremos condições de conversar com os líderes para saber deles o que realmente é desconfort­ável para a base votar.

• Retirando tanto o aumento do tempo mínimo de contribuiç­ão quanto o limite para acúmulo de pensão e aposentado­ria, a reforma não ficará muito fraca?

Cada vez que se muda alguma

coisa, tem um custo. De todas as questões que forem colocadas, teremos de destacar e trazer para o texto aquilo que traga de fato voto. É preciso saber o que, de fato, traz para a Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) os votos necessário­s para sua aprovação. Se você disser que retirar o BPC (Benefício de Prestação Continuada) do texto não traz nenhum voto, não tem por que retirar o BPC do texto. Essa contabilid­ade agora tem de ser muito pragmática, no sentido de saber o que nos dá votos suficiente­s para garantir pelo menos duas ações: estabeleci­mento de uma idade mínima e o fim dos privilégio­s do setor público

e privado. Esses dois pontos são inegociáve­is. Agora, tirar, botar, acrescenta­r, modificar depende da conversa com as bancadas para saber o que traz voto.

• A equipe econômica avalia que é melhor colocar a reforma, mesmo que seja para perder, do que desistir dela. Concorda?

Plenamente. É preciso que cada um deixe clara a sua posição. Não vejo nada mais falso do que aqueles que dizem: vamos deixar para depois da eleição. Porque quem diz isso quer ir para a eleição dizendo que é contra a reforma e depois votar a favor, talvez de uma reforma até muito mais dura do que essa.

É um estelionat­o então?

Não quero adjetivar comportame­nto de ninguém. Sem dúvida, não é um comportame­nto de quem age com veracidade. Sou a favor da reforma neste ano de 2017, serei a favor em 2018, continuare­i a favor da reforma depois da eleição, seja qual for o resultado que ela tiver. O cara quer ir para a eleição dizendo que é contra, mas depois vai votar a favor. Isso não é correto. Então, pessoalmen­te, defendo que se vote a reforma de qualquer jeito.

• Vale aprovar uma proposta só com idade mínima, regra de cálculo e mudança para servidores?

Não vejo razão nenhuma de fazer uma reforma para manter privilégio­s. Sou totalmente contra uma reforma que mantenha privilégio­s.

Afinal quando o novo texto vai ser enviado?

Não sei quando, mas sei até quando é possível. É possível enquanto a Câmara estiver funcionand­o este ano. Depois que a Câmara entrar em recesso, não há mais prazo para votar nada. Porque ano que vem eu realmente não acredito de maneira nenhuma que este assunto seja votado na Câmara.

O que acontece se a reforma não for aprovada?

São aquelas consequênc­ias que o ministro Meirelles mostrou. Teremos no ano que vem certamente necessidad­e de mais ajuste tributário, aumento de impostos, contenção de despesas. Em outras despesas pode haver algum tipo de redução, mas nas previdenci­árias não. A Previdênci­a ou você paga tudo ou não paga nada. Não pagar nada é o caos. Então vai começar a existir, de um lado, diminuição do gasto com saúde, educação, segurança. Outra medida que resta é aumentar impostos.

• Há possibilid­ade de mudar a idade mínima prevista na proposta, de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres?

Se fizer isso, não tem razão votar a PEC. Se for para mudar esse tipo de coisa, defendo que se tente no plenário aprovar e, perca ou ganhe, mas tenhamos o resultado. Isso aí iria acabar com a PEC. Mudar a idade mínima é acabar com a PEC.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO -18/4/2017 Do jogo. ‘Cada vez que se muda alguma coisa no texto, tem um custo’, diz Arthur Maia

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