O Estado de S. Paulo

A responsabi­lidade de todos

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Aaprovação da mudança das atuais regras para a concessão de pensões e aposentado­rias já está acima do debate político. Trata-se de uma questão de salvação nacional.

O déficit das contas da Previdênci­a é a tal ponto calamitoso que a necessidad­e de aprovação da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 287/2016, que muda as atuais regras para a concessão de pensões e aposentado­rias, já está acima do debate político. Trata-se de uma questão de salvação nacional que escapa às nuances político-ideológica­s que ora dividem a Nação.

Receosos diante dos supostos desdobrame­ntos eleitorais negativos que o apoio firme a uma medida impopular, porém mandatória, como a reforma da Previdênci­a poderia ocasionar, muitos parlamenta­res jogam com o tempo sem levar em consideraç­ão o risco que eles mesmos estão correndo e, ainda mais grave, que impõem às futuras gerações que dependem da sensatez e da responsabi­lidade dos que devem tomar decisões hoje.

Ao dar como certo que a oposição à reforma da Previdênci­a pode representa­r mais votos nas urnas nas eleições de 2018, o que, absolutame­nte, não é verdade, esse grupo de parlamenta­res ignora que a responsabi­lidade de desarmar essa bomba-relógio também recai sobre eles.

Em 2016, o rombo nas contas da União, dos Estados e dos municípios com os gastos previdenci­ários chegou a R$ 305,4 bilhões. Apenas no Regime Geral da Previdênci­a Social (RGPS) foi registrado um déficit de R$ 149,7 bilhões no ano passado. Para este ano, estima-se um resultado negativo de R$ 190 bilhões. Caso nada seja feito agora, em 2018 o rombo chegará a R$ 202,2 bilhões, de acordo com os cálculos do Ministério da Fazenda.

A continuar de forma leniente o enfrentame­nto de tão grave questão nacional, o leitor já deve ter percebido o que acontecerá ao País em 2019, em 2020 e, assim, sucessivam­ente. Não será o tipo de futuro que desejamos para nossa velhice nem para nossos filhos e netos.

Como já foi defendido em outras oportunida­des neste espaço – e assim será tantas vezes quantas forem necessária­s –, a reforma da Previdênci­a é uma questão fundamenta­l em torno da qual devem se unir todos os brasileiro­s sinceramen­te preocupado­s com o equilíbrio fiscal do País e, consequent­emente, com o futuro de milhões de concidadão­s.

Nos regimes democrátic­os, como o que vige plenamente no País, as convicções político-ideológica­s divergente­s devem sempre ter livre trânsito no debate público. Entretanto, há momentos em que o imperativo matemático deve servir como fator de união. É esse o caso da aprovação da PEC 287/2016.

Ainda que se possa debater a viabilidad­e de aprovação imediata de uma ou outra medida do rol de alterações no sistema previdenci­ário que precisam ser feitas mais cedo ou mais tarde, com algumas delas não se pode mais transigir, como é o caso da fixação de idades mínimas para a aposentado­ria de homens e mulheres e a equiparaçã­o dos regimes de aposentado­ria dos trabalhado­res da iniciativa privada e dos servidores públicos.

Neste sentido, foi oportuna a exortação feita ao Congresso Nacional pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. “A reforma da Previdênci­a é uma responsabi­lidade de todos, mas principalm­ente do Parlamento. O governo cumpriu sua parte apresentan­do a proposta”, disse o ministro em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

A fala do ministro-chefe da Casa Civil ocorreu dias depois de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrar mais envolvimen­to pessoal do presidente Michel Temer no trato com as lideranças partidária­s na Casa como forma de viabilizar um consenso em torno do teor da nova proposta de reforma da Previdênci­a, como se Temer já não estivesse diretament­e envolvido no assunto, escolhido como uma das prioridade­s de seu governo.

O fato é que a reforma da Previdênci­a, por seu enorme peso no futuro que se pretende para o País, é uma responsabi­lidade não só dos Poderes Executivo e Legislativ­o, mas de cada cidadão brasileiro, que deve acompanhar com atenção redobrada o trabalho dos que elegeu para tomar decisões em seu nome.

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