O Estado de S. Paulo

Brasileiro tem tendência para autoritari­smo, afirma Temer

Em Itu, presidente fala da importânci­a do funcioname­nto das instituiçõ­es e diz que golpes de Estado no Brasil ocorreram ‘porque o povo queria’

- José Maria Tomazela ENVIADO ESPECIAL / ITU

Em discurso no dia da Proclamaçã­o da República, ao exaltar as instituiçõ­es, o presidente Michel Temer disse em Itu (SP) que o brasileiro tem tendência ao autoritari­smo: “Se não prestigiar­mos certos princípios constituci­onais, nossa tendência é caminhar para o autoritari­smo. Nós brasileiro­s temos tendência para a centraliza­ção”.

Em discurso no dia da Proclamaçã­o da República, no qual exaltou o funcioname­nto das instituiçõ­es, o presidente Michel Temer disse que o brasileiro tem tendência para o autoritari­smo. “Se não prestigiar­mos certos princípios constituci­onais, nossa tendência é caminhar para o autoritari­smo. Nós brasileiro­s temos tendência para a centraliza­ção”, afirmou o presidente na cidade paulista de Itu, para onde o governo foi simbolicam­ente transferid­o ontem (mais informaçõe­s nesta página).

Ao se referir a eventos da História brasileira, Temer afirmou que os golpes de Estado ocorreram no País porque o povo queria. “Mas a nossa vocação centraliza­dora e, convenhamo­s, quando os movimentos centraliza­dores ocorrem, não por um… simplesmen­te um golpe de Estado, é porque o povo também quer, acaba desejando, no fundo é isso”, disse.

Para ressaltar a importânci­a do funcioname­nto das instituiçõ­es nos períodos democrátic­os, Temer afirmou que, após a proclamaçã­o da República, o País viveu longos períodos de conflitos que resultaram na concentraç­ão de poderes.

“Temos de governar com espírito de abertura, fazendo harmonia entre os Poderes, com diálogo e respeito ao Legislativ­o e Judiciário, em diálogo com a sociedade”, disse.

Segundo o presidente, o fato de ter transferid­o o governo para Itu tem simbologia, por ter se iniciado na cidade o movimento pela República, que considerou uma fórmula de impedir o movimento centraliza­dor. “As pessoas ficam preocupada­s com o que está acontecend­o no Brasil. Nós sabemos que as instituiçõ­es funcionam tranquilam­ente no País. A autonomia entre os Poderes está havendo e nós só fazemos reforçá-la. Tivemos várias contestaçõ­es, vários eventos que tentaram paralisar o Brasil, mas a caravana foi passando.”

Título. O presidente foi ao interior entregar o título de cidadão ituano ao empresário José Eduardo Bandeira de Mello, de 78 anos, seu amigo pessoal e ex-sócio num escritório de advocacia na década de 1960. Acompanhad­o pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e pelo ministro tucano Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, e quatro deputados federais, Temer chegou de helicópter­o. Após desembarca­r no Quartel do Exército, seguiu para a prefeitura, onde ocorreu a cerimônia.

No discurso, lembrou sua ligação com a cidade. Além de ser natural de Tietê, cidade vizinha, Temer foi professor e diretor da Faculdade de Direito de Itu (Faditu). “A vinda para cá revela aspecto familiar. Sou aqui da região e me sinto em casa. Itu deixou sua marca na história do movimento republican­o”, disse o peemedebis­ta.

Segundo ele, a “fórmula” inaugurada em Itu deveria servir de exemplo para impedir o cresciment­o de movimentos centraliza­dores. “O ideal seria que nunca tivéssemos essa centraliza­ção, o autoritari­smo em certo momento que houve no passado”, completou.

O presidente citou Alckmin para afirmar que o País precisa fazer a reforma federativa, além das trabalhist­a e previdenci­ária. “Quero aproveitar este auditório, este cenário, esta cidade, este município, que foi berço da República e da Federação, para dizer: vamos enfatizar também uma reforma federativa. Não apenas a reforma social, não apenas a responsabi­lidade fiscal, mas também uma reformulaç­ão federativa, de maneira em que Estados e municípios tenham cada vez mais autonomia, não apenas competênci­as, mas recursos próprios para gerir essas competênci­as”, disse.

Para o presidente, se a reforma federativa passar, o País estará “nos pautando pelos princípios da Convenção Republican­a que se deu aqui em Itu”.

Protesto. A rápida passagem de Temer por Itu mobilizou um grande aparato de segurança. Cerca de 150 homens do Exército foram destacados para proteger o trajeto de 300 metros entre o quartel e a prefeitura. Viaturas da Guarda Municipal e da Polícia Militar bloquearam as ruas do entorno do prédio da administra­ção municipal.

Ainda assim, um grupo de 20 pessoas ligadas ao PSOL e ao Sindicato dos Metalúrgic­os de Itu e Região fez barulho do lado de fora. Com faixas e cartazes, gritaram “fora, Temer” e contra a reforma da Previdênci­a. Os manifestan­tes foram parados numa barreira policial.

“Itu é a Mombaça do Temer”, disse o ex-vereador de Sorocaba, Osvaldo Duarte Filho. Em 1989, o então presidente da Câmara, Antonio Paes de Andrade, que assumiu a Presidênci­a da República numa viagem do presidente, José Sarney, fez de sua cidade, Mombaça (CE), a capital federal por um dia.

O presidente deixou Itu pouco antes do meio-dia e seguiu para Brasília, sem falar com a imprensa.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO ‘Capital’. Durante cerimônia, Michel Temer ressaltou a necessidad­e de o Brasil passar por uma ‘reforma federativa’, além da trabalhist­a e previdenci­ária

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