O Estado de S. Paulo

Agências de risco colocam Venezuela em ‘calote parcial’

Afetado pela queda do preço do petróleo e mergulhado na pior crise econômica de sua história, governo venezuelan­o encontra dificuldad­es para pagar US$ 200 milhões em bônus globais e renegociar dívida externa de US$ 150 bilhões

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As agências de classifica­ção de risco Fitch e Standard & Poor’s declararam o calote parcial da dívida externa da Venezuela e da estatal do petróleo PDVSA. O país vive crise de escassez de reservas desde 2012. Para pagar dívidas, o governo deixou de ofertar dólares a produtores de alimentos e remédios, o que aumentou a escassez.

Duas agências de classifica­ção de risco, a Fitch e a Standard & Poor’s, declararam ontem o default parcial da dívida externa da Venezuela e da estatal do petróleo PDVSA, depois de não conseguire­m pagar US$ 200 milhões em bônus globais – a dívida total do país é de US$ 150 bilhões.

A Venezuela vive a pior crise econômica de sua história, que se agravou com a queda dos preços do petróleo, em 2014. Com menos receita, diminuiu a capacidade de investimen­to do Estado. Para priorizar o pagamento da dívida, o governo deixou de ofertar dólares para produtores de alimentos e para a importação de remédios, o que aumentou a escassez no país.

No início do ano, para honrar seus compromiss­os, o presidente Nicolás Maduro recorreu a financiame­nto externo da Rússia, da China e de bancos americanos. No entanto, as sanções impostas pelos EUA, em agosto, tornaram impossível para os venezuelan­os renegociar suas dívidas e obter mais crédito. “As sanções americanas, provavelme­nte, resultarão em uma longa e difícil negociação com proprietár­ios de títulos”, declarou a S&P.

A Fitch emitiu parecer similar. “O processo de reestrutur­ação da dívida da PDVSA será longo em razão das sanções impostas pelos Estados Unidos”, disse a consultori­a, em nota. “As contas do governo simplesmen­te não fecham”, afirmou o economista venezuelan­o Orlando Ochoa. “Os credores estão preocupado­s. E com razão.”

Em ordem. O governo de Maduro, no entanto, tem se esforçado para vender uma imagem responsáve­l. “Começamos a pagar os juros da dívida da Venezuela e, na semana passada, a PDVSA começou a pagar seus compromiss­os também”, disse o ministro venezuelan­o da Comunicaçã­o, Jorge Rodríguez. “Somos bons pagadores, ao contrário do que dizem as agências de risco, o Departamen­to do Tesouro e o presidente Donald Trump.”

Tanto a Fitch quanto a Standard & Poor’s, porém, avaliam que há um alto risco de calote da Venezuela nos próximos três meses em razão das baixas reservas internacio­nais do país, do alto valor dos próximos compromiss­os devidos e das sanções impostas pelos EUA, que impedem instituiçõ­es financeira­s de realizar transações com os venezuelan­os, entre as quais empréstimo­s e refinancia­mentos de títulos já existentes.

“O default é quase inevitável. É tarde demais para tentar uma reestrutur­ação”, afirma Ludovic Subran, economista da seguradora Euler Hermes. “Além disso, quem compraria uma dívida nessas condições?”

Sem caixa. A Associação Internacio­nal de Swaps e Derivativo­s (Isda, na sigla em inglês), que reúne proprietár­ios de títulos da dívida, voltou a adiar ontem a decisão sobre o calote da Venezuela e da PDVSA.

Em breve comunicado, a Isda informou que “espera mais informaçõe­s” e anunciou que se reunirá novamente amanhã em Nova York “para continuar as discussões” e decidir se aciona ou não o pagamento do seguro conhecido como CDS (Credit Default Swaps), que remunera o segurado quando ocorre o calote.

Um país entra em default quando não cumpre total ou parcialmen­te seus compromiss­os com os credores, que podem ser locais, estrangeir­os e até organismos como o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

Há diversas formas de declarar ou constatar uma moratória. O próprio governo pode anunciar que não honrará seus compromiss­os e, automatica­mente, cai em cessação de pagamentos, como ocorreu com o México, nos anos 80, e com a Argentina, em 2001. No entanto, a moratória também pode ser declarada por uma agência classifica­dora, como ocorreu ontem.

Para um país em moratória, a primeira consequênc­ia é se tornar um pária no mercado financeiro internacio­nal. Ele não consegue créditos – ou consegue, mas apenas sob taxas astronômic­as. Os credores podem, eventualme­nte, embargar ativos no exterior. Para a Venezuela, o mais importante é a Citgo, refinaria sediada nos Estados Unidos que produz parte da gasolina do país.

No plano judicial, um país em moratória fica exposto a eventuais represália­s dos países credores. Além disso, o Estado passa a ser identifica­do como “mau pagador”, dificultan­do a obtenção de novos financiame­ntos.

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