O Estado de S. Paulo

Reforma trabalhist­a

Presidente da Câmara, apesar de concordar com alterações, queria mudança por projeto de lei e afirma que decisão é ‘erro histórico’

- BRASÍLIA FERNANDO NAKAGAWA, CARLA ARAÚJO, IDIANA TOMAZELLI, IGOR GADELHA E TÂNIA MONTEIRO

Governo edita MP com ajustes na nova legislação

O governo editou ontem por Medida Provisória os ajustes da nova legislação trabalhist­a. A publicação aconteceu com atraso de quase quatro dias, já que a promessa do governo era publicar junto com a entrada em vigor da reforma, o que ocorreu no sábado. O texto confirma os ajustes citados na sexta-feira pelo ‘Estadão/Broadcast’, como mudança na regra do trabalho insalubre de grávidas e restrição para contrataçã­o de autônomos. A MP não prevê nova fonte de financiame­nto dos sindicatos.

A demora para a edição da MP foi gerada por um disputa política entre o presidente Michel Temer, que queria a MP como instrument­o para o ajuste da reforma trabalhist­a, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que rejeitava a opção do Planalto do Planalto e pedia um Projeto de Lei para que a Câmara pudesse participar da discussão sobre o ajuste.

A disputa foi vencida pelo presidente Temer, mas Maia não escondeu a contraried­ade e ainda sinalizou que pode atrapalhar a tramitação na Casa. Em entrevista ao Broadcast após o anúncio de que a mudança seria por MP, o presidente da Câmara disse haveria “erro histórico” ao decidir pelo envio de uma MP. “Ele (Temer) pode tudo nas atribuiçõe­s dele, eu posso tudo nas minhas”, disse Maia. “Posso pautar, posso não pautar.”

Apesar da disputa em torno do processo político de aprovação desse ajuste, o conteúdo do ajuste da legislação era ponto de concordânc­ia entre Temer e Maia. Entre as mudanças confirmada­s pelo texto da MP 808, está a necessidad­e de acordo coletivo para jornada de 12 horas com exceção de trabalhado­res da saúde que poderão ter acordo individual, proibição de cláusula de exclusivid­ade para autônomos e carência obrigatóri­a de 18 meses para admitir ex-funcionári­o em contrato intermiten­te.

A MP também confirma que eventuais indenizaçõ­es em processos trabalhist­as usarão o benefício da Previdênci­a como referência e não salário do empregado para o cálculo desse valor. Além disso, grávidas e lactantes serão afastadas de trabalho insalubre, mas poderão trabalhar com insalubrid­ade mínima e média após laudo médico que aprove a volta ao trabalho.

Sindicatos. Sobre o funcioname­nto dos sindicatos, a MP não prevê qualquer nova forma de financiame­nto dessas organizaçõ­es que terão de encontrar novas fontes de recursos após o fim do imposto sindical.

Nessa área, a medida provisória cita apenas que a comissão de representa­ntes instalada na empresa não poderá substituir função do sindicato

Coube ao presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira, anunciar que o presidente havia convencido Maia. “Ele foi convencido de que havia um acordo que seria por MP”, disse Eunício, negando qualquer desentendi­mento.

Maia não pareceu convencido. “Vai ser um erro histórico. Mas não sou presidente da República. Quando a matéria chegar na Câmara, vou decidir o que fazer”, disse.

Ele evitou, no entanto, ameaçar a votação da matéria. “Não estou decidindo que não vou votar. Acho que MP enfraquece o Parlamento”, afirmou o presidente da Câmara /

Polêmica “Não estou decidindo que não vou votar. Acho que Medida Provisória enfraquece o Parlamento.” Rodrigo Maia PRESIDENTE DA CÂMARA

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UESLEI MARCELINO/REUTERS-7/6/2017 Reforma da reforma. Eunício diz que Temer convenceu Maia de que mudança seria por MP

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