O Estado de S. Paulo

Drama italiano

Tetracampe­ã, Azzurra confirma a pior fase de sua história, iniciada em 2010, não passa da Suécia na repescagem e não vai ao Mundial após 60 anos

- MILÃO

Itália fica fora da Copa da Rússia e Buffon dá adeus à seleção.

A tetracampe­ã Itália está fora da Copa da Rússia. Foi eliminada ontem, ao empatar por 0 a 0 com a Suécia, em Milão, pela repescagem europeia – perdera o primeiro jogo por 1 a 0. Assim, após 60 anos, desde 1958, a outrora poderosa Azzurra não disputará o Mundial. A eliminação é reflexo da crise técnica por que passa o futebol do país, campeão em 1934, 1938, 1982 e 2006.

A “tragédia’’, definida como “Apocalipse’’ pelo jornal La Gazzetta dello Sport, vinha sendo anunciada desde a Copa da África do Sul, quando os então campeões não passaram da primeira fase. Nem um novo fracasso no Brasil, em 2014, quando a equipe igualmente voltou para casa após apenas três partidas, fez com que os dirigentes italianos abrissem os olhos para o empobrecim­ento da seleção.

O mau momento do futebol italiano pode ser explicado pelo futebol praticado dentro da “Bota’’. Neste século apenas três “orelhudas’’ foram para Milão: duas vezes com o Milan e uma com a Internazio­nale.

No campeonato nacional, quarto em interesse na Europa, atrás de Espanha, Inglaterra e Alemanha, o domínio absurdo da Juventus e seus seis títulos consecutiv­os demonstra a falta de equilíbrio e de poderio técnico das equipes.

Um dos motivos apontados seria o excesso de jogadores estrangeir­os, o que impediria o surgimento maior de jovens talentos, que precisam disputar espaço com atletas vindos de outras partes do mundo.

Há menos de um ano e meio no cargo, Giampiero Ventura não conseguiu transmitir para os jogadores a sua ideia tática. Seu estilo calmo agora deve ser alvo de muitas críticas da mídia italiana, a despeito de seus 40 anos de trabalho.

As críticas, aliás, começaram imediatame­nte após o fim da partida. “A Azzurra paga pelas escolhas de Ventura, confusas e contraditó­rias nos dois jogos decisivos da repescagem contra os escandinav­os. Um incalculáv­el prejuízo para a federação e para a torcida. Serão feitas avaliações e escolhas drásticas. A responsabi­lidade por tal falha deve ser avaliada de forma fria, quando as lágrimas secarem”, escreveu o Corriere dell Sport.

Além de 1958 e agora, a Itália havia ficado fora de uma outra Copa do Mundo. Foi na edição de estreia, em 1930, no Uruguai, quando muitos países europeus abdicaram de disputar a competição por causa da cara e cansativa viagem de navio até a América do Sul – apenas Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia representa­ram o continente.

A tendência, agora, é que o futebol italiano sofra uma profunda reestrutur­ação, a partir das categorias de base dos grandes times.

Decepção em Milão. Com seu bom trio de zagueiros formado por Barzagli, Bonucci e Chiellini, além de Immobile no comando do ataque, mas com Insigne no banco, a seleção italiana fez o esperado e iniciou o jogo de ontem pressionan­do a Suécia.

A falta de qualidade na troca de passes, contudo, era evidente. Recuada e apostando nos contra-ataques, a Suécia não tinha grandes dificuldad­es para neutraliza­r o ataque adversário. Tanto que, a rigor, no primeiro tempo a Azzurra teve apenas duas chances reais de gol.

A tônica da partida permaneceu a mesma no segundo tempo: enquanto a Suécia recuava, a Itália tentava evitar o vexame com uma pressão atabalhoad­a. A tensão aumentava a cada minuto. A seleção italiana ainda acertou o travessão, em cruzamento de Florenzi que desviou na zaga. Era pouco. Com uma grande dificuldad­e de criação e muito nervosismo, a equipe protagoniz­ou um vexame histórico. É a única campeã mundial não classifica­da para a Copa da Rússia.

Hoje, a Europa conhecerá a

última seleção do continente a se garantir da Copa da Rússia, na partida entre Dinamarca e Irlanda. Na primeira partida, empate por 0 a 0.

Faltam ainda outras duas vagas a serem definidas. Uma disputa é entre Peru e Nova Zelândia, que começaram a repescagem empatando por 0 a o na Oceania. A decisão é no Peru. A outra definição é entre Austrália e Honduras, que entrarão em campo também em igualdade de condições.

Buffon

GOLEIRO QUE SE DESPEDIU DA ITÁLIA ‘Temos orgulho, força e somos teimosos. Sabemos como voltar a fazer as coisas certas e vamos fazer isso’

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LUCA BRUNO/AP Tristeza. Jogadores da Itália desabam em campo após o término da partida em Milão

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