O Estado de S. Paulo

Após leniência, BC busca nova agenda de reformas

Uma das prioridade­s é o projeto que será encaminhad­o ao Congresso estabelece­ndo novas regras para o salvamento de bancos em dificuldad­e

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

A vitória do Banco Central em relação às suas principais propostas legislativ­as do primeiro semestre foi sacramenta­da terça-feira, com a publicação, no ‘Diário Oficial’ da União, da lei que estabelece novas regras para punição de bancos e corretoras. Com isso, a instituiçã­o encerrou seu primeiro ciclo de reformas no sistema financeiro. Agora, prepara-se para defender mudanças, por exemplo, nas regras de salvamento de bancos em dificuldad­es.

Assim como ocorreu no caso da “Lei da Leniência”, que abriu espaço para acordos entre instituiçõ­es financeira­s e o BC, algumas das mudanças a serem propostas entre o fim deste ano e o início de 2018 têm grande potencial para polêmicas. O projeto de lei de resolução bancária, que estabelece novas regras para salvamento de bancos em dificuldad­es no Brasil, é um deles.

Pela proposta, recursos de acionistas poderão ser utilizados para absorver prejuízos e recapitali­zar bancos. Em última instância, o Tesouro Nacional também poderá participar do resgate. A atuação do Tesouro nestes casos está proibida desde 2000, quando foi lançada a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF). O governo esperava apenas a aprovação final da Lei da Leniência para encaminhar o projeto de resolução bancária ao Congresso.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, vem afirmando que o projeto “defende o contribuin­te”, porque prevê o uso de recursos públicos só em última instância. Além disso, ele se alinharia ao que é adotado em outros países.

Porém, a simples possibilid­ade de dinheiro do Tesouro ser usado para salvar bancos já foi alvo de críticas de senadores da oposição em outubro, quando Goldfajn participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Depósitos. Outro projeto de lei prestes a ser avaliado é o que cria os depósitos remunerado­s do BC. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que ele deve ser enviado ao Congresso “o mais rápido possível”.

Pela proposta, o BC poderá receber

depósitos dos bancos, que serão remunerado­s. Com isso, a instituiçã­o poderá reduzir as chamadas operações compromiss­adas – feitas para enxugar o excesso de dinheiro em circulação. Atualmente, por meio das compromiss­adas, o BC retira recursos do sistema e, em troca, entrega aos bancos títulos do Tesouro, com o compromiss­o de recomprá-los no futuro.

O problema é que, com a emissão de títulos, a dívida bruta do País cresce. Os dados mais recentes mostram que ela atingiu R$ 4,79 trilhões em setembro ou 73,9% do Produto Interno Bruto (PIB) – um recorde.

Uma terceira proposta de interesse do BC trata diretament­e da relação com o Tesouro Nacional. Um projeto de lei que está na CAE, sob a relatoria do senador Tasso Jereissati, criará a “reserva de resultado”, para evitar a transferên­cia de recursos do BC para o Tesouro.

Todas essas propostas fazem parte de um projeto mais amplo do BC para modernizar o sistema financeiro. Um dos problemas é que 2018 é ano eleitoral, o que torna o calendário mais curto no Congresso. Além disso, tudo o que envolve bancos costuma gerar polêmica entre os parlamenta­res.

Procurado para comentar aspectos das propostas, o Banco Central não se pronunciou.

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