Brasileiro tem tendência para autoritarismo, afirma Temer
Em Itu, presidente fala da importância do funcionamento das instituições e diz que golpes de Estado no Brasil ocorreram ‘porque o povo queria’
Em discurso no dia da Proclamação da República, ao exaltar as instituições, o presidente Michel Temer disse em Itu (SP) que o brasileiro tem tendência ao autoritarismo: “Se não prestigiarmos certos princípios constitucionais, nossa tendência é caminhar para o autoritarismo. Nós brasileiros temos tendência para a centralização”.
Em discurso no dia da Proclamação da República, no qual exaltou o funcionamento das instituições, o presidente Michel Temer disse que o brasileiro tem tendência para o autoritarismo. “Se não prestigiarmos certos princípios constitucionais, nossa tendência é caminhar para o autoritarismo. Nós brasileiros temos tendência para a centralização”, afirmou o presidente na cidade paulista de Itu, para onde o governo foi simbolicamente transferido ontem (mais informações nesta página).
Ao se referir a eventos da História brasileira, Temer afirmou que os golpes de Estado ocorreram no País porque o povo queria. “Mas a nossa vocação centralizadora e, convenhamos, quando os movimentos centralizadores ocorrem, não por um… simplesmente um golpe de Estado, é porque o povo também quer, acaba desejando, no fundo é isso”, disse.
Para ressaltar a importância do funcionamento das instituições nos períodos democráticos, Temer afirmou que, após a proclamação da República, o País viveu longos períodos de conflitos que resultaram na concentração de poderes.
“Temos de governar com espírito de abertura, fazendo harmonia entre os Poderes, com diálogo e respeito ao Legislativo e Judiciário, em diálogo com a sociedade”, disse.
Segundo o presidente, o fato de ter transferido o governo para Itu tem simbologia, por ter se iniciado na cidade o movimento pela República, que considerou uma fórmula de impedir o movimento centralizador. “As pessoas ficam preocupadas com o que está acontecendo no Brasil. Nós sabemos que as instituições funcionam tranquilamente no País. A autonomia entre os Poderes está havendo e nós só fazemos reforçá-la. Tivemos várias contestações, vários eventos que tentaram paralisar o Brasil, mas a caravana foi passando.”
Título. O presidente foi ao interior entregar o título de cidadão ituano ao empresário José Eduardo Bandeira de Mello, de 78 anos, seu amigo pessoal e ex-sócio num escritório de advocacia na década de 1960. Acompanhado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e pelo ministro tucano Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, e quatro deputados federais, Temer chegou de helicóptero. Após desembarcar no Quartel do Exército, seguiu para a prefeitura, onde ocorreu a cerimônia.
No discurso, lembrou sua ligação com a cidade. Além de ser natural de Tietê, cidade vizinha, Temer foi professor e diretor da Faculdade de Direito de Itu (Faditu). “A vinda para cá revela aspecto familiar. Sou aqui da região e me sinto em casa. Itu deixou sua marca na história do movimento republicano”, disse o peemedebista.
Segundo ele, a “fórmula” inaugurada em Itu deveria servir de exemplo para impedir o crescimento de movimentos centralizadores. “O ideal seria que nunca tivéssemos essa centralização, o autoritarismo em certo momento que houve no passado”, completou.
O presidente citou Alckmin para afirmar que o País precisa fazer a reforma federativa, além das trabalhista e previdenciária. “Quero aproveitar este auditório, este cenário, esta cidade, este município, que foi berço da República e da Federação, para dizer: vamos enfatizar também uma reforma federativa. Não apenas a reforma social, não apenas a responsabilidade fiscal, mas também uma reformulação federativa, de maneira em que Estados e municípios tenham cada vez mais autonomia, não apenas competências, mas recursos próprios para gerir essas competências”, disse.
Para o presidente, se a reforma federativa passar, o País estará “nos pautando pelos princípios da Convenção Republicana que se deu aqui em Itu”.
Protesto. A rápida passagem de Temer por Itu mobilizou um grande aparato de segurança. Cerca de 150 homens do Exército foram destacados para proteger o trajeto de 300 metros entre o quartel e a prefeitura. Viaturas da Guarda Municipal e da Polícia Militar bloquearam as ruas do entorno do prédio da administração municipal.
Ainda assim, um grupo de 20 pessoas ligadas ao PSOL e ao Sindicato dos Metalúrgicos de Itu e Região fez barulho do lado de fora. Com faixas e cartazes, gritaram “fora, Temer” e contra a reforma da Previdência. Os manifestantes foram parados numa barreira policial.
“Itu é a Mombaça do Temer”, disse o ex-vereador de Sorocaba, Osvaldo Duarte Filho. Em 1989, o então presidente da Câmara, Antonio Paes de Andrade, que assumiu a Presidência da República numa viagem do presidente, José Sarney, fez de sua cidade, Mombaça (CE), a capital federal por um dia.
O presidente deixou Itu pouco antes do meio-dia e seguiu para Brasília, sem falar com a imprensa.