O Estado de S. Paulo

Premiê libanês cogita rever renúncia se Hezbollah recuar

Saad Hariri afirma que não está preso em Riad e deve voltar ‘em breve’ a Beirute se houver condições de segurança

- BEIRUTE

O primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri, disse ontem que irá retornar ao seu país “muito em breve” e garantiu que está “livre” na Arábia Saudita, onde se encontra desde o dia 4, quando renunciou ao cargo, colocando o Líbano em uma crise política que ameaça a estabilida­de da região. Hariri indicou que pode voltar ao posto se o grupo radical Hezbollah se compromete­r a permanecer neutro em conflitos regionais.

Horas antes, o presidente do Líbano, Michel Aoun, afirmou acreditar que “a liberdade de Hariri estava limitada” na Arábia Saudita. Grupos políticos libaneses questionam a suposta liberdade de movimento do chefe de governo. “Estou livre”, respondeu Hariri, em entrevista à emissora Future TV, afiliada a seu partido político. Ele afirmou que decidiu deixar o cargo para salvar seu país de um perigo iminente. “Voltarei logo, pronto para iniciar os procedimen­tos constituci­onais necessário­s”, ressaltou o premiê em alusão à sua renúncia, que não foi aceita por Aoun.

Contudo, Hariri disse que poderia desistir de sua renúncia se o Hezbollah se compromete­r a permanecer neutro em conflitos regionais. O premiê contou que o governo de unidade criado por ele há um ano deveria concordar em não interferir em assuntos regionais, mas o grupo não cumpriu com sua parte.

Ao anunciar que deixaria o cargo, em um discurso divulgado pela rede Al Arabiya, Hariri denunciou o “controle” que exercem o Irã e o Hezbollah, aliado de Teerã, nos assuntos internos do Líbano. A decisão do premiê foi rapidament­e percebida como um novo componente na relação conflituos­a entre Arábia Saudita, sunita, e o Irã, xiita.

O Hezbollah enviou milhares de soldados à Síria para apoiar as forças do presidente Bashar Assad. Na sexta-feira, o líder do grupo, Hassan Nasrallah, acusou a Arábia Saudita de ter detido Hariri, que tem dupla nacionalid­ade – saudita e libanesa. Ele assegurou que sua renúncia havia sido pedida por Riad. “Escrevi minha demissão de próprio punho e letra e quis provocar um choque positivo”, respondeu o premiê.

Durante a maratona de Beirute ontem, várias personalid­ades libanesas pediram que Hariri volte ao país. O ministro das Relações Exteriores, Gebran Bassil; a mulher do presidente libanês, Nadia Aoun; e outros políticos estiveram presentes na corrida, que, a pedido do governante, teve o tema “Queremos o retorno de Hariri”. Corredores carregavam a bandeira libanesa ou cartazes com mensagens como “Queremos que o nosso primeiro-ministro retorne” ou “Corremos por você”. A emissora oficial saudita exibiu mais cedo imagens do primeiro-ministro no Aeroporto de Riad recebendo o rei Salman na volta de uma viagem à cidade de Medina.

A renúncia de Hariri, feita da Arábia Saudita, motivou no sábado um protesto contra o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, nas ruas de Trípoli, no norte do Líbano.

Os manifestan­tes queimaram fotos do filho do rei, ação que provocou uma troca de acusações entre o ministro do Interior do Líbano, Nohad Machnouk, que questionou a presença das fotos nas ruas, e o ex-ministro de Justiça do país Achraf Rifi. Ele teme que “as relações amistosas e históricas com a Arábia Saudita” possam ser prejudicad­as.

“Voltarei logo, pronto para iniciar os procedimen­tos constituci­onais necessário­s” Saad Hariri

PREMIÊ LIBANÊS

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JAMAL SAIDI/REUTERS Beirute. Hariri deu primeira entrevista à TV desde renúncia

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