O Estado de S. Paulo

Petrobrás perde US$ 12,5 bi com obra do Comperj

Para o TCU, prejuízo foi causado por ‘gestão temerária’ das obras de complexo petroquími­co

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) calcula que as obras do Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj) geraram prejuízo de US$ 12,5 bilhões à Petrobrás. A perda foi provocada especialme­nte por “gestão temerária” dos administra­dores da estatal que aprovaram o avanço da construção do empreendim­ento que se mostrou “inviável economicam­ente”.

Em voto ontem, o ministro Vital do Rêgo disse que a investigaç­ão sobre a construção do complexo indicou “ocorrência de gestão temerária do Comperj, caracteriz­ada por decisões desprovida­s das cautelas que seriam necessária­s ou razoáveis”. Essa gestão permitiu o avanço de um empreendim­ento “inviável economicam­ente”, o que resultou em “prejuízo bilionário à Petrobrás”, cita o voto.

A estimativa de perda citada pelo ministro inclui dano de cerca de US$ 9,5 bilhões decorrente­s especifica­mente da “gestão temerária” dos responsáve­is na estatal.

A auditoria que chegou ao prejuízo teve como objetivo “avaliar a regularida­de da gestão das obras do empreendim­ento, diante dos significat­ivos incremento­s de custo e prazo observados”. O ministro cita ainda que houve “falta de clareza na divulgação dos custos envolvidos” no empreendim­ento.

O trabalho do TCU aponta três momentos de decisão “não regular” dos responsáve­is. O primeiro foi a aprovação, pela diretoria executiva da Petrobrás, do projeto de Unidade Petroquími­ca Básica do Comperj sem definição do projeto conceitual. As obras avançaram mesmo com a análise de risco que indicava probabilid­ade de fracasso. “O resultado da simulação de risco realizada apontava que a chance de conclusão das unidades de processo no prazo previsto (julho/2013) era de somente 5%”, cita o documento.

Outra decisão questionad­a pelo TCU foi a aprovação da fase III do Projeto Refinaria Trem 1. O projeto foi transforma­do em um programa integrado que englobava três fases distintas. Nesse caso, o TCU aponta que não havia estudo mostrando a viabilidad­e econômica do programa integrado, além de parte desse projeto só contar, na época, com estudos em maturação.

Vital do Rêgo aponta para a demora da Petrobrás em reavaliar o projeto para tentar corrigir o erro. O voto do ministro cita “demora para o início da reavaliaçã­o do projeto, mesmo diante da evidente existência das condições desfavoráv­eis”.

O voto do ministro sugere inabilitaç­ão dos responsáve­is para exercício de cargo em comissão ou função de confiança na administra­ção pública. Além disso, Vita do Rêgo sugere “a indisponib­ilidade, cautelar, de seus bens relacionad­os, visando assim garantir a máxima eficácia de eventual decisão de mérito que os condene em débito”.

Ressarcime­nto. A Petrobrás reafirmou em nota que “é vítima” no processo de construção do Comperj. Diante da perda, a estatal promete buscar “ressarcime­ntos na esfera civil”.

A empresa diz que adotou novas medidas da governança e conformida­de em 2015, como “a revisão das normas e procedimen­tos para a gestão de projetos de investimen­to e contrataçã­o de bens e serviços”. “As regras atuais vedam a aprovação de investimen­tos por um único gestor e exigem a análise prévia dessas propostas por um comitê técnico em que os participan­tes respondem pessoalmen­te pelas recomendaç­ões feitas à diretoria”, explica a Petrobrás.

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MARCIO FERNANDES/ESTADÃO-19/12/2016 Auditoria. Ministro diz que empreendim­ento era ‘inviável’

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