O Estado de S. Paulo

A nova geração de Champagne

- SACA ESSA ROLHA ISABELLE MOREIRA LIMA

Embora Champagne seja uma região ligada às grandes marcas como Moët & Chandon, Mumm, Perrier Jouët, Veuve Clicquot, 90% das uvas que crescem lá são cultivadas por 19 mil pequenos produtores. E a maioria vende sua produção para as grandes casas ou cooperativ­as, afinal, apesar de parecer nonsense, com o valor que se paga pela uva de Champagne, lucra-se mais com a venda da fruta do que com a produção do vinho.

Mas há uma nova geração cheia de orgulho que tem agido de modo diferente e quer dar seu nome aos rótulos. Eles têm uma cabeça meio borgonhesa e levam terroir muito em conta, usam carvalho e privilegia­m a safra ao corte.

A pequena e artesanal cave Louise Brison, em Noé Les Mallets, é um excelente exemplo desse movimento. Foi fundada em 1991 por Francis Brulez, um funcionári­o de cooperativ­a que sonhava em exportar. Cursou enologia aos 38 e lançou a marca de olho no mercado exterior. Mas, como Champagne depende mais da economia mundial do que da local, levou sustos que o obrigaram a definir padrões – como produzir só vinhos safrados, marca da casa mas contrassen­so na região onde as casas tradiciona­lmente misturam vinhos de terroirs diferentes da própria região de Champagne e de safras distintas.

Hoje, sua filha Delphine, que estudou enologia e viticultur­a, comanda a operação na maison. Ela passa 80% do ano no campo. Cada parcela de vinhedo é vinificada separadame­nte em barricas e depois a bebida fica sur lie (em contato com as borras) por cinco anos.

Como caviste, assim como o pai, também já sentiu na pele que o peso da economia mundial . Como viticultor­a, outro desafio: tem uma relação de amor e ódio com o clima. O aqueciment­o global trouxe uma melhor maturação às frutas e mais complexida­de aos vinhos; por outro lado, tem causado quebras de safra terríveis. No Brasil, é possível provar dois rótulos da Louise Brison, ambos importados pela Belle Cave (www.bellecave.co m.br) e muito gastronômi­cos. O Champagne Louise Brison Brut 2008 (R$ 325), um corte de Chardonnay e Pinot Noir, é elegante e traz, além da acidez caracterís­tica da região, as marcas de seu passado de estágio com as leveduras – panificaçã­o fina. O L’Impertinen­te Rosé 2010 (R$ 336) é curioso: um safrado não safrado, uma vez que a cave decide não expor o ano no rótulo para atender a lei de que pelo menos 10% dos vinhos de Champagne não podem ser safrados. Mais rosado do que se espera de um francês (“Nós acreditamo­s na nossa cor”, defende Francis), na taça deve ir muito além do brinde, da entrada à sobremesa.

Outros dois expoentes do movimento dos pequenos (e caros!) de Champagne são Pierre Gimonnet –prove o Champagne Cuis 1er Cru Brut NS (R$ 466,17 na Premium Wines); e Pierre Peters, importado pela Vinci – seu Extra Brut Grand Cru sai a R$ 481,68.

 ?? LOUISE BRISON ?? Só safrados. Delphine, a enóloga, não mistura safras
LOUISE BRISON Só safrados. Delphine, a enóloga, não mistura safras
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil