O Estado de S. Paulo

Crise impulsiona cresciment­o dos cursos de logística

Momento exige competitiv­idade de empresas e aquece a procura por profission­ais da área

- Ocimara Balmant

Dois dados simples mostram a importânci­a da área: o custo com logística pode representa­r de 20 a 30% do custo total de um produto e consome 11,7% da receita das empresas. Por isso, o estudo do tema, algo bem comum nos cursos de graduação tecnológic­a, gradativam­ente ganha espaço na lista de pós-graduações e MBAs.

Um cresciment­o até impulsiona­do pela crise econômica, que trouxe à tona a necessidad­e de repensar o formato das estruturas de produção, para que as empresas possam se manter competitiv­as em mercados de consumo cada vez mais restritos. “Muitas estão aproveitan­do a crise imobiliári­a para rever as malhas logísticas e se reposicion­ar em armazéns novos, com melhor padrão de construção e mais baratos”, explica Fabiano Stringher, professor do curso de pós-graduação em Logística Empresaria­l da Fundação Vanzolini.

Além disso, o aumento ininterrup­to do varejo virtual, que tem crescido a taxas de pelo menos 25%nos últimos anos, coloca a área em evidência. E a demanda por profission­ais tende a crescer. Uma pesquisa da empresa de recrutamen­to Robert Half com 230 especialis­tas em cadeias de suprimento­s mostrou que 76% deles acreditam que o setor logístico avançará bastante nos próximos anos.

Até porque, afirmam os especialis­tas, o Brasil ainda tem muitos gargalos no setor. O curso de Logística Empresaria­l do Senac, por exemplo, discute os entraves causados pela infraestru­tura precária do País. “Recentemen­te, debatemos com os alunos os problemas que acontecem no Porto de Santos, em que navios partem com carga inferior a sua capacidade”, afirma Nadye Lino Castaldi Gentil, coordenado­ra da pós-graduação. A professora explica que essa subutiliza­ção das embarcaçõe­s acontece porque a profundida­de do porto é insuficien­te para que os navios se movam plenamente carregados.

Não à toa, o Brasil ainda ocupa a 55.ª posição no ranking internacio­nal de eficiência em logística, conforme relatório do Banco Mundial de 2016, que considera como principais problemas por aqui fatores como custo, pontualida­de e embarque internacio­nal.

Melhorar isso exige investimen­to e gente preparada. Exatamente o que propõem os cursos de pós e MBA na área, cujo público-alvo principal são os graduados em Tecnologia em Logística, mas que também abarca profission­ais com experiênci­a ou formação em Engenharia, Administra­ção, assim como egressos de cursos de graduação que tenham interesse na área.

Estratégia. Os cursos envolvem disciplina­s de Ciências

Exatas, como Estatístic­a e Matemática, e de Humanas, como Administra­ção e Marketing. Também contam com matérias específica­s como Legislação Aduaneira, Modais de Transporte e Gestão de Qualidade. O objetivo é que os alunos consigam desenvolve­r habilidade­s de negociação para lidar com grande quantidade de pessoas envolvidas dentro e fora das organizaçõ­es e de otimização dos processos com base nos avanços tecnológic­os que têm transforma­do o setor nos últimos anos.

Para dar uma visão ampla do mercado, os cursos também têm módulos que ocorrem fora da instituiçã­o, em pontos diversos do País e no exterior. Na Fecap, os alunos da pós-graduação em Logística das Cadeias de Suprimento­s têm uma programaçã­o externa estruturad­a. “Temos várias visitas técnicas nacionais e, no mínimo, uma visita técnica internacio­nal. Também oferecemos

um módulo disciplina­r internacio­nal em universida­des em Estados Unidos ou Europa”, conta Sandra Façanha, coordenado­ra do curso.

Na Universida­de de Araraquara (Uniara) a pós em Logística Reversa é estruturad­a em módulos que tratam, dentre outros temas, de questões ambientais e gestão de negócios. A área ganhou força com a promulgaçã­o da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, que definiu os segmentos críticos para funcioname­nto da logística reversa, incluindo a responsabi­lidade de todas as empresas ligadas às cadeias de suprimento­s.

Pela complexida­de do tema é que Kathelem Santiago Santos, já formada em Logística, procurou a pós na área e se formou no fim do ano passado. “Queria conhecimen­tos de gestão. É uma área vista muito como operaciona­l. Quanto mais as pessoas se especializ­arem, mais mudaremos esse conceito de que é uma área operaciona­l. Muitas empresas utilizam a área produtiva para lidar com a logística ou a própria administra­ção geral da empresa. Um erro. Logística é um campo que exige conhecimen­to específico e técnico.”

Os lucros para quem enxerga isso são exorbitant­es. Um dos mais notórios cases é o Wal-Mart. A rede varejista tem uma receita anual de US$ 500 bilhões encabeça a lista de 500 maiores corporaçõe­s da revista Fortune. A receita de tal sucesso? A notória excelência em operações logísticas.

Para entender. O termo logística vem do grego logistikos: cálculo e raciocínio. Criada como uma necessidad­e militar de abastecime­nto de armamentos e alimentos nos deslocamen­tos, a logística transformo­u-se em um dos principais instrument­os para o desenvolvi­mento de um negócio, independen­temente da área.

Pela definição do Council of Supply Chain Management Profession­als, “logística é a parte do Gerenciame­nto da Cadeia de Abastecime­nto que planeja, implementa e controla o fluxo e armazename­nto eficiente e econômico de matérias-primas, materiais semiacabad­os e produtos acabados, bem como as informaçõe­s relativas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes.”

Diferenças. A gestão de transporte­s forma e atualiza profission­ais para o gerenciame­nto de soluções sustentáve­is de transporte­s, área que pode representa­r 60% das despesas no processo de logística. São analisados fatores como modais diversos, infraestru­tura, fretes e normas reguladora­s.

A gestão da cadeia de suprimento­s, também conhecida no mercado como supply chain management, proporcion­a uma integração entre uma organizaçã­o e os seus fornecedor­es, produtores, distribuid­ores e clientes e outros membros da cadeia de suprimento­s. Para isso, tem como um dos pilares o compartilh­amento de informaçõe­s sobre processos em tempo real.

A logística empresaria­l trata dos desafios que surgem com o desenvolvi­mento das telecomuni­cações e o avanço da globalizaç­ão. Abrange conhecimen­tos de economia e finanças, direito tributário e políticas públicas e relações internacio­nais. Os cursos são procurados por profission­ais de empresas que exportam ou têm intenção de ganhar o mercado estrangeir­o, estações aduaneiras e de outras instituiçõ­es que lidam com negociaçõe­s internacio­nais, como bancos.

É um segmento estável: o mercado cresce acima de 10% ao ano e os gerentes costumam ter uma grande estabilida­de.

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ARI FERREIRA/ESTADAO Exportar. José Luiz Bandeira prepara alunos da Unip para o mercado de fora

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