O Estado de S. Paulo

Empurrar a Previdênci­a para o Congresso não ajuda, diz Maia

Em resposta à estratégia do Planalto, deputado diz que aprovação da reforma da Previdênci­a exige esforço ‘coletivo’

- Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados Igor Gadelha Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou o que considera uma tentativa do governo de transferir a responsabi­lidade pela aprovação da reforma da Previdênci­a ao Congresso Nacional. “Empurrar a responsabi­lidade não ajuda. Tenho grande clareza de que a matéria precisa ser votada o mais rápido possível”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. Ele ressaltou que a responsabi­lidade pela aprovação da reforma é de todos, “coletiva”.

Embora ainda não tenha os votos necessário­s para aprovação de uma reforma mais enxuta, o governo tem seguido firme a estratégia de dividir o peso político da tarefa com os parlamenta­res. Eles resistem em aprovar medidas impopulare­s em ano eleitoral.

Maia acredita que é possível votar ainda este ano a versão enxuta da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que muda as regras da Previdênci­a. Uma reforma mínima teria fixação de uma idade para aposentado­ria, regra de transição e mudanças no regime dos servidores. Ele disse também que será um “passo gigante” se a reforma aprovada pelo Congresso preservar 50% da economia prevista com o texto original do governo, ou seja, metade dos R$ 800 bilhões em 10 anos estimados inicialmen­te.

O ministro Eliseu Padilha disse que é responsabi­lidade “principalm­ente” do Parlamento decidir se quer a sustentabi­lidade da Previdênci­a. Como o sr. vê isso? Esse tipo de declaração do meu amigo Eliseu não ajuda. A responsabi­lidade é de todo mundo. É coletiva, do Executivo, do Legislativ­o, do Judiciário, da sociedade. Empurrar a responsabi­lidade não ajuda.

Tenho o maior prazer de falar que tenho responsabi­lidade e uma grande clareza de que essa matéria precisa ser votada o mais rápido possível. Todos que estão comandando o País precisam ter a compreensã­o do que vai representa­r a votação ou não da reforma da Previdênci­a, se possível ainda este ano, na Câmara.

“Se possível” por quê? Vamos trabalhar para votar. Os números são de calamidade fiscal. A reforma basicament­e está reorganiza­ndo o sistema para que aqueles que ganham menos, e que são os que se aposentam com mais idade, não continuem financiand­o os que ganham mais. Há uma distorção grande no sistema. É isso que se fala quando se menciona “privilégio”.

A reforma mínima vai incluir então só idade mínima e regras de servidores?

Isso é com o relator. Não quero assumir a responsabi­lidade. Não é que eu não esteja disposto a ajudar, mas acho que estaria reduzindo a importânci­a do Arthur Maia, que está fazendo um excelente trabalho. Cabe a ele tratar disso. Minha posição é a seguinte: negocie o texto, apresente o texto e vamos trabalhar juntos 24 horas para que a gente tenha isso resolvido ainda este ano.

Os pontos retirados podem vir por MP ou projeto de lei. Há essa janela para votar esses pontos após a PEC?

Por projeto de Lei, sim. Por Medida provisória, não. Se for necessário, podemos sim. Tenho certeza que aquilo que teremos condições de votar é a parte mais importante.

As mudanças na paridade do servidor e que tiram o limite para acúmulo de pensões e aposentado­ria não quebram o discurso de combate a privilégio­s?

Não. Estou dizendo o seguinte: nosso foco principal é combater privilégio­s. E vai continuar sendo. Não estou dizendo que essa parte vai sair. Tudo que for para reorganiza­r o sistema, garantir um sistema saudável, temos que fazer. É muito claro onde está o problema. O problema não está no servidor, está no sistema de previdênci­a de um País que, em 15 anos, vai ser mais velho que a Europa.

Quando será a votação?

Se eu der uma data... estou no meio de uma semana que foi devagar, a Câmara não teve trabalho. Tem muito deputado que não está aqui. Não posso dizer que vai ser daqui uma semana. Agora, quero dizer que vamos fazer todos os esforços e chamar os governador­es, os prefeitos, que têm influencia sobre os deputados, e também os servidores públicos.

Mas não tem uma data limite, dado o ano eleitoral?

Nós vamos votar. Não há outra alternativ­a hoje no Brasil para resolver situação fiscal da União, dos Estados e municípios. O governo está se reorganiza­ndo. Com base reorganiza­da, volta a ter condições de discutir o assunto. Agora, eu preciso ter um texto. O Arthur Maia ficou de apresentar o texto. Eu sei que o texto vem menor do que saiu na comissão, isso também já ajuda muito.

A reforma ministeria­l vai bastar para votar a reforma da Previdênci­a?

Não é só um ministério ou uma emenda que vai nos dar a clareza da importânci­a da votação. Acho que tem mais de 300 deputados que têm certeza de que vai ter que votar a Previdênci­a. Só que muitos têm dúvida do impacto que a Previdênci­a vai ter na sua base eleitoral. Por isso a comunicaçã­o é tão importante.

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ANDRE DUSEK/ESTADAO Previdênci­a. Para Maia, houve falha na comunicaçã­o de mudanças contidas na reforma

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