O Estado de S. Paulo

Finanças pessoais

Diante desse resultado, analistas aconselham investidor­es a negociar a redução das taxas de administra­ção

- Anna Carolina Papp

4 em cada 10 fundos renderam menos do que o Ibovespa

Em busca de maiores retornos do que na renda fixa, arrefecida com a queda dos juros, muitos brasileiro­s viram nos fundos de ações uma oportunida­de para colocar o pé na renda variável e entrar indiretame­nte na Bolsa, que em outubro encostou nos 77 mil pontos e aguçou o apetite por risco. No entanto, este ano, apenas 58% dos fundos de ações renderam acima do Ibovespa – principal índice de ações do mercado brasileiro.

Levantamen­to feito pelo Estado com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) analisou o desempenho de 1,2 mil fundos de ações de janeiro até setembro deste ano – último dado disponível. A pesquisa excluiu fundos que investem no exterior, fundos fechados, fundos mútuos de privatizaç­ão (FMP-FGTS) e fundos que investem em apenas uma empresa (leia mais ao lado).

Entre os fundos que se propõem a replicar índices (ações indexado), apenas 38% conseguira­m bater o Ibovespa – que avançou 23,36% nos primeiros nove meses do ano. Já entre os que pretendem superar o índice (ativos), 60% foram bem-sucedidos. Entre os que buscam ações que paguem mais dividendos, 44% tiveram valorizaçã­o acima do índice.

Fundos de ações são indicados para quem deseja investir em empresas, mas não tem disponibil­idade ou experiênci­a para estudar o mercado e pesquisar quais são as mais promissora­s em determinad­o prazo e cenário. Esses produtos têm pelo menos 67% da carteira investida em ações e funcionam como um condomínio, no qual os investidor­es compram cotas. Além disso, os fundos são mais acessíveis – já que, para pulverizar o risco e montar uma carteira de ações diversific­ada, o investidor teria de desembolsa­r um valor muito mais elevado.

Na contrapart­ida, a instituiçã­o financeira geralmente cobra uma taxa de administra­ção. No levantamen­to, elas variaram de 0% a 7,5% ao ano. Há ainda fundos que cobram a chamada taxa de performanc­e – taxa adicional quando a rentabilid­ade ultrapassa determinad­o patamar.

Segundo especialis­tas, é comum que as carteiras que se balizam por uma referência rendam menos que o índice em si, por causa dos custos para montálas e da taxa de administra­ção. Além disso, o mercado de renda variável visa mais o longo prazo – o que permite, a depender da estratégia do gestor, que haja disparidad­es no curto prazo.

“Muitos gestores se posicionar­am muito fortemente em ativos que poderiam se beneficiar do andamento das reformas e da retomada econômica, como Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás. Aí veio a delação da JBS, as denúncias contra Temer e o impasse da reforma da Previdênci­a – o que causou muito mais volatilida­de”, explica Celson Plácido, estrategis­ta-chefe da XP Investimen­tos. “Alguns gestores viram oportunida­de na queda de ações específica­s – por isso, no curto prazo, alguns não tiveram um bom desempenho.” Taxas. Outro fator responsáve­l pelo desempenho tímido de alguns fundos é a taxa de administra­ção, que corrói a rentabilid­ade. “Na prática, se um fundo tem taxa de administra­ção de 3% ao ano, já começa negativo, devendo 3% para pelo menos empatar com o Ibovespa”, explica Giácomo Diniz, especialis­ta em renda variável. “Depende do perfil e desempenho de cada fundo, mas eu não trabalhari­a com uma taxa acima de 1% ao ano.”

Por isso, observa Diniz, é essencial avaliar o histórico do fundo. “Sabemos que rentabilid­ade passada não é rentabilid­ade futura, mas o intuito é medir a consistênc­ia do gestor. É bom olhar pelo menos os últimos 36 meses.”

Informaçõe­s como a taxa de administra­ção podem ser encontrada­s na lâmina – documento disponível no ambiente de negociação das corretoras e também no site da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM). “É preciso examinar a lâmina do fundo para olhar as suas caracterís­ticas: taxa de administra­ção, mandato, se visa ao curto ou ao longo prazo e, principalm­ente, o objetivo: replicar ou superar o Ibovespa, se tem gestão ativa ou passiva”, explica Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimen­tos.

Com base nessas informaçõe­s, observam os especialis­tas, é possível identifica­r o perfil do fundo – que tem de casar com o perfil do investidor. Entre os fundos que investem em small caps, por exemplo – empresas de menor porte –, 94% renderam acima do Ibovespa de janeiro a setembro. Tratam-se, porém, de ativos muito mais voláteis, por terem maior risco.

ETFs. Outra opção para quem quer acompanhar o comportame­nto de um índice são os chamados ETFs (Exchange Traded Funds). Com um custo médio de 0,5% sobre o valor aplicado, eles são fundos cuja carteira tem o número de ações equivalent­e ao peso de cada papel em determinad­o índice. O Bova11, por exemplo, tem as mesmas ações que compõem o Ibovespa.

Para Indech, quem busca o retorno da Bolsa deve optar por um ETF em vez de um fundo de ações. “Sai mais barato para o investidor”, afirma. Já quem busca retornos maiores deve optar por um fundo de gestão ativa, no qual o gestor adotará estratégia­s para superar o índice.

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