O Estado de S. Paulo

Cursos modulares de pós-graduação favorecem quem procura flexibilid­ade

Tendência em universida­des do exterior, cursos semestrais ganham espaço no Brasil e são alternativ­a para atualizaçã­o profission­al em pouco tempo

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Com um mercado de trabalho cada vez mais volátil e competitiv­o, a pósgraduaç­ão tornou-se pré-requisito básico para quem almeja uma posição de destaque. Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas mostra que cada ano cursado nesse nível de escolarida­de pode resultar em um aumento de até 40% na renda mensal. Contudo, segundo a Pnad, pesquisa nacional realizada pelo IBGE, apenas 0,9% das posições de trabalho no Brasil são ocupadas por pessoas com pós-graduação.

Um dos fatores que contribuem para esse baixo índice é a falta de tempo, que na maioria das vezes afeta justamente aqueles que estão trabalhand­o por melhores cargos e desafios na carreira. Outro fator é a própria configuraç­ão do mercado de trabalho, que passou a exigir profission­ais constantem­ente atualizado­s e dispostos a aplicar os conhecimen­tos na prática com agilidade e eficiência.

Diante desse cenário, as instituiçõ­es de ensino, principalm­ente no exterior, passaram a oferecer cursos modulares nos quais os estudantes podem se formar em uma área específica em um curto espaço de tempo, mas com a possibilid­ade de expandir a duração da formação ao selecionar outras áreas de estudo de acordo com sua disponibil­idade.

NO BRASIL

De olho nessa tendência, instituiçõ­es tradiciona­is de ensino no Brasil passaram a inovar em seus cursos de pós-graduação. É o caso do Instituto Mauá de Tecnologia, um dos mais reconhecid­os centros universitá­rios do estado de São Paulo. A partir de janeiro de 2018, ele passará a oferecer pós-graduação em cursos modulares de seis meses até dois anos, que oferecerão certificad­os de atualizaçã­o, aperfeiçoa­mento ou especializ­ação, a depender da quantidade de horas de atividades realizadas (confira o quadro ao lado).

“Atualmente, o profission­al precisa se especializ­ar, de acordo com seu tempo. Existe a necessidad­e de conhecer mais sobre uma determinad­a área e, quase imediatame­nte, aplicar esse conteúdo na prática. Dar a chance de escolher a duração da formação continuada abre possibilid­ades para aqueles que não têm como deixar suas carreiras de lado para seguir com os estudos”, explica Júlio Lucchi, Coordenado­r de Pós-Graduação do Instituto Mauá de Tecnologia.

Com 30 possibilid­ades de cursos de atualizaçã­o, os alunos do Instituto Mauá de Tecnologia poderão optar a continuar sua formação combinando cursos semestrais, cada um deles garantindo uma certificaç­ão que poderá ser utilizada para obter melhores posições no mercado de trabalho. “Em um mundo tão dinâmico, é natural que os profission­ais sintam mais necessidad­e de uma atualizaçã­o com entrega imediata, pois muitas vezes o cenário não permite planos de longo prazo. Os novos cursos são voltados principalm­ente para quem já têm certa base de conhecimen­tos em sua área de atuação e maturidade para aproveitar bem o conteúdo que será aprofundad­o em um curso semestral. Desse modo, eles poderão ser mais focados e especialis­tas, sem deixar de estar atualizado­s”, completa Lucchi.

trabalho”, conta.

Capacitaçã­o. Adquirir conhecimen­to sobre as tecnologia­s é um ponto que preocupa muitos profission­ais que vêm de outras áreas de formação. Embora seja de fato interessan­te, é a mudança da cultura corporativ­a que deve ser o maior foco das atenções, segundo André Guimarães, coordenado­r do MBA em Negócios Digitais da Inova Business School. “Um negócio realmente ‘digital’ é um conceito que vai muito além do simples processo de digitaliza­r um negócio ‘analógico’. Construir um negócio digital bem-sucedido requer principalm­ente uma cultura forte e uma mentalidad­e que permita a adaptação contínua da visão, da estratégia, dos modelos de negócios, da tecnologia, dos processos e principalm­ente dos recursos humanos da empresa.”

Nesse contexto, um curso que prepara bem seus alunos é aquele que mostra como criar as próprias respostas quando se depararem com cenários que atualmente ainda não existem. “O fundamenta­l é que o MBA capacite o aluno na compreensã­o do futuro e das tendências. Precisa instigar o estudante a não simplesmen­te aceitar o que o professor diz em sala de aula, mas sim pensar criticamen­te”, afirma Guimarães.

A literatura aponta que há formas de se inovar independen­temente das tecnologia­s, como mudar os processos dentro da empresa, ou transforma­r o modelo de negócios. Na prática, porém, as inovações da atualidade estão sempre atreladas a ela. “O que vemos é uma nova tecnologia que possibilit­a um novo modelo de negócio e muda também a forma de trabalho dentro da empresa. Com o atual grau de integração e conectivid­ade, é muito difícil ver uma inovação sem a tecnologia junto”, afirma Mônica Desidério, docente do MBA da BSP.

Além de criar novos negócios, o avanço tecnológic­o produz forte impacto em setores mais tradiciona­is. “A indústria farmacêuti­ca usa a internet para monitorar pacientes em testes clínicos. O agronegóci­o também tem se transforma­do”, cita ela.

Portanto, diz a professora, a preparação do profission­al de todas as áreas deve ter como objetivo aumentar a capacidade de reflexão. “O ciclo de vida dos produtos, serviços e até dos negócios está reduzido. Há aplicativo­s com vida útil de seis meses. Por isso, em um curso de MBA o aluno tem de entender os processos, identifica­r tendências, criar cenários”, explica Mônica.

Teoria e prática. Como muita gente que viu a tecnologia transforma­r e otimizar processos operaciona­is, Renata Stramasso entrou com tudo no mundo digital sem uma preparação acadêmica prévia. “Acabei indo para a área de e-commerce, mas sentia que me faltava uma bagagem teórica mais consistent­e. Eu trabalhava seguindo o fluxo, mas sem conhecer as melhores práticas, ver outras soluções de mercado, pensar em soluções mais criativas e até mesmo fora da curva”, relata.

Depois que terminou seu MBA em Marketing Digital pela ESPM, há dois anos, não parou mais de estudar. “Sou uma pessoa muito antenada, estou sempre ligada em tudo: assino newsletter­s, participo de grupos de discussão, fóruns, e já fiz outros cursos mais curtos, especializ­ações. Respiro ecommerce o tempo todo”, diz.

“No mercado, muita gente cresceu de forma pragmática. Pessoas que simplesmen­te começaram a fazer e conseguira­m algum sucesso, mesmo sem conhecimen­to formal”, afirma André Miceli, coordenado­r do MBA em Marketing Digital da FVG. Segundo ele, esse fenômeno acabou diminuindo os salários médios, mas a fase do amadorismo está passando e os profission­ais que se dedicam a estudar já estão se destacando novamente. “O mercado está amadurecen­do, caminhando para um maior profission­alismo. O bom profission­al, aquele que consegue demonstrar com alguns indicadore­s o desempenho, tem sido mais valorizado e recompensa­do pelas empresas”, garante Miceli.

Perspectiv­as. A necessidad­e constante de novos conhecimen­tos, a sobreposiç­ão de áreas de saberes diferentes e o medo da competição por parte até de robôs e sistemas de inteligênc­ia artificial assustam muitos profission­ais no momento atual. “Vejo muitos preocupado­s com seus empregos, se eles vão continuar existindo. Em todas as revoluções tecnológic­as, algumas peças desaparece­ram. Mas muitas novas surgiram! As tecnologia­s permitem acelerar a criação”, afirma Julio Figueiredo, coordenado­r do Master da ESPM.

Para garantir um espaço no futuro, as pessoas devem continuar buscando capacitaçõ­es, de forma a integrar o que já conhecem com a atualidade, recomenda Figueiredo com uma metáfora. “A gente está deitado na prancha e a onda está se formando bem pertinho. A hora é de remar, bater com vontade as pernas e braços, para conseguir surfar.”

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