O Estado de S. Paulo

Fatia exportada pelo Arco Norte já chega a 24%

Avanço é resultado de 11 novos terminais de transbordo em Miritituba; corredor reduziu custos logísticos nos últimos 4 anos

- Renée Pereira

Apesar dos entraves no meio do caminho, a exportação de grãos pelo chamado Arco Norte – corredor que inclui os Portos de Santarém e Barcarena (PA), Itacoatiar­a (AM) e São Luis (MA) – não para de crescer. Sonho antigo dos produtores do Centro-Oeste para reduzir os custos logísticos, o corredor começou a virar realidade nos últimos quatro anos com uma série de investimen­tos de gigantes do agronegóci­o.

Nesse período, a participaç­ão dos portos do Norte na exportação de grãos saiu de 13% para 24% até outubro deste ano, segundo o Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto. O aumento é resultado, em especial, de 11 novos terminais de transbordo em Miritituba, nas margens do Rio Tapajós, na cidade de Itaituba, no Pará.

A safra sai do Centro-Oeste por caminhão pela BR-163 até Miritituba, onde é feito o transbordo da carga para barcaças. Os comboios seguem durante quatro dias pelo rio até Belém, onde os grãos são colocados em grandes navios rumo ao mercado internacio­nal. Nesse trajeto, os produtores têm economizad­o 40% do valor do frete comparado à rota pelo Porto de Santos – hoje responsáve­l pela maior parte da soja exportada pelo Brasil – e Paranaguá (PR).

De Sorriso a Santos, o custo logístico é da ordem de US$ 126,

afirma o consultor de infraestru­tura da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a (CNA), Luiz Antonio Fayet. Segundo ele, se essa carga for transporta­da pelo sistema Belém - Guajará, que inclui Miritituba e Barcarena, o gasto médio cai para US$ 80. “É uma vantagem grande para o produtor”, diz ele, destacando que todo o avanço do Arco Norte é decorrente especialme­nte do investimen­to privado.

Nos últimos anos, o governo federal prometeu várias medidas para tornar o corredor uma realidade, como conceder a BR163 para a iniciativa privada. Dois trechos foram licitados, mas o trecho no Pará continua sob gestão federal – e deve continuar assim. De toda a extensão, apenas 100 quilômetro­s ainda não foram pavimentad­os. Trata-se de um trecho pequeno, mas que causa grande transtorno para os motoristas em tempo de chuva. “A estrada é o maior gargalo do corredor”, afirma o coordenado­r-geral de Infraestru­tura, Logística e Geoconheci­mento para o Setor Agropecuár­io do Ministério da Agriculgur­a, Carlos Alberto Batista.

Segundo ele, a manutenção da rodovia é um grande entrave já que 200 mil caminhões trafegam

nesse trecho. “O desafio é terminar a pavimentaç­ão e ter manutenção permanente na via.” O coordenado­r de estudos sobre infraestru­tura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fabiano Pompermaye­r, concorda: “Essa é uma estrada de pavimentaç­ão e manutenção cara”.

Na avaliação dele, pelo tamanho da produção de Mato Grosso, o País já deveria ter desenvolvi­do e construído uma ferrovia para escoar a produção pelo Norte. Hoje, os trens que atendem ao Estado descem rumo aos portos do Sul, e ainda assim não têm capacidade para atender a toda a demanda. Outra alternativ­a que escoa a produção do Centro-Oeste é a Norte-Sul, que consegue fazer ligação com o Porto de Itaqui, onde foi construído o Terminal de Grãos (Tegram), cuja movimentaç­ão dobrou de 2013 para cá.

Ferrogrão. A nova aposta para acelerar o escoamento pelo Arco Norte é a construção da Ferrogrão, ferrovia idealizada por grandes produtores, como Maggi, ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, e pela EDLP. O projeto, de R$ 8 bilhões, prevê a construção de cerca de mil quilômetro­s de

“Temos de passar as ferrovias a limpo. Não adianta dizer que tem milhares de quilômetro­s de ferrovia que não utilizamos.”

Jorge Luiz M. Bastos

DIRETOR-GERAL DA ANTT

trilhos entre Sinop (MT) e Miritituba. Guilherme Quintella, presidente da EDLP, um dos sócios do grupo, conta que o projeto está na fase de consultas públicas e nos próximos dias entra em audiência pública.

Esse processo deverá ser concluído no mês que vem, quando os estudos poderão ser encaminhad­os ao Tribunal de Contas da União (TCU). A expectativ­a é que o leilão de licitação ocorra até o fim do primeiro semestre do ano que vem. Para Fayet, no entanto, a ferrovia é primordial, mas o governo também precisa levar adiante as licitações de terminais portuários no Pará. “Os leilões precisam ser destravado­s para evitar que novos gargalos se formem nos portos – desta vez no Arco Norte”, diz Fayet.

O coordenado­r do Ministério da Agricultur­a concorda: “Projetamos que em 2 ou 3 anos podemos exaurir a capacidade de exportação se nada for feito”.

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Fórum. Evento, promovido pelo ‘Estado’ debateu os desafios do agronegóci­o
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FELIPE RAU/ESTADÃO

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