O Estado de S. Paulo

Questão de nudez

- BRUNA TONI

A Paraíba é um dos destinos mais atrativos por onde já passei. Atrativo no sentido primeiro: que tem a capacidade de puxar para si. De lá, eu não queria mais sair e, assim que puder voltar, o farei. Assumo os riscos que esse rasgo de elogios possui e justifico isso não apenas por sua natureza, invariavel­mente linda, mas porque, em tempos de debates calorosos sobre o nu e formas de expressão, a capital paraibana me recorda um aprendizad­o que conquistei em suas areias.

Falo de uma conversa com um tal senhor que, em dezembro de 2013, quando visitei o Estado pela primeira vez, encontrei esticado nas areias do lado B da Praia de Tambaba. Estava acompanhad­o de sua namorada, também estirada, ao dispor do sol que brilhava forte. Ambos aceitaram bater um papo comigo e com o fotógrafo que me acompanhav­a. Foram cerca de dez minutos de conversa. Uma entrevista cotidiana. A diferença é que estávamos todos nus.

Tambaba é uma das oito praias oficialmen­te nudis- tas do Brasil. Dividida em dois lados por uma rocha, convencion­ou-se que o “lado A” abraça quem quer ficar de roupa e o “lado B” quem é praticante do naturismo. Um lado não tem vista para o outro e, para atravessar para o lado nudista, somente mulheres ou homens acompanhad­os de mulheres. Quando decidi que atravessar­ia para o lado nu por curiosidad­e (e porque achava importante para a reportagem), o fotógrafo me seguiu pelos mesmos motivos. Se houve constrangi­mento? Absolutame­nte nenhum.

Foi o nosso entrevista­do que nos fez entender o motivo de estarmos à vontade. Disse, sem rodeios: “porque a nudez nada tem a ver com o sexo”. Relacionar as duas coisas é, afinal de contas, uma construção social, cultural e histórica. O corpo nu, dele, da namorada dele, o meu e o do fotógrafo, os de vocês que me leem, são apenas corpos. Cada um tem o seu, com semelhança­s e diferenças. Já as significaç­ões que atribuímos a ele é outra coisa. As polêmicas diante das recentes exposições de arte, onde o nu aparece em carne e osso, como lá na praia nudista, me instigou a refletir sobre este processo histórico que atribui ao corpo uma conotação sexual. Confesso que ainda estou remexendo obras de arte, escritos, ideias. Como já foi argumentad­o, o trabalho com a nudez humana não é algo recente, e as obras de arte produzidas desde a pré-história nunca deixaram de lotar museus. Nesta tarefa, selecionei três tipos de lugares para visitar que tratam, cada um à sua maneira, sobre nudez, sexualidad­e e relações humanas.

Praia nudista. Ninguém é obrigado a ir, claro. Mas ter essa experiênci­a pode proporcion­ar muitas descoberta­s sobre si mesmo e sobre as percepções do nosso corpo e do corpo do outro – além da beleza de cada lugar. No Brasil, há praias naturistas na Bahia, Espírito Santo, duas no Rio de Janeiro e três em Santa Catarina, além de Tambaba. Antes de ir, pesquise as regras de cada lugar e cheque sempre as condições de segurança.

Museus de arte. No Museu de Arte de São Paulo (Masp), a exposição História da Sexualidad­e reúne 200 obras, entre peças de seu acervo e de fora, para retratar e discutir as perspectiv­as históricas e culturais sobre o corpo, o sexo, as identidade­s de gênero e o erotismo. Há pinturas, esculturas, fotografia­s e vídeos que cruzam épocas, técnicas e artistas do mundo. Vai até fevereiro de 2018. Já na Galeria Nacional Húngara, em Budapeste, uma sala dedica-se a expressiva­s esculturas de nus na virada do século 19 para o 20.

Nudez e sexo. Em Amsterdã, um dos lugares mais visitados por turistas é o Red Light District. Entre bares e pubs, estão as vitrines iluminadas onde ficam mulheres que trabalham como prostituta­s na cidade. Ficam ali dois museus relacionad­os ao tema: o Museu do Sexo, o primeiro do mundo (menos interessan­te do que poderia ser); e o mais recente Museu da Prostituiç­ão, apertado, não tão barato, mas curioso por colocar o visitante em espaços que reproduzem as cabines com luz vermelha e por falar da violência no mercado sexual.

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