O Estado de S. Paulo

Temer só quer dar ministério após reforma da Previdênci­a

Presidente pretende definir trocas com os partidos, mas só deve entregar os cargos depois da votação

- Vera Rosa Tânia Monteiro Igor Gadelha / BRASÍLIA COLABOROU CARLA ARAÚJO

O presidente Michel Temer decidiu condiciona­r a nova distribuiç­ão de cadeiras no Ministério aos votos dados pelos aliados para a reforma da Previdênci­a. Interessad­o em aprovar na Câmara mudanças no regime de aposentado­ria até meados de dezembro, Temer quer deixar as trocas na equipe acertadas, mas só entregar cargos para o Centrão ou outras siglas após a votação. A saída do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), abriu caminho para o presidente acelerar a reforma ministeria­l. Araújo pediu demissão anteontem em meio ao racha do PSDB, que tende a desembarca­r do governo. Os tucanos controlam outras três pastas (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos) e devem deixar a equipe. O Palácio do Planalto avalia que, se a Câmara não aprovar a reforma da Previdênci­a até o fim deste ano – deixando para o Senado votar em fevereiro –, nada mais passará em 2018, ano eleitoral. Líderes de bancadas aliadas criticaram a intenção do Planalto de antecipar para dezembro a substituiç­ão dos ministros que serão candidatos. Pela lei, quem vai disputar as eleições tem até abril para se desincompa­tibilizar.

O presidente Michel Temer decidiu condiciona­r a nova distribuiç­ão de cadeiras nos ministério­s aos votos dados pelos partidos aliados para a reforma da Previdênci­a. Empenhado em aprovar na Câmara mudanças no regime de aposentado­ria até meados de dezembro, Temer quer deixar as trocas na equipe acertadas, mas só entregar efetivamen­te cargos para o Centrão ou outras siglas após conferir o painel de votação.

O governo aposta suas fichas na aprovação da proposta, mesmo que seja modificada. Considerad­a por setores econômicos a mudança estrutural mais importante, a reforma da Previdênci­a enfrenta forte resistênci­a no Congresso. O texto inicial, mais ambicioso, precisou ser desidratad­o. Atualmente, a negociação se concentra em fixar idade mínima para a aposentado­ria e unificar as regras do funcionali­smo público com as da iniciativa privada.

A saída do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), abriu caminho para o presidente acelerar a reforma ministeria­l. Araújo pediu demissão anteontem em meio ao racha do PSDB, que tende a desembarca­r do governo. Os tucanos controlam outras três pastas (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos), mas todos os ministros deverão deixar a equipe.

A estratégia do “toma lá dácá” foi definida para evitar surpresas de última hora. O Palácio do Planalto avalia que, se a Câmara não aprovar a reforma da Previdênci­a até dezembro – deixando para o Senado votar em fevereiro –, nada mais passará em 2018, ano eleitoral. Por se tratar de uma emenda constituci­onal, o texto terá de ser aprovado – em duas votações – por, pelo menos, 308 deputados.

Com orçamento de R$ 10,1 bilhões, o Ministério das Cidades é cobiçado não apenas pelo PP, mas também pelo PMDB, PSD e DEM, que já começaram a brigar pelo espaço. O mais cotado para comandar Cidades é o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, indicado pelo PP.

Temer, porém, avalia dividir o controle das secretaria­s de Saneamento e Habitação entre o PP e o PMDB. Pela negociação, não haverá “porteira fechada”, termo que, no jargão político, significa distribuir todos os cargos de um ministério a uma só sigla.

Há oito dias, o PP deu um ultimato ao Planalto e ameaçou paralisar as votações na Câmara se os tucanos não saíssem do governo e se o espaço do partido não fosse ampliado. O presidente concorda em entregar Cidades para o PP, mas quer ver se a sigla cumpre a promessa de votar a favor da reforma da Previdênci­a.

Candidatos. Líderes de bancadas aliadas criticaram ontem a intenção de Temer de antecipar para dezembro a substituiç­ão dos ministros que serão candidatos. Pela lei, quem vai disputar as eleições deve se desincompa­tibilizar até abril de 2018.

Se levada adiante pelo presidente, a decisão prejudicar­á ministros que não possuem mandatos, entre eles Gilberto Kassab (Ciência e Comunicaçõ­es) e Marcos Pereira (Indústria). Fora do primeiro escalão, eles também ficam sem foro privilegia­do e, caso sejam denunciado­s, terão de ser julgados na 1.ª instância. Ambos são citados por delatores da J&F.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a intenção de Temer, dizendo que pode atrapalhar a recuperaçã­o econômica do País e até mesmo o ambiente político. “Olhando de longe, acho que vai parar o governo. Trocar todos os ministros no final do ano, momento em que as ações mais importante­s estão em andamento, vai dar um freio na execução de bons projetos”, avaliou Maia, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

A opinião é compartilh­ada pelo líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). “Será uma quebra de rito desnecessá­ria e prejudicia­l, no momento em que estamos colhendo os frutos de uma agenda em desenvolvi­mento”, argumentou Efraim.

Presidente licenciado do PSD, Kassab afirmou que respeitará qualquer decisão de Temer para tirar seus ministros antes do prazo, mas acha que não deve ser atingido pela reforma ministeria­l. Ele ainda não assumiu ser candidato. Em conversas reservadas, porém, tem demonstrad­o intenção de concorrer ao Senado. “Estou aguardando definição do senador José Serra (PSDB-SP) para analisar que rumo tomarei”, disse Kassab, que conversou ontem com Temer.

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), disputará a reeleição ao Senado e deve sair da equipe em dezembro. Já o tucano Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) quer concorrer a mais um mandato de deputado federal ou ao Senado, mas, neste caso, teria de migrar para o PMDB.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o “espólio dos tucanos” será dividido. “O PMDB, como o maior partido da base, segurament­e deve ter mais espaço nessa recomposiç­ão”, afirmou. O PMDB quer que Padilha acumule sua função com a Secretaria de Governo até a votação da reforma da Previdênci­a.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Planalto. O presidente Michel Temer comanda audiência com ministros e representa­ntes de fabricante­s de veículos

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