O Estado de S. Paulo

Da melancolia contida ao êxtase pop

Popload Festival marca o retorno da efusiva Phoenix, a instigante PJ Harvey e a tristonha Daughter a SP

- Pedro Antunes

“Adoro essas misturas”, animase Igor Haefeli, o integrante do trio Daughter, nascido na Suíça, embora o sotaque mostrado do venha do outro lado da linha seja muito similar ao britânico. “Particular­mente, eu gosto muito de festivais, dessa energia em torno da música, mesmo que não seja necessaria­mente a sua banda preferida no palco. Acho que o trabalho de PJ Harvey é lindo e o Phoenix, nossa, eles têm um show incrível.”

De fato, Haefeli, fez bem a lição de casa sobre o festival que trará o grupo inglês pela primeira vez a São Paulo. Seu Daugher, no qual ele toca guitarra ou baixo, dependendo do instrument­o escolhido pela vocalista Elena Tonra, é esteticame­nte oposto às atrações que virão na sequência do Popload Festival. E celebra essa diferença.

De fato, é a função de um festival apresentar diálogos entre artistas que nem sempre estão na mesma “prateleira”. Tal qual fez no ano passado, quando uniu na mesma noite a serenidade abatida do Wilco e a sujeira efervescen­te do Libertines, o festival aposta na reinvenção ambulante de Polly Jean Harvey, a incrível PJ Harvey, e na festividad­e estranho-pop da banda francesa Phoenix. Entre as atrações brasileira­s, há o fino do indie nacional, da poesia los hermânica lambuzada de distorção da Ventre e a força inigualáve­l do discurso e canto de Salma Jô e sua banda Carne Doce.

Realizado pela primeira vez no Memorial da América Latina, o Popload Festival cresce em dimensão – cuja espaço tem capacidade para 10 mil pessoas, dois mil a mais do que o número de público da edição do ano passado, realizada no Urban Stage, na zona norte da cidade. O festival também irá operar em um sistema cashless, ou seja, sem o uso de dinheiro. Em vez de ingressos, os pagantes recebem uma pulseira equipada de um chip que deve ser carregada e usada como um cartão pré-pago dentro da arena. A “escalação” gastronômi­ca conta com A Casa do Porco Bar, Bar da Dona Onça, Casa Manioca, Z-Deli, entre outros.

Na contramão dessa expansão, o Daughter canta o sentimento enclausura­do, guardado lá dentro. Por isso, a sensação de aconchego produzida por

Heafeli e o francês Remi Aguilella, responsáve­l pela pouco expressiva bateria. Juntos, eles formam o quarto quentinho, enquanto a voz Elena Tonra, toma

a forma da manta felpuda que irá cobrir o ouvinte com carinho. É facilmente confundido com o fofolk (subgênero do folk com excessos de candura), mas

o Daughter traz mais elementos, experiment­ando texturas, frios e calores.

Não é acaso que Youth, single do disco de estreia deles, o If You Leave, lançado em 2013, tenha sido escolhido para integrar a trilha sonora da série Grey's Anatomy, a apelação emocional e desesperad­ora que narra o cotidiano de um hospital e seus médicos. É um canto meio jururu, meio pop, e contagiant­e para quem gosta de altas doses de melancolia invejadas nas veias. “Para nós, não importa como a ideia para uma canção começa”, diz o músico, “e, sim, o sentimento com o qual ela dialoga. Queremos provocar algo nas pessoas.”

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FJ ALLEN
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MATHIAS LOEVGREEN BOJESEN/REUTERS Daugher. Trio (esquerda), de Aguilella, Elena e Haefeli; acima, PJ Harvey

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