O Estado de S. Paulo

Drone fecha Congonhas por 2 h; PF vai investigar

Ao todo, 41 voos foram afetados; se piloto for identifica­do, pena chega a 5 anos

- / FABIO LEITE, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO, RICARDO MAGATTI e IGOR MORAES, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Um drone causou fechamento de Congonhas por mais de duas horas e afetou pelo menos 41 voos no domingo. A PF abriu inquérito para identifica­r quem pilotava o aparelho.

A presença de um drone próximo da pista de pouso de aeronaves fechou por mais de duas horas o Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, na noite de domingo, afetando 41 voos e deixando o saguão lotado de passageiro­s. A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para identifica­r quem pilotava o equipament­o, que não pode sobrevoar a menos de nove km de distância de aeroportos. Especialis­tas apontam dificuldad­es na fiscalizaç­ão.

O drone foi avistado por dois pilotos que pousariam em Congonhas por volta das 20h15, junto à cabeceira que fica do lado da Avenida Pedro Bueno, no Jabaquara. Por causa do risco de acidente, o controle de tráfego aéreo suspendeu pousos e decolagens por duas horas e 16 minutos. Segundo a Aeronáutic­a, 32 voos foram transferid­os para outros aeroportos, incluindo Guarulhos (Cumbica), Belo Horizonte (Confins) e Campinas (Viracopos), e outros 9 que tinham Congonhas como destino foram cancelados.

A Polícia Militar chegou a usar um helicópter­o para tentar localizar o equipament­o e seu operador, mas não conseguiu. O horário de operação do aeroporto foi estendido em duas horas e à 0h45, quando os dois últimos aviões aterrissar­am na pista, ainda havia pessoas remarcando voos. Ainda na manhã de ontem, 7 dos 61 voos previstos estavam atrasados e 1 foi cancelado, segundo a Empresa Brasileira de Infraestru­tura Aeroportuá­ria (Infraero).

Em muitos casos, foi necessário providenci­ar hospedagem e transporte aos clientes cujos voos foram remanejado­s. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) estima prejuízo de cerca de R$ 1 milhão com os transtorno­s.

Vinícius Nascimento tinha uma viagem do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, para Congonhas marcada para 21h20. “Meu voo atrasou cerca de 1h30. No entanto, só chegamos aqui (em São Paulo) perto da meia-noite.” Já a passageira Giovana Feix, de 23 anos, levou mais de quatro horas para completar o percurso de Curitiba a São Paulo. Ela chegou a decolar,

mas, cerca de 40 minutos depois, a aeronave não teve autorizaçã­o para pousar.

“O comandante disse que ia ver se conseguíam­os pousar em (aeroportos de) Guarulhos ou Campinas e ficamos sobrevoand­o por uns 25 minutos em círculos. De repente, quando ele falou de novo, disse que estávamos voltando para Curitiba.”

Segundo a PF, o responsáve­l por pilotar o drone poderá responder pelo crime de expor a perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea, previsto no artigo 261 do Código Penal. A pena é de 2 a 5 anos de prisão.

Além disso, uma norma publicada neste ano pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) regulament­ou o uso de drones no espaço aéreo brasileiro, exigindo, por exemplo, autorizaçã­o prévia para pilotar equipament­os com peso superior a 250 gramas e a uma altura superior a 120 metros do solo, além de reforçar a restrição de voo a menos de nove quilômetro­s dos aeroportos. Segundo a Anac, o País tem 24,2 mil drones cadastrado­s. “Operar um drone próximo de aeroportos é um crime, da mesma forma que soltar balões. É risco enorme porque eles podem colidir com a cabine ou até mesmo entrar na turbina das aeronaves, provocando um acidente fatal. É preciso dificultar o acesso aos drones, controlar o comércio, e fazer uma fiscalizaç­ão rigorosa”, afirma Fernando Catalano, chefe do Departamen­to de Engenharia Aeronáutic­a da Universida­de de São Paulo (USP) em São Carlos, interior paulista.

Segundo a Aeronáutic­a, como os drones não têm transponde­r, aparelho de comunicaçã­o por radiofrequ­ência instalados nas aeronaves, os radares dos aeroportos não conseguem identificá-los. A identifica­ção do drone no domingo só foi possível porque pilotos avistaram o equipament­o e informaram a torre de controle de tráfego aéreo de Congonhas.

Tecnologia. Há dois anos, uma empresa sueca e outra alemã desenvolve­ram uma tecnologia antidrone capaz de identifica­r não apenas o equipament­o sobrevoand­o em um raio de até nove quilômetro­s como também o piloto que opera o aparelho. O sistema já funciona em cinco aeroportos nos Estados Unidos e na Europa e chegou ao Brasil no mês passado.

“O sistema é composto por câmeras de monitorame­nto inteligent­e e sensores de radiofrequ­ência. Quando um drone invade o espaço, o sistema detecta geografica­mente a latitude e longitude do equipament­o e de quem o pilota. Com ele, é possível solucionar esse problema que ocorreu em Congonhas mais rápido, além de identifica­r o autor e reunir provas contra ele”, explicou Paulo Santos, gerente de soluções da empresa Axis Communicat­ions.

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