O Estado de S. Paulo

Reforma de Temer deve diminuir espaço do PSDB

Mudanças na Esplanada, após pressão de aliados e Centrão, estão em discussão para serem realizadas nos próximos 15 dias

- Renan Truffi Lu Aiko Otta Daiene Cardoso / BRASÍLIA

O presidente Michel Temer deve tirar a reforma ministeria­l do papel nas próximas semanas. A informação é confirmada por fontes no Palácio do Planalto e por parlamenta­res do chamado Centrão – o grupo pressiona para ganhar mais espaço no governo. Temer já comunicou alguns de seus interlocut­ores no Congresso sobre a intenção de redesenhar a distribuiç­ão de cargos de primeiro escalão nos próximos 15 dias. Com as mudanças, o PSDB deve perder dois dos seus quatro ministério­s, enquanto PMDB e PP podem ganhar mais espaço.

A antecipaçã­o da reforma foi revelada ontem pela Folha de S.Paulo. O Estado apurou que a ideia inicial do presidente é reduzir o tamanho do PSDB no governo pela metade. Dos quatro ministério­s que detêm atualmente – Governo, Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos –, os tucanos continuari­am com dois. Sob forte pressão do PTB e do PP, Temer deve tirar Bruno Araújo (PE) do Ministério das Cidades e Luislinda Valois (BA) dos Direitos Humanos.

Antonio Imbassahy (BA) tende a perder a Secretaria de Governo, mas, como se tornou uma figura próxima do presidente, pode ser deslocado para outra pasta. O tucano é alvo de críticas de parlamenta­res e está desgastado na função por não atender aos pleitos da base. Já Aloysio Nunes Ferreira (SP) deve continuar à frente do Itamaraty.

Segundo um integrante da base governista, o objetivo do Palácio do Planalto é tornar a composição do governo proporcion­almente mais justa aos votos obtidos pelos partidos em pleitos importante­s. Nesse sentido, o PSDB é visto como uma legenda que entrega menos do que outros partidos aliados ao governo. Os tucanos ficaram divididos nas votações que avaliaram a admissibil­idade das duas denúncias penais contra Temer, por exemplo.

Com essa reestrutur­ação dos cargos, Temer estaria preparando terreno para dirimir a insatisfaç­ão dos congressis­tas, visando a garantir apoio para uma possível votação da reforma da Previdênci­a. “É uma decisão difícil para o presidente em função da lealdade de alguns tucanos. Mas essa decisão, pelo andar da carruagem, é cada dia que passa mais inevitável”, afirmou o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Carlos Marun (MS).

“Todos os partidos que estiveram conosco nessas disputas devem ser aproveitad­os em conformida­de com o grau de sua lealdade. O índice de lealdade hoje passa pelo PMDB, PP, PSC. Uns tiveram mais e outros tiveram menos. Os que tiveram maior porcentual de lealdade devem ser mais valorizado­s”, afirmou o vice-líder.

Desgosto. Se confirmar a promessa feita ao Centrão, Temer corre o risco de deixar desgostosa a ala do PSDB que vota com o governo em um momento em que se articula a votação da reforma da Previdênci­a. Uma fonte ligada ao Centrão lembra, no entanto, que o presidente não pode deixar de dar uma resposta ao PTB e PP, partidos que estão “jogando duro” com ele.

Há governista­s que acham que vale a pena se livrar de parte do PSDB mesmo com o risco de perder votos porque o Planalto poderá ser compensado com a fidelidade do PP e do PTB. Assim, a aposta no Centrão é que o PP ficará com Cidades e o PMDB retomará o controle da Saúde. A cobiça do Centrão em relação ao ministério comandado por Bruno Araújo se deve ao poder de investimen­to da pasta e ao seu potencial político.

Questionad­o pela reportagem, o ministro da Secretaria­Geral, Moreira Franco, disse que Temer “está avaliando” a possibilid­ade de fazer uma reforma ministeria­l e “vai julgar o momento oportuno de tomar essas decisões”.

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB. A composição do ministério e o tempo de fazer isso são atribuiçõe­s específica­s do presidente”, afirmou o ministro.

Ele negou que a decisão de tirar a reforma ministeria­l do papel esteja relacionad­a com o avanço da discussão feita por tucanos para que o partido deixe a base aliada. “A convenção é um problema do PSDB. A decisão do presidente vai estar de acordo com os interesses do País e do governo. São coisas distintas”, disse.

As novidades sobre uma possível reforma ministeria­l vêm à tona um dia depois de o senador Aécio Neves (PSDB-MG), aliado de Michel Temer, dizer que está chegando a hora de seu partido desembarca­r da base aliada. “Vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos”, disse o mineiro após criticar os “cabeças pretas”, ala que faz oposição ao Palácio do Planalto.

“O timing, é o presidente que tem comando sobre isso. Ele está fazendo as avaliações dele. É importante dizer que as decisões da convenção do PSDB são decisões que dizem respeito ao PSDB.” Moreira Franco

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL

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FELIPE RAU/ESTADÃO-30/5/2017 Dividido. Dos quatro ministros tucanos, dois devem ficar: Aloysio Nunes (à dir.) é um deles

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