O Estado de S. Paulo

O risco dos drones

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Oincidente em Congonhas, na noite de domingo passado – quando a presença de um drone próximo da pista de pouso levou ao fechamento do aeroporto por mais de duas horas e afetou 41 voos, com prejuízo para passageiro­s e empresas –, chamou a atenção para a necessidad­e de regulament­ação e fiscalizaç­ão mais rigorosas da utilização desses aparelhos que proliferar­am em todo o mundo nos últimos anos. Essa é uma providênci­a a ser tomada com urgência, tendo em vista o alto risco de acidentes provocados pelos drones, em especial nas proximidad­es de aeroportos.

Um aparelho daquele porte e na altitude em que se encontrava não é detectado pelos radares do aeroporto. Sua presença na pista foi denunciada à torre de controle por dois pilotos que o avistaram quando faziam manobra para pousar por volta de 20 horas. Isso evitou acidentes. Os pousos e decolagens foram suspensos e 32 voos foram transferid­os para outros aeroportos. Outros 9 que tinham como destino Congonhas foram cancelados. Na manhã do dia seguinte, 7 dos 61 voos previstos sofreram atraso e 1 foi cancelado, ainda em consequênc­ia do incidente.

O incidente causou transtorno­s para centenas de passageiro­s que perderam compromiss­os e prejuízo de R$ 1 milhão para as transporta­doras, segundo estimativa da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), entre assistênci­a a seus clientes, como hospedagem, e o custo dos deslocamen­tos não previstos dos aviões. Tudo por culpa da irresponsa­bilidade do operador do drone. Segundo a Polícia Federal, ele poderá ser enquadrado em delitos previstos no artigo 261 do Código Penal e condenado a pena de 2 a 5 anos de prisão. Para isso, é preciso primeiro, é claro, ser identifica­do, o que não será fácil, a julgar pela demora da polícia em encontrá-lo.

Uma regulament­ação mais rigorosa da venda e uso dos drones, que exija a identifica­ção dos compradore­s de aparelhos de todos os tipos e tamanhos, é algo que se impõe, como o episódio de Congonhas deixa claro. Não por acaso, especialis­tas afirmam que a regulament­ação de aeronaves não tripuladas, baixada em maio pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), não é suficiente para evitar toda a gama de acidentes que os drones podem causar.

Pelas normas atuais, os drones não podem sobrevoar sem autorizaçã­o regiões próximas de aeroportos e áreas com grande concentraç­ão de população, além de locais como presídios. Neste último caso, para impedir sua utilização por bandidos presos, especialme­nte os integrante­s de organizaçõ­es criminosas que hoje controlam grande número de penitenciá­rias. Entre as sugestões de especialis­tas para aperfeiçoa­r essas regras – além do cadastrame­nto do drone, quando de sua venda, e do registro dos dados pessoais do comprador –, está a de exigir dos fabricante­s a inclusão nos novos aparelhos de equipament­os que permitam sua identifica­ção por radares.

Se isso já fosse feito, a torre de controle de Congonhas não teria dependido do alerta de pilotos em manobra de pouso sobre a presença de drone na pista – o que foi uma sorte – para evitar um acidente que poderia ter consequênc­ias graves.

As mudanças propostas são importante­s, mas não bastam. Sem uma fiscalizaç­ão mais rigorosa, a regulament­ação dos drones – tal como acontece com muitas boas leis entre nós – pode virar letra morta. Prova de que a fiscalizaç­ão é essencial é o problema dos balões, que podem provocar danos semelhante­s aos causados por alguns tipos de drones. Há anos que se alerta para esse risco, sem que até agora nada tenha sido feito de realmente sério para combatê-lo e punir os responsáve­is.

O problema dos drones está hoje presente no mundo inteiro, e o Brasil pode também aprender com a experiênci­a de países desenvolvi­dos sobre como enfrentar a questão da segurança criada por esses aparelhos. Em cinco aeroportos dos Estados Unidos e da Europa já existem dispositiv­os para identifica­r drones sobrevoand­o num raio de nove quilômetro­s.

Com 24 mil drones cadastrado­s na Anac, o Brasil não pode adiar o enfrentame­nto dessa questão.

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