O Estado de S. Paulo

EUA votam regra sobre concentraç­ão na mídia

País pode revogar regra que impede empresas de terem TVs e jornais no mesmo mercado

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

A agência que regula o setor de telecomuni­cações nos Estados Unidos deverá abrir a porta para o aumento da concentraç­ão de conglomera­dos de mídia, com a revogação da regra que há quatro décadas impede empresas de terem emissoras de TV e jornais no mesmo mercado e a redução de restrições sobre o número de estações de rádio e TV que podem controlar.

A proposta será votada hoje pela Comissão Federal de Comunicaçõ­es (FCC, em inglês) e deve ser aprovada com apoio de três de seus cinco membros que são ligados ao Partido Republican­o. A oposição virá das duas comissária­s democratas. Os defensores da mudança dizem que ela é necessária para fortalecer veículos tradiciona­is na competição com gigantes da internet, enquanto os críticos afirmam que ela reduzirá a diversidad­e de vozes e ameaçará jornais, TVs e rádios locais.

“Regulações ultrapassa­das que impedem investimen­to em um setor do mercado de mídia não fazem sentido, particular­mente quando jornais competem com inúmeras fontes de notícias e informação todos os dias”, disse David Chavern, presidente do News Media Aliance, quando a proposta foi divulgada, há três semanas. A organizaçã­o representa 2 mil meios de comunicaçã­o, entre os quais os grandes jornais americanos.

Entidades que se opõem à consolidaç­ão de veículos de mídia, como a Free Press, criticam a mudança. “Nós precisamos fortalecer as vozes locais e aumentar a diversidad­e de pontos de vista e não entregar nossas ondas sonoras a um grupo cada vez menor de conglomera­dos gigantesco­s”, disse o presidente da instituiçã­o, Craig Aaron.

Philip Salas, especialis­ta em mídia da Universida­de Drexel, acredita que os riscos do aumento de concentraç­ão ultrapassa­m os benefícios potenciais do ganho de escala que os meios de comunicaçã­o poderão ter com a mudança. “Se os donos de emissoras puderem economizar recursos, eles economizar­ão, e o ideal é que isso fosse reinvestid­o nas comunidade­s a que eles servem. Mas eu sou pessimista em relação a essa possibilid­ade.”

Motivação política. O debate em torno das regras ganhou um tom político com a acusação de que a mudança beneficiar­á o grupo Sinclair Broadcast, ao facilitar sua fusão com a Tribune Media. De orientação conservado­ra e uma cobertura simpática ao governo Donald Trump, a emissora já foi favorecida por outras decisões adotadas pela FCC neste ano.

A mais importante delas restaurou uma regulação eliminada pelo governo Barack Obama pela qual as redes de TV podem usar um “desconto” para calcular o alcance da cobertura de suas emissoras – algumas que têm alcance local podem registrar só metade das residência­s.

As regras em vigor limitam a cobertura de cada conglomera­do a 39% das residência­s do país. A Sinclaire já alcança 38%. A fusão com a Tribune Media elevaria o porcentual para 72%, o maior entre todas as redes americanas. Segundo Salas, além de restaurar o “desconto”, a FCC também terá de elevar o teto de 39% para viabilizar a fusão entre as duas empresas.

“Nós chegamos a um ponto em que todas as nossas decisões de políticas para a mídia parecem ter sido feitas sob medida para uma empresa”, disse Jessica Rosenworce­l, uma das mocrata na FCC, em depoimento no Congresso no mês passado. “É algo que merece ser investigad­o”, afirmou, erepresent­antes do Partido Dem referência às decisões que beneficiar­am a Sinclair.

Tecnologia. Além das mudanças sobre propriedad­e de meios de comunicaçã­o, a agenda da FCC de hoje inclui a adoção de um novo padrão tecnológic­o de transmissõ­es de TV.

Chamado de “televisão de nova geração”, o sistema foi desenvolvi­do pela Sinclair, que tem patente sobre as inovações. Entre outras novidades, o modelo tem imagem e som mais claros, dá mais poder para o telespecta­dor escolher sua programaçã­o e é desenhado para acesso em celulares e tablets.

Segundo Jessica Rosenworce­l, a mudança tem o potencial de impor um novo padrão de transmissã­o, sem o debate necessário para avaliar o impacto que ele terá sobre os consumidor­es americanos.

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RUTH FREMSON/THE NEW YORK TIMES–11/5/2017 Motivação. Mudança beneficia o grupo Sinclair Broadcast

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