O Estado de S. Paulo

Inflação, renda e consumo

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Com inflação ainda moderada e melhores condições de emprego, o consumidor poderá ter um fim de ano mais folgado, ou menos apertado, que o de 2016.

Com inflação ainda moderada e melhores condições de emprego, o consumidor poderá ter um fim de ano mais folgado, ou menos apertado, que o de 2016. Se isso se confirmar, comércio e indústria poderão entrar no próximo ano com estoques moderados, talvez baixos, e também esse detalhe contribuir­á para manter a economia animada nos primeiros meses de 2018. A evolução do cenário político até o recesso do Parlamento, em dezembro, poderá, é claro, derrubar qualquer prognóstic­o otimista, mas, por enquanto, os números permitem alguma animação. A inflação oficial acumulada no ano ficou em 2,21% até outubro, a menor taxa para esses dez meses desde 1998, quando bateu em 1,44%. O total contabiliz­ado em 12 meses passou de 2,54% em setembro para 2,70%, mas permaneceu abaixo do limite inferior de tolerância. A meta do ano é 4,5%, com margem de variação permitida de 1,5 ponto porcentual para cima e para baixo.

No fim do ano, segundo especialis­tas, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderá estar em 3% ou pouco acima – dentro, portanto, do espaço de tolerância. Se essa estimativa estiver correta, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, será poupado de uma estranha obrigação: explicar em carta ao ministro da Fazenda por que a inflação ficou abaixo do limite inferior fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Não há, de toda forma, expectativ­a de grandes pressões neste fim de ano, exceto por novo aumento da conta de eletricida­de.

A alta das tarifas de energia elétrica e a do preço do gás em botijão foram as causas principais do aumento do indicador no mês passado. O grupo Habitação, onde esses dois itens são incluídos, subiu 1,33%, com impacto de 0,21 ponto na composição do aumento geral do IPCA, 0,42%. Chuvas insuficien­tes e oscilações no mercado internacio­nal de petróleo e gás são as explicaçõe­s dessas altas.

Medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), válido para as famílias com renda mensal de um a cinco salários mínimos, o aumento de preços continuou mais moderado que o do IPCA, apontando um desafogo maior para os grupos de orçamento mais limitado. A alta mensal ficou em 0,37%. A variação acumulada em 12 meses passou de 1,63% em setembro para 1,83% em outubro, mantendo-se, apesar da aceleração, num ritmo raramente observado no País.

Ainda muito afetadas pelo desemprego, as famílias de renda baixa têm sido pelo menos beneficiad­as por uma evolução menos maligna dos preços. Como a inflação razoavelme­nte contida tem facilitado o consumo e criado condições para a produção e para as contrataçõ­es de pessoal, a política anti-inflacioná­ria tem beneficiad­o os trabalhado­res de duas formas: 1) com menor alta de preços, a erosão da renda real é mais moderada e, atualmente, muito menos sensível; 2) gerando menos entraves ao funcioname­nto da economia, a inflação facilita a reativação e a geração de oportunida­des.

Mais uma vez, portanto, os fatos desmentem os defensores da tolerância à inflação e também aqueles propensos à contenção dos índices por meio da intervençã­o política na formação de preços.

Em tempos muito recentes, tolerância inflacioná­ria e interferên­cia nos preços prejudicar­am o funcioname­nto da economia, agravaram o desarranjo dos preços e impuseram enormes perdas ao Tesouro, a empresas e aos trabalhado­res. Ninguém deveria esquecer, entre outros desastres, as grandes perdas impostas à Petrobrás e a empresas do setor elétrico pela política de preços da administra­ção petista.

Especialis­tas projetam para o próximo ano pouco mais de 4% de alta para o IPCA, em consequênc­ia principalm­ente de uma acomodação de preços, depois de um período de forte contenção. Dificilmen­te haverá condições, nesse caso, para juros básicos abaixo de 7%, nível previsto para o fim deste ano. Mas a taxa real de juros, de toda forma, estará considerav­elmente reduzida. Novos cortes da inflação nos próximos anos dependerão principalm­ente do reequilíbr­io das contas públicas e, portanto, da aprovação de reformas.

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