O Estado de S. Paulo

ZIKA E CRISE DERRUBAM TAXA DE NATALIDADE

Foi a 1ª queda desde 2010; IBGE registra ainda menos casamentos e mais divórcios

- Roberta Jansen / RIO

Foram registrado­s 2.793.935 nascimento­s no País no ano passado, queda de 5,1% em relação a 2015 e a primeira redução em sete anos. Crise econômica e a epidemia de zika estão entre as prováveis causas para o adiamento da maternidad­e. Também caiu o número de casamentos e aumentou o de divórcios.

O total de nascimento­s em 2016 no País teve forte queda – a primeira desde 2010 e uma das maiores já registrada­s – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) divulgados ontem. Foram 2.793.935 registros, uma redução de 151 mil em relação a 2015 ou 5,1%. Além do envelhecim­ento da população, a crise econômica e a epidemia do vírus zika são apontadas como causas do recuo de natalidade.

“Está em curso uma mudança demográfic­a que vai nos afetar nos mais diferentes aspectos”, explica o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Quando a taxa de mortalidad­e cai, é natural que, em um segundo momento, caia a de natalidade. É um movimento natural, já estava previsto.”

Mas a queda foi bem maior que o esperado, indicando que outros fatores podem ter contribuíd­o para impulsiona­r o fenômeno. Embora a pesquisa não aponte as causas, os demógrafos do IBGE acreditam que a epidemia de zika que assolou o País entre 2015 e 2016 estaria por trás da decisão de muitas mulheres de adiar a maternidad­e. O Estado que apresentou o maior recuo (10%) foi Pernambuco, justamente um dos mais atingidos pela doença e pelo surto de microcefal­ia nos bebês cujas mães contraíram o vírus durante a gravidez.

“As taxas de natalidade e fecundidad­e vêm caindo no Brasil, mas o tamanho desse recuo no ano passado chamou a atenção” explica Klívia Brayner de Oliveira, gerente da pesquisa Estatístic­as do Registro Civil 2016. A crise econômica e as altas taxas de desemprego também teriam contribuíd­o para a redução dos nascimento­s. A maior variação negativa foi na Região Centro-Oeste (5,6%).

Uniões e divórcios. O mau momento econômico seria ainda responsáve­l por menos casamentos. O levantamen­to do IBGE revela que foram registrada­s 1.095.535 uniões no ano passado, 3,7% a menos do que em 2015. “Com a crise, havia muita incerteza, muita gente desemprega­da”, afirma a demógrafa do IBGE Leila Ervatti. “É natural que as pessoas adiem os planos de casamento.”

O economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concorda com a colega. “Decisões menos mecânicas, que as pessoas tomam mais racionalme­nte, como casar e ter filhos, tendem a ser influencia­das por crises.”

Os brasileiro­s também se separaram mais no ano passado. De acordo com a pesquisa do IBGE, foram 344.526 divórcios no País em 2016, 4,7% a mais do que no ano anterior, a maior parte consensual.

Embora na maioria das vezes a guarda dos filhos tenha ficado com a mulher (74,4%), foi observado um aumento significat­ivo na guarda compartilh­ada. Passou de 12,9% em 2015 para 16,9% no ano passado. “O número de separações vem aumentando desde 2010, quando todos os entraves legais para o divórcio foram retirados”, afirma Klívia. “A facilidade legal deixou as pessoas mais à vontade com o divórcio.”

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