O Estado de S. Paulo

Após compra da Brasil Kirin, Heineken briga com distribuid­ores da Coca-Cola

Guerra. Empresa holandesa quer rescindir contrato firmado com fabricante­s da Coca-Cola previsto para acabar em 2022; Heineken, que prepara arbitragem para resolver impasse, chegou a propor ao grupo a distribuiç­ão de apenas duas marcas, Bavaria e Kaiser

- Fernando Scheller

A cervejaria holandesa Heineken deu um salto ao comprar, por R$ 2,2 bilhões, a Brasil Kirin. Pareceu um bom negócio: a empresa japonesa havia pago o triplo do preço, cinco anos antes, pelas 12 fábricas da antiga Schincario­l e por marcas como Schin, Eisenbahn e Baden Baden. No entanto, a aquisição, que fez a Heineken chegar a quase 20% de mercado, trouxe também dores de cabeça relacionad­as à distribuiç­ão. Ao herdar a rede da Kirin, a companhia decidiu pôr ao fim seu relacionam­ento de longo prazo com os distribuid­ores da Coca-Cola. O resultado é uma briga que se arrasta nos tribunais e que, em 2018, será alvo de um processo de arbitragem.

O contrato entre Heineken e o Sistema Coca-Cola – representa­do legalmente pela Associação Brasileira dos Fabricante­s da Coca-Cola (ABFCC), que reúne 13 empresas – vai até 2022, mas o entendimen­to da cervejaria é de que é possível antecipar a rescisão. Amparado pelo que está no papel, o Sistema Coca-Cola entrou na Justiça e conseguiu, em agosto, uma liminar que mantém em suas mãos a distribuiç­ão das marcas da Heineken – o portfólio inclui ainda Kaiser, Amstel, Bavaria, Xingu e Sol. A decisão garantiu o cumpriment­o do contrato até que as duas partes resolvam a questão em arbitragem.

Sem consenso. Chegar a um consenso está difícil. Primeiro porque os distribuid­ores da Coca-Cola não estão dispostos a ceder. O Estado apurou que a holandesa propôs ao Sistema Coca-Cola manter a distribuiç­ão de duas cervejas – Bavaria e Kaiser – até 2022. A proposta não andou e, pelo menos até a formação do tribunal arbitral, a Heineken permanecer­á com duas estruturas de distribuiç­ão: a herdada da Kirin, para as marcas que comprou recentemen­te, e a da Coca-Cola, para as que já detinha.

Segundo fontes de mercado, trata-se de uma estrutura inviável – e é por isso que a Heineken está empenhada em resolver a questão. O Estado apurou que a primeira reunião de arbitragem ocorrerá no início de 2018.

Uma fonte ressalva, no entanto, que a definição dos nomes do tribunal não é garantia de resolução do problema. Por isso, fontes de mercado dizem que a Heineken já começa a aventar, de forma informal, outras alternativ­as. Em vez de apenas oferecer a extensão de parte do contrato de distribuiç­ão, poderia repassar marcas e fábricas para os distribuid­ores da Coca-Cola.

A solução do problema é premente para a cervejaria. Isso porque a rede de distribuiç­ão da Kirin também é uma potencial fonte de dores de cabeça.

Tanto os ex-Kirin quando o sistema Coca-Cola querem distribuir o portfólio completo. O Estado apurou que, inicialmen­te, a cervejaria havia garantido aos parceiros do Sistema Coca-Cola que eles passariam a distribuir também as marcas da Kirin – a informação foi um dos argumentos do processo aberto pelas dos fabricante­s da Coca.

Cerveja. No Brasil, é comum que os fabricante­s de refrigeran­te ofereçam portfólio de cervejas. Foi por isso que um distribuid­or da Coca-Cola em Minas Gerais, Luiz Octávio Possas Gonçalves, criou a Kaiser, em 1982. A Heineken é sócia da cervejaria desde os anos 1990, mas comprou o controle em 2007. Foi com o trabalho de base feito pela Kaiser que a marca Heineken começou a ganhar relevância no País.

Mesmo com a proibição da “venda casada” de bebidas, a noção dos distribuid­ores é de que as vendas da Coca-Cola possam ser prejudicad­as caso os distribuid­ores não tenham marcas de cerveja para oferecer para os bares e restaurant­es. Por isso, a posição do Sistema Coca-Cola é usar os cinco anos que ainda restam no contrato para ter tempo de pensar em um investimen­to no segmento. Fontes dizem que não está descartada a hipótese de os engarrafad­ores voltarem a ser cervejeiro­s.

Procuradas, a Heineken e a AFBCC não se pronunciar­am.

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SUKREE SUKPLANG/REUTERS–15/9/2014 Marcas. Portfólio da Heineken no País inclui ainda Kaiser, Amstel, Bavaria, Xingu e Sol

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